Ezequiel 31, 1-6. 10-14 II
Corintios 5, 1-10 Marcos 4, 26-34
Que
belos textos! Que belo tecido formam unidos a nosso coração!
No
caminhar que nos apontam, há a história do cedro, contada ao faraó do Egito, e
hoje também contada a ti, a nós. Grandioso, forte, altivo! Pois bem, o Senhor Iahweh
o rejeitou!
Na
segunda Carta aos Coríntios temos, já no capítulo 4, que lemos uma parte na
semana passada, a noção de que somos vasos de argila, frágeis e passageiros.
Estavam os cristãos atribulados por todos os lados, mas não esmagados, postos
em estremas dificuldades, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não
abandonados, prostrados por terra, mas não aniquilados. Aqui fala mais, que a
obra de Deus não é feita pelas mãos humanas. Como diz no final do texto do
capítulo 4: Não olhamos para as coisas
que se vêem, mas para as que não se vêem: pois o que se vê é transitório, mas o
que não se vê é o eterno. Aponta sim para o futuro escatológico, para a
nossa ressurreição.
Queremos,
entretanto, alargar nossa reflexão.
Há
homens cheios de poder, de prepotência, de arrogância. Apoiados pelo poder
político, pelo seu dinheiro, pela mídia, pela casa protegida, pelo carro
blindado. Todos seguem mortais, frágeis ontologicamente... Há também, aqueles que se acham acima dos mortais, cheios
de si, fundados e arraigados numa fé fundamentalista e arrogante, em chavões
religiosos vazios, que têm a certeza de sua salvação e de que o único caminho
válido é o seu, que saem por aí a julgar a todos a bel prazer. Apenas toleram o
diferente, não sabem, de fato, o que é amor, talvez mergulhados num medo que
exige certezas fáceis e pouco exigentes.
Temos
nos textos de hoje a clara colocação de que o poder não é o vaso onde as coisas
de Deus crescem.
No
Evangelho de Marcos há a semente lançada pelo homem, que não vê seu
crescimento. A ele o trabalho é pequeno: lançar
a semente! |O Reino de deus possui em si mesmo uma força secreta que o
leva até a sua plena realização. O grão de mostarda é a menor de todas as
sementes, mas cresce, e cresce, cresce muito!
Não
somos, quando nos colocamos nos braços do Senhor, nós que agimos, mas Ele mesmo.
Há um conceito no hinduísmo que é o de Karma Yoga. Yoga é caminho. Karma é
ação. Karma Yoga é o caminho de ação como meio de chegar a Deus. Não se trata
de cair no ativismo ou de se olhar o Senhor da história a partir de conquistas
atingidas, de resultados, já quer esta é a lógica da eficiência, a lógica
capitalista. Este é um caminho que nos afasta
do Senhor da vida. Os que se intitulam apóstolos ou “servos especiais” do
Cristo a muito se afastaram do deus que se imolou na cruz, que se fez serviço e
amor salvífico. Karma Yoga é atuar em todas as coisas, em todas as mínimas coisas
tendo a convicção, a certeza e o sentimento de que não somos nós que agimos,
mas o próprio Deus e a Ele os resultados e a Glória. No mundo de hoje, até em
discursos religiosos, a s bênçãos e conquistas é o que importa. Quanta prisão!
Se, entretanto, agirmos como uma reles vassoura nas mãos Dele, os resultados –
sucesso ou fracasso – não nos pertencem mais, a vanglória, o sucesso e a vaidade
sumirão, as angústias e ansiedades perdem sentido. A nossa vida acaba por
tornar-se cheia de cor, alegria, poesia. Tudo é Graça, percebida como Graça e
gratuidade. Poderemos ter olhos para ver as flores, que pelo caminho vão
surgindo, e colher e sentir seu aroma, uma a uma.
A
Glória de Deus não nos pertence, a Sua presença acontece, apesar de nós e nas nossas fragilidades. Não se dá apenas
por cuidarmos e servimos a vida e o povo que sofre, no seguimento dos passos do
Mestre. O acontecimento Dele se dá
pelo serviço à vida num mundo de morte, mas num serviço não mecânico, no amor
Sacramento, quando o outro é visto como o próprio Cristo a ser amado, adorado e
louvado. Em pequenas sementes, em canções e poesias, pequenas e
insignificantes, que apontam, testemunham a insistência de sua presença aqui,
agora e eternamente.
Queridos
irmãos, queridas irmãs,
Mesmo
com uma fé pequena, pequenininha como o grão de mostarda, possamos nos permitir
sermos regados todos os dias pelo rio da Palavra – alimento salvífico. Tornemo-nos
alimento, milho, pão e vinho. Sejamos digeridos, “sumidos”, transformados em
fermento, que não se vê. Sejamos poesia, inútil, mas que canta e rega sonhos,
que expressa o inefável, o Amor, o próprio Deus.
Sejamos
sempre, sempre e sempre, para sempre, pequenos e humildes vasos nas mãos do
Santo oleiro, o Santo Espírito.
Uma
música simples.
O
Evangelho de vida para o mundo inteiro, para todos, em que sejamos, mesmo, uma
grande família, sem excluídos, sem esquecidos.
Um
vaso novo.
Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário