NEOLIBERALISMO
O neoliberalismo deseja surrupiar
a esperança do coração dos homens e mulheres, e, se possível for, mata-la de
forma inexorável. Pretende, entretanto, ir além: entronizar o Deus mercado, o
Todo Poderoso.
A esperança, amiga e parceira da utopia
e das lutas para traduzir o sonho de um mundo justo, saudável e digno para
todos. Um mundo humano, enfim. Um mundo onde a natureza tenha vez, sem ser
transformada em comodities.
Os pensadores do neoliberalismo,
Hayek e Popper entre eles, sustentam que qualquer tentativa de estabelecer um
planejamento que regule ou intervenha no mercado, que proteja as relações entre
desiguais implica numa centralização do poder. Toda e qualquer coisa que cheire
a socialismo, cabal e definitivamente derrotado com o fim da URSS e do
“socialismo real” do leste europeu e da África cheira a utopia de uma sociedade
sem relações mercantis. E esta utopia é irreal, nefasta e impossível de ser
realizada, pois não é possível ter um conhecimento perfeito das forças sociais
envolvida no fluxo de mercadorias, produtos e serviços. Irrealista, portanto
irracional e o resultado é o caos, a destruição e a tirania. E aí a liberdade e
a democracia estariam em risco.
É preciso, especialmente após a
derrocada da URSS, garantir e deixar claro que o Deus Mercado é o senhor da
vida – e da morte – e das relações humanas. O “restolho” - Cuba, Venezuela,
Irã, Bolívia e Equador – há de ser eliminado com tempo, isolamento, pressão
financeira e política ou mesmo armas e golpes de Estado, explícitos ou não,
como ocorreu no Paraguai.
A sociedade é e deve ser regulada
pelo mercado e este está interligado e globalizado. É ele o único instrumento
capaz de organizar a precariedade das relações sociais e mercantis. Ocorre,
porém, que apesar de propugnar que o planejamento socialista ou estatal é
impossível e autoritário ele considera que é possível (onde, como?) pelos
mecanismos de mercado – oferta e procura, egoísmo e concorrência. Uma
concorrência que seria perfeita mas que ocorre, necessariamente entre desiguais.
O mercado funciona na medida em que esta em equilíbrio e o equilíbrio acontece
quando e apenas se o deixarmos agir sem qualquer regulação ou limite.
Mesmo que isto cause exclusões sociais e
dramas humanos, ameace a vida ou a natureza, tudo em nome da racionalidade liberal
burguesa que rege a única realidade possível – para eles, os donos dos meios de
produção e do poder. Ocorre que de nenhuma forma estas questões são
explicitadas, já que as forças sociais envolvidas estão alocadas de forma
desigual, já que o desemprego estrutural garante um exercito de “marginais” a
serem aproveitados – explorados e aviltados seria melhor dizer.
Em toda discussão neoliberal os
conceito chave adotados são desenvolvimento, crescimento do PIB, dívida,
déficit fiscal etc. Em nenhum momento são de fato discutidas as reais e
objetivas condições de vida – e morte de grande parte da população, respeitadas
apenas como consumidores.
Para Hayek o homem – visto de
forma realista – é egoísta e apenas o mercado permite a regulação entre
desejos, necessidades, oferta e procura. O mercado passa a ser um ser milagroso
que possui em si a capacidade de regular a vida e aperfeiçoar a divisão de
recursos , humanos e materiais, ainda que muitos venham a fenecer por conta
disso.
Todo e qualquer desequilíbrio
econômico ou social deve ser enfrentado de frente, rompendo com qualquer medida
que vise regular o mercado. Assim é que o capitalismo se reinventa, adotando um
rigoroso esforço: rigoroso equilíbrio fiscal, para pagamento das dívidas contraídas;
programa de reforma administrativa , previdenciária e fiscal, para diminuir a
prestação de serviços e gastos estatais e “desonerar” o Estado; flexibilizar as
relações de trabalho; a privatização de estatais e do serviço público com o
consequente aumento de preços assim como a abertura do mercado para as empresas
transnacionais. Evidentemente o direito de propriedade é intocável, mesmo o
latifúndio improdutivo e a desnacionalização do país.
Desnacionalização feita mesmo que
ferindo a autonomia e a democracia liberal, como acabamos de ver na Grécia,
onde os gestores de sua economia foram indicados pelos c redores, a despeito
dos desafios e necessidades da população.
Os gestores desta economia
antipopular, entretanto, devem contar com a resistência crescente dos
movimentos populares, até por falta de alternativas e pela própria luta pela
sobrevivência, que acaba de organizar novas alternativas e caminhos, num caudal
que insiste em alimentar a esperança.
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