Em qual templo servimos? A qual
Deus servimos? Qual o nosso coração?
Consumir faz mal à sua saúde... e à do planeta - Esther Vivas
Sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 - 16h14min
por Adital
"A mulher, desesperada em obter as
melhores ofertas na loja Wal-Mart, jogou spray de pimenta nas pessoas
que esperavam, com a intenção de afastá-las da mercadoria que ela
queria". Essa poderia ser uma cena de um filme de Pedro Almodóvar, se
não fizesse parte da realidade, e tal relato foi publicado no jornal Los
Angeles Times, edição de 25/11/2011.
Diante disso, poderíamos sugerir que na frente de
grandes centros comerciais, e mais ainda nas épocas de descontos, fossem
colocados grandes painéis advertindo "consumir prejudica gravemente sua
saúde", no mais puro estilo das autoridades sanitárias, pois o
consumismo irracional, supérfluo e desnecessário, promovido pelo sistema
capitalista, não somente pode afetar de maneira inesperada e
contundente nossa saúde via "ataque de spray pimenta", mas, sobretudo,
pode afetar a "saúde" do planeta.
Um exemplo: se todo mundo consumisse como um
estadunidense médio consome seriam necessários 5 planetas Terra para
atender à nossa voracidade. Porém, o planeta Terra é só um... Nos
acostumamos a viver sem levar em consideração que habitamos um mundo
finito e o capitalismo encarregou-se muito bem disso. Progresso é
associado a sociedade de consumo; porém, teríamos que perguntar:
progresso para quê e para quem e à custa do que e de quem.
Os cantos de sereia da modernidade nos dizem que
consumir nos tornará mais felizes; porém, tal felicidade nunca chega por
mais que compremos. "Afoga tuas penas com uma boa compra" parece o
slogan do capitalismo de hoje; porém, nossa insatisfação nunca é
satisfeita. A felicidade não chega por conta do talão de cheques.
Nos dizem que compremos óculos Channel, um ursinho
Tous ou calças compridas Mango para sentir-nos Claudia Schiffer,
Jennifer López ou Gerard Piqué. A época de vender um produto passou para
a história. Agora, como ensinam as boas escolas de marketing, nos
vendem o famoso de turno junto à promessa de "saúde, dinheiro, amor". E
nós, encantados, pagamos o preço de nossos sonhos.
Nos vendem o anedótico como imprescindível e o banal
como necessário e criam em nós uma serie de necessidades artificiais.
Trocar o guarda-roupa a cada temporada, um automóvel de última geração,
uma televisão de plasma etc. etc. Com o monte de resíduos tecnológicos,
de vestir, eletrônicos... que descartamos e que passam a engrossar as
pilhas de lixo nos países do Sul, contaminando as águas, a terra, e
ameaçando a saúde de suas comunidades.
Ou o sistema contra-ataca com sua obsolescência
programada..., planejando a data de caducidade de tudo aquilo que
compramos para que ao cabo de um tempo X se estrague e tenhas que
adquirir um novo. Para que uma lâmpada que nunca se apaga, umas meias
sem fio puxado ou uma máquina que não funciona? Mal negócio. Aqui, só
ganha quem vende.
Talvez seja hora de propormos que podemos "viver
melhor com menos". E ser conscientes de como nos querem tornar cúmplices
de um sistema que nos impuseram e que somente beneficia aos mesmos de
sempre. Nos dizem que existe sociedade de consumo porque queremos
consumir; porém, além de nossa responsabilidade individual, que eu
saiba, ninguém escolheu essa sociedade onde temos que viver, ou pelo
menos ninguém me perguntou se estou de acordo. Desde que nascemos até a
terceira idade nos bombardeiam com o "comprar, comprar, comprar". Agora
nos dizem que sairemos dessa crise "consumindo". Eu me pergunto se
"consumindo" ou "consumindo-nos".
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