Texto feito por mim para homilia a ser feita amanhã na Paróquia Anglicana Santa Cruz. Pode haver algum erro de português. Perdão!
Jer. 1, 4-10 I Cor. 14,12 - 20 Lucas 4, 21 - 32
Queridos e queridas, amados
e amadas por Deus,
Na semana passada vimos que
Jesus fora ungido pelo Espírito de Deus, impregnado por sua força, que o enviou
a espalhar a Boa Nova aos pobres, cativos, cegos e oprimidos. São os que ele
traz no mais fundo de seu coração.
Somos chamados a seguir a
Jesus, viver no Espírito de Jesus. A igreja – e somos Igreja – deve se ocupar
com os que sofrem – é delas a igreja de Jesus – ou não somos e nem seremos
jamais cristãos. Devemos semear liberdade, luz – um novo olhar sobre a vida e o
viver – e graça.
A prática de Jesus não é
focada no pecado das pessoas, mas no sofrimento que arruína suas vidas. O
teólogo Joham Baptist Metz denuncia o grave deslocamento ocorrido no
cristianismo: “a doutrina cristã da salvação dramatizou demasiadamente o
problema do pecado, enquanto relativizou o problema do sofrimento”.
Nazaré era uma aldeia
pequena, com cerca de 300 pessoas, todos conheciam a Jesus, um homem afinal de
contas. Queriam que provasse, por milagres, ser um homem de Deus. Já naquela
época pensavam apenas em si mesmos, em seu bem estar, em vantagens para si
mesmo. Confundiam milagres, vitórias, curas com a prática amorosa de Deus.
Jesus cura, protege, guia,
mas não é este o cerne, o centro de sua fala ou vida, mas a prática e a
construção do Reino de Deus. É a inclusão de todos na vida, é o carinho e o
amor a todos, é enfrentar a hipocrisia moralista e legalista, é ir contra as
estruturas religiosas e politicas que oprimiam o povo e gerava sofrimento.
Todo profeta gera problemas,
pois nos confronta com a verdade de Deus e exige mudança de postura. Jesus não
age como sacerdote, como mestre da lei, mas como profeta. Ao contrário dos reis
e sacerdotes, o profeta não é nomeado nem ungido por ninguém. Sua autoridade
provém de Deus, empenhado em guiar, proteger e servir aos sofridos, sua
autoridade vem do próprio agir salvífico de Deus no tecido social.
Quando a religião se cristaliza,
se mumifica, se esteriliza, se alia aos poderosos, Deus envia um profeta para
sacudir estas estruturas.
Uma igreja cristã é uma
igreja profética. Peçamos a Deus que envie seus profetas e saibamos acolher Sua
palavra e converter nossas estruturas.
Nossa igreja, a Anglicana,
tem algumas coisas absolutamente fantásticas. Olhemos para sua estrutura e
veremos que o Santo Espírito operou de forma especial nela. Temos um bispo e
uma comunhão de bispos e dioceses. Este bispo é eleito por leigos e clero, de
forma paritária. A diocese, em todos os seus fóruns decisórios, é movida por
estruturas coma presença paritária de clero e leigos. Assim deve ser, governo e
decisões colegiadas, participativas, transparentes, fraternas, unidas.
Parece que às vezes nos
esquecemos de olhar, perceber e viver o que estas estruturas nos dizem na própria forma de
ser no dia a dia. Recordemos nossa vida, nossa história, nossa gênese. Recordemos
nossa rebeldia, nossa capacidade de nos rebelar ao que não é evangélico, ao que
não é fraterno, ao legalismo estéril. Fidelidade à nossa história, ao nosso
amor, ao Jesus Salvador e Senhor que nos libertou para a comunhão e uma vida de
união amorosa.
Como diz o grande teólogo Pagola:
Uma igreja sem profetas corre o risco de caminhar surda aos apelos de Deus à
conversão e à mudança. Um cristianismo sem espírito profético corre o perigo de
ficar controlado pela ordem, pela tradição ou pelo medo da novidade de Deus.
A presença cristã deve
incomodar. Sua vida deve ir contra a corrente cultural, estar em desacordo com
os valores sociais imperativos. É muito mais fácil sermos convencionais,
instalar-se comodamente na vida e viver aí a consumir e a consumir-se.
Jesus é um profeta, um Deus que se encarna ao ponto de ser condenado a ser morto e morte de cruz. Um Deus
que mostra que mesmo pessoas que não pertencem ao povo eleito de Israel são
apreciadas e agraciadas pelo amor de Deus. Todos são seus filhos e filhas. Somo
enviados a ser Boa Nova a todos e todas, onde a vida se fragiliza e está
ameaçada. Deus é maior, não se ajusta aos nossos esquemas e discriminações.
E aí, meus irmãos, devemos
agir com humildade e inteligência. A segunda leitura de hoje bem nos adverte
que todo nosso agir deve estar a serviço de toda comunidade, à edificação do
outro, qualquer que seja este outro. O falar em línguas é menos importante que
o entendimento e o serviço aos outros, que a revelação, a profecia, o
ensinamento a todos e a cada um. É a serviço do outro, é o amor ao outro, ao
diferente, ao que incomoda, a todos a nossa volta que atesta a vida cristã, o
seguimento do Cristo, nosso grande amor e Salvador.
Jeremias foi um homem
chamado por Deus para servir seu povo na dura missão de ser profeta. Jeremias é
da cidade de Anatot, que é uma cidade do Reino do Norte – Israel – que fora
invadida pelos Assírios em 722 A.C., aproximadamente um século antes de sua
vida. A tradição religiosa do Norte era menos ligada ao Templo e guardava um
caráter mais popular, livre, comunitário e camponês, em que a experiência
libertadora do êxodo era mais marcante do que a centralidade do Templo. Era de
origem camponesa.
Pois bem, deus o consagrou
desde o ventre. O consagrou não para ser melhor que os outros, não para ser
mais puro ou poderoso. O consagrou para ser profeta, para denunciar a opressão,
o sofrimento, à idolatria dissimulada, o esquecimento de Deus em nossas vidas e
relações.
Ele, como nós, logo arrumamos
desculpas. A vida normal é tão mais simples, cômoda, tranquila. Deus,
entretanto chama, capacita e protege àqueles que carrega em seu coração e
caminho. Não acredito que escolhe eleitos ou santos. Escolhe os mudos, os
gagos, os jovens, os fracos, os incapazes, os sofridos, os pecadores, os sem
nada que acolhem Sua Palavra e topam o desafio de ajudar a construir um mundo
mais fraterno e amoroso. Sua palavra nos chama, nos penetra, nos invade e nos
obriga a agir. Um agir que deve afrontar estruturas de pecado, de opressão, de
busca de poder, estruturas de iniquidade. Estruturas pecaminosas...
Minas irmãs, meus irmãos,
somos todos chamados a sermos profetas e servos de Deus. Não nos escondamos em
nossa evidente pequenez, em nossa fraqueza ou em nossa idade. Não nos
conformemos com uma vida comum. Deus te chama para fazer diferente, ser
diferente, fazer diferença, dar sabor ao mundo e ao tecido humano. Sejamos
abusados, entreguemos nossas vidas, corpos e mentes ao senhor para enfrentar as
forças da morte. Façamos de nossa vida, toda ela, a todo tempo e lugar, uma
oferta santa a Deus e aos que sofrem.
E, não se esqueça, ou somos
uma igreja profética ou não somos cristãos. Profética e mística, que carrega a
experiência de Deus.
Tenha coragem, coragem que
vem da fé, fé que vem do encontro com o Senhor da experiência de Deus.
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