Gênesis 3,
8-21 2Corintios 4, 13-18 Marcos 3, 20-35
Queridos irmãos, queridas irmãs,
Amados e amadas de Deus,
Estamos diante de uma
imagem, uma bela imagem, de um jardim idílico, belo, perfeito. Lá estão o homem
e a mulher e Deus lhes fala: Onde estás? E o homem estava escondido e nu, pois
tivera a consciência de sua nudez, de seu corpo e, também, de sua fragilidade.
A vergonha perante Deus parece apontar para a perda da intimidade entre si e
com o próprio criador.
O escritor aponta este
distanciamento como a causa da hostilidade entre o homem e a mulher, da
dominação masculina sobre a mulher ( que revela um olhar machista opressor) e
olha para a realidade que enxerga – bem concretamente – na sua vida. A mulher
dá a luz com dor a sobrevivência é difícil e o homem tem de trabalhar
duramente, até a morte, até pó tornastes...
Tu és pó e ao pó
tornarás!
Aparentemente, pela
mentalidade da época, toda a realidade visível era de responsabilidade de Deus,
como prêmio ou castigo de Deus a nossos atos, mas é o homem que rompe com a
intimidade com Ele, é ele que não assume a beleza, com a inteireza de seu corpo
e de relações íntimas e saudáveis.
Deus segue a nos
perguntar: Onde estás? Estamos, conscientemente, com Deus em nosso
coração, em nossos passos, em nossos olhares? Damos graças a este acontecimento
presente amorosamente em todos os nossos encontros salvíficos? Encontros de
presença amorosa numa sociedade fragmentada, dividida, consumista e agitada,
onde estamos costumeiramente mergulhado na exterioridade, no corre corre. Não
temos tempo, costumeiramente, para usufruir, desinteressadamente, da presença e
dos olhares do cônjuge, dos filhos, dos amigos, do brincar. Não tempo tempo, e
muitas vezes sequer temos a experiência concreta da oração, da escuta do
que Deus nos pede para nossa vida, experiência que precisa de interioridade, de
silêncio, de contemplação para, quem sabe, posteriormente, tornar-se resposta
em atos ou palavras salvíficas, em entrega eucarística, em vida cristã.
Imobilizamo-nos inertes
em frente da televisão ou da internet ou a trabalhar, trabalhar, trabalhar,
para acumular o vil metal, o dinheiro – Senhor de nosso tempo e de nossos
corações – para viabilizar o consumo, o comprar, o luxo, o prazer. Até... virar
pó! Viramos pó, infelizmente em vida, nos coisificando, anulando a experiência
e a possibilidade de Deus existir e viver em nossa vida, em nossos braços, em
nossos olhares, em nossa entrega. Tornamo-nos em um nada, em objeto sugado pelo
mercado, vazios de significado e sentido...
No Evangelho de hoje
jesus é visto, até pelos seus, como um louco. Louco! E quem é o louco? Aquele
que não age em conformidade com o senso comum, que aporta novos olhares,
perspectivas e possibilidades. É claro que pode ser um olhar doentio, psicótico
e desequilibrado. Neste caso, porém, ele era assim visto porque questionou um
modo de ser, de relacionar-se com os outros, com a família, com a religião e a
lei judaica e, certamente, com o Império.
Fala Jesus, e nós já o
afirmamos qui, que Satanás é aquele que divide a comunidade, espaço de vida,
fraternidade, de partilha,do pão e também dos bens.
Perdoar os pecados,
naquele tempo, era privilégio do Templo e de seus sacerdotes.
Aristocráticos que cobravam nos rituais
de purificação. Jesus faz constantemente o movimento de ir às casas das
pessoas, à sua intimidade para lá revelar a salvação,a cura de doentes e
endemoniados. É este o lugar da revelação do Espírito Santo, no centro da vida
e da comunidade, que Marcos está vendo diante de si. É aí que podemos nos corrigir
fraternalmente, nos converter dia a dia e todo dia e é aí que podemos aprender
a ouvir a Palavra de Deus, a amar Sua presença, a sentir Seu toque, Seu sopro,
Seu alento, Seu olhar. E quem negar a comunidade, a igreja, o encontro, tão
comum hoje em dia – quando tantos acham que possuem o Espírito Santo sozinhos
ou mesmo que podem prescindir da igreja como espaço salvífico,que podem ter a
experiência com Ele estando sozinhos – está mergulhado no espírito impuro!
É por isso, pela
importância da vida em comum, local da intimidade e do encontro com Deus, que
Jesus aponta que aqueles que a seu lado estão são sua família, sua mãe. E esta
multidão, veja bem não foi escolhida por ele e, certamente, não era formada por
poderosos, privilegiados, ricos, mas dos desvalidos em busca de alento.
Em 2Corintios, 7 está
escrito: Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila, para que esse
incomparável poder seja de Deus, e não de nós.
É a realidade da igreja
nascente: é de atribulados, postos em extrema dificuldade, perseguidos mas não
abandonados, prostrados por terra mas não aniquilados. A vida de Jesus
manifestada em nosso corpo! Em vasos de argila, artesanais e frágeis, em nós.
Não somos nós que agimos mas, em nossa fraqueza e pequenez que nossos atos
podem se tornar na Graça de Deus, na Sua presença. Agimos mas em nosso agir é
Ele quem se faz presente, é dele a glória, a graça, a força,os frutos.
Acreditei, por isso
falei.
Acreditei não
dogmaticamente nem cegamente, mas pela fé que advém do testemunho do amor, da
unidade e do serviço mútuo, da luta pela justiça, pelos Direitos Humanos, da
humanidade radicalizada em um deus que se encarnou no meio de nós. E que segue
presente na Eucaristia e no Santo Espírito que sopra no meio de nós.
A certeza da
ressurreição, de Cristo e a nossa, é o fundamento de nossa vida cristã. A
experimentação de sua presença, a experiencia concreta de Deus e de seu testemunho em nossa carne e em
nossa mente é a loucura sadia que temos a oferecer a este mundo insano.
Onde estás?
Ma presença do Deus
amoroso – não o do julgamento, respirando amor e acolhimento, no meio dos que
sofrem e dos que tem a vida ameaçada, a revelar o Evangelho, a Boa notícia.
Deus aqui está! Deus conosco – Emanuel. Jesus, o Cristo, o Senhor da vida contra as forças da morte.
Deus aqui está! Deus conosco – Emanuel. Jesus, o Cristo, o Senhor da vida contra as forças da morte.
Permaneçamos na Presença
de Deus, revelando Seu olhar e toque amoroso, pela eternidade.
Amém!
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