Há quem veja o óbvio apenas agora! Mas, pior do que isto, é que as nossas igrrejas ainda não viram o óbvio, as pequenas comun idades que refletem o evangelho e vivem o amor ao próximo, em especial aos mais fracos e esquecidos, a partir de uma reflexão madura, concreta e realista do Evangelho- que , na prática não temos...
Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja - José Pagola
Sexta-feira, 18 de maio de 2012 - 10h47min
por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 16,
15-20 que corresponde ao Domingo da Ascenção do Senhor, ciclo B do
Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola
comenta o texto.
Eis o texto
NOVO COMEÇO
Os evangelistas descrevem com
diferentes linguagens a missão que Jesus confia aos seus
seguidores. De acordo com Mateus, hão de "fazer discípulos"
que aprendam a viver como Ele os ensinou. De acordo com Lucas, hão
de ser "testemunhas" do que viveram junto Dele. Marcos
resume tudo dizendo que hão de "proclamar o Evangelho a toda a
criação".
Quem se aproxima hoje de uma
comunidade cristã não se encontra diretamente com o Evangelho. O
que se percebe é o funcionamento de uma religião envelhecida, com
graves sinais de crise. Não podem identificar com clareza no
interior dessa religião a Boa Nova proveniente do impacto provocado
por Jesus há vinte séculos.
Por outro lado, muitos cristãos
não conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e
da sua mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e
fragmentária escutando catequistas e pregadores. Vivem a sua
religião privados do contato pessoal com o Evangelho.
Como poderão proclamá-lo se não
o conhecem nas suas próprias comunidades? O Concílio Vaticano II
recordou algo demasiado esquecido nestes momentos: "O Evangelho
é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua vida para a
Igreja". Chegou o momento de entender e configurar a comunidade
cristã como um lugar onde o principal é acolher o Evangelho de
Jesus.
Nada pode regenerar o tecido em
crise das nossas comunidades como a força do Evangelho. Só a
experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a
Igreja. Dentro de alguns anos, quando a crise nos obrigue a
centrar-nos apenas no essencial, veremos com clareza que nada é
mais importante hoje para os cristãos do que nos reunir para ler,
escutar e partilhar juntos os relatos evangélicos.
O principal é acreditar na força
regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a
fé, não por obrigação mas por atração. Fazem viver a vida
cristã, não como dever mas como irradiação e contágio. É
possível introduzir já nas paróquias uma dinâmica nova. Reunidos
em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos recuperar a
nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.
Temos de voltar ao Evangelho como
novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia
pastoral. Dentro de uns anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus
não será uma atividade a mais entre outras, mas a matriz desde a
qual começará a regeneração da fé cristã nas pequenas
comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.
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