Cidade do Vaticano (RV) - Encontravam-se também presentes na missa
solene de abertura do Ano da Fé, presidida na manhã desta quinta-feira por Bento
XVI, os participantes do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano com o tema
"A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".
Na tarde de
quarta-feira teve lugar o pronunciamento do Arcebispo de Cantuária e Primaz da
Comunhão Anglicana, Dr. Rowan Williams. Tratou-se de um dos pronunciamentos mais
significativos do encontro.
Eram 18h locais quando Bento XVI entrou na
Sala do Sínodo para ouvir o Primaz da Comunhão Anglicana. Tendo entrado de modo
discreto, o Santo Padre colocou-se a ouvir o primaz anglicano, que fez um
pronunciamento de amplo alcance.
O primeiro olhar do líder anglicano
voltou-se para o Concílio, definindo-o "o sinal de uma grande promessa, o sinal
de que a Igreja era suficientemente forte para fazer perguntas pertinentes sobre
a adequação da própria cultura e das suas estruturas" para a complexidade do
mundo moderno.
Na prática, disse o arcebispo anglicano, o Vaticano II foi
uma redescoberta da paixão evangélica, concentrada na renovação e na
credibilidade da Igreja no mundo.
Mas há um aspecto particularmente
importante que o Concílio evidenciou, ressaltou o primaz anglicano: trata-se da
antropologia cristã, ou seja, o compreender que proclamar o Evangelho significa
dizer que é possível ser verdadeiramente humanos, criados à imagem da humanidade
de Cristo. Nesse sentido, a fé católica e cristã representa "um verdadeiro
humanismo".
Nessa ótica, ressaltou o arcebispo de Cantuária, a
contemplação – isto é, o esquecer-se de si para olhar para Deus e para o próximo
– representa a única resposta ao mundo" irreal e louco" criado pelos sistemas
financeiros. E viver de modo contemplativo significa realizar um ato
"profundamente revolucionário" porque significa aprender aquilo que nos serve
para viver com fidelidade, honestidade e amor.
Portanto, justiça e amor
caracterizam o rosto dos cristãos. E o primaz anglicano citou o exemplo das
comunidades de Taizé, de Bose, das grandes redes espirituais como Santo Egidio,
os Focolarinos de Chiara Lubich, Comunhão e Libertação: todas abertas a uma
visão humana mais profunda, porque todas com o objetivo de tornar viva a
realidade de Jesus.
Em seguida, o arcebispo de Cantuária abordou o tema
do ecumenismo espiritual e reiterou que quanto mais os cristãos se distanciam
uns dos outros, mais o rosto da nova humanidade se mostra menos
convincente.
Nesse sentido, uma autêntica iniciativa de evangelização
deverá ser sempre uma evangelização de si mesmo enquanto cristãos, uma
redescoberta da fé que transfigura, um itinerário – não ambicioso, mas conduzido
pelo Espírito – rumo à maturidade em Cristo, para tornar o Evangelho "atraente"
aos homens do nosso tempo, na "alegria da comunhão".
Antes do
pronunciamento do Arcebispo Williams, a Sala do Sínodo havia escutado outras
numerosas reflexões, sobretudo, sobre o diálogo inter-religioso, que se inicia
sempre – observam os Padres sinodais – com a afirmação das próprias convicções,
sem sincretismo ou relativismo.
Portanto, diante de seguidores de outras
religiões com uma forte identidade religiosa são necessários cristãos motivados
e preparados do ponto de vista doutrinal, capazes de responder sobre a própria
fé com simplicidade e sem medo.
É claro, evidenciou o Sínodo, não se
trata de colocar a fé cristã entre parênteses, de recuar diante das perseguições
e das discriminações.
Aliás, é preciso denunciar com veemência a
violência que fere e que mata, mais inda injustificada quando se protege atrás
de uma religião.
Todavia, ponderam os Padres sinodais, existem sinais
positivos de amizade e fraternidade entre fiéis, como na Turquia, onde um coro
formado por membros de cinco confissões entoam juntos cantos religiosos uma das
outras, numa ótica que inspira a paz, encoraja a solidariedade, promove a
justiça e defende a liberdade.
Por outro lado – é a consideração da
Assembléia sinodal –, hoje o mundo e também o lugar da Igreja no mundo mudaram;
sonhar o retorno da cristandade é uma ilusão. Porém, a Igreja não deve temer
expor-se ao olhar da sociedade, mas tem a obrigação de ser uma testemunha que se
pode ouvir e que seja crível.
O que se pode fazer, portanto? O Sínodo
sugere formar sacerdotes capazes de serem verdadeiras testemunhas da fé; ajudar
os catequistas, para os quais se auspicia a criação de um ministério estável;
seguir o exemplo dos missionários, que encontram Deus em todas as coisas;
evangelizar as famílias, base da sociedade.
Porque hoje não bastam a
ciência, os documentos, as estruturas eclesiásticas: para responder às perguntas
mais profundas do homem é necessário tocar o seu coração. E isso é possível
mediante a mensagem da Divina Misericórdia, capaz de formar cristãos zelosos e
responsáveis, portadores de sentido e de esperança para a humanidade, afirma o
Sínodo.
No fundo, concluiu a Sala sinodal, a nova evangelização é uma
"aventura espiritual" que não quer improvisações, mas uma conversão dos corações
em nível pessoal, comunitário e institucional, no contexto do nosso tempo.
(RL) |
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