Isaias 61, 1-5 1Corintios 12, 1-11 João 2, 1-11
Homilia, com pequenas modificações, feita na celebração do batismo de nosso Senhor Jesus, no segundo domingo depois da epifania na Paroquia Santa Cruz, em São Paulo
Celebramos hoje uma festa
solene, a festa do batismo de Nosso Senhor, o Cristo Jesus.
Os textos bíblicos de hoje
falam – ou deveriam falar – de uma forma especial a cada homem ou mulher na
face da terra.
O primeiro texto fala de um
servo de Deus – Servo! Que promoverá
o direito, que será colocado como aliança de um povo com Deus e luz para as
nações. E mais> “para abrir os olhos aos cegos, para tirar os presos da
cadeia e do cárcere ao que vivem no escuro. Muitas vezes hoje vejo alocado nos
carros e discursos a frase “Deus é fiel”!”
Óbvio que é uma verdade, mas o centro de nossas vidas deve ser pautado por
nós servirmos a Deus, a seu projeto, às suas ordens, à seu caminho, expressos
na figura, presença, vida, palavras e atitudes de Jesus. Jesus é o grande e
obediente Servo e assim nós, humildes e fracos, também devemos ser.
Nossa igreja, a anglicana, nesse
aspecto, é muito sábia. É ponto e local de encontro, espaço não de julgamento,
mas de inclusão e amor, não de divisão, mas de diálogo amoroso, não de discursos
fáceis, mas de posturas inovadoras e corajosas, que testemunham Sua presença
entre nós. Ainda que alguns insistam em estar em luta por seus interesses e espaços
eclesiais, em detrimento da coletividade, a estrutura e as posturas coletivas
estão a testemunhar o acolhimento dos gays, negros, mulheres, japoneses, imigrantes.
Em Atos Pedro reafirma: Deus
não faz diferença entre as pessoas, mas aceita quem o teme e pratica a justiça.
E revela que no batismo Deus ungiu a Jesus Cristo com o Espírito Santo e com
poder. Com poder, mas preste atenção, pois não se trata de um poder qualquer ou
para fazer qualquer coisa ou para ter conquistas, vitórias ou compras, mas para
praticar o bem e curar os que estavam dominados pelo diabo.
No Evangelho o povo estava
esperando o Messias, o Salvador. Ainda hoje quantos estão a perambular
doloridos, esmagados, deprimidos, desolados ou escravos de um prazer doloroso
ou fulgaz, preso no instantâneo a consumir e consumir-se, a transformar-se ele
também em mercadoria a venda, preso à atenção estética e a superficialidades.
Jesus foi batizado. O
batismo de João era um batismo de conversão e perdão dos pecados. O batismo de
Cristo, entretanto, é um batismo no Espírito. Um batismo em que o Espírito
desceu sobre Ele na forma corpórea – bem concreta e visível. Deus se fez corpo,
Deus se fez história, temos como saber como Deus quer que o sigamos e vivamos:
temos Jesus, o Cristo, o Ungido, o Verbo que se fez carne, o Emanuel – Deus conosco.
O batismo, entretanto, é
mais, muito mais, do que um ritual, implica assumir uma nova visão do mundo, um
novo olhar, uma nova forma de vida em que assumimos e experimentamos o mistério
e o ministério de Jesus, que dialoga e se relaciona com o sofrimento humano. A
preocupação central em Jesus era aliviar o sofrimento humano. E isto se deve
fazer presente na vida da comunidade, com encontro concreto e real de pessoas
amantes e amadas que vivem unidas, partilhando o que tinham “segundo a
necessidade de cada um”, na escuta da Palavra, na oração e na eucaristia. Se
aceitamos hoje o batismo de crianças é porque entendemos que seu acolhimento na
e pela comunidade cristã é o mergulho no Espírito e na experiência, na
educação, no modo de agir de Cristo, testemunhado pela comunidade, em
seguimento aos apóstolos e aos mártires Dele.
O batismo é a acolhida de
uma experiência DE Deus, experiência do Amor.
Deixamos um detalhe do texto
– pequeno mas, a nosso ver, importante a ser agora explicitado. Jesus foi batizado
e ficou a rezar. Só então o céu se abriu e o Espírito desceu. Oração. Ponto de
encontro, ponto de entrega, ponto de escuta, ponto central da vida cristã!
Central, decisivo. É aí em que tudo se decide, onde nos
alimentamos de Sua Palavra, a ser lida e meditada, onde fugimos do corre corre
e podemos desenvolver a contemplação que nos permite ver a Deus em nossas
vidas, ver a Deus no Rosto dos sofridos, ver a Deus fora das obviedades que nos
permite enxerga-lo nos pobres, desvalidos, doentes, coxos, presos, nos fracos,
nos frágeis. Porque Deus não nos ama porque somos bons, fortes, belos, mas a
fragilidade dos homens e dentre estes os mais frágeis – podemos nos sentir em
casa com todos os nossos inúmeros
pecados em Sua presença amorosa e assim nos curar e transformar.
Experiência de Deus, não de
dogmas, doutrinas, leis e códigos de conduta religiosos que em nada nos
libertam. Experiência de Deus. De liberdade, de amor que nos permite chorar juntos,
nos alegrar juntos, cantar juntos – em espírito e verdade, com todo o nosso
ser!
Uma Igreja e uma experiência
– pessoal, comunitária e social – evangélica, carregada de Boas Novas, que seja
celebração do batismo – experiência com o Espírito Santo de Deus e um viver e
reviver de nosso grande amor o encontro com Jesus!
Temos sido em nossas vidas testemunho
de alegria e da força do encontro com o Senhor?
Será que temos refletido e
vivido a experiência com Deus que nos salva, dá sentido e direção, molda nosso
coração com Sua face e gera a “seiva” que alimenta nosso viver?
Que Deus nos abençoe, nos
guie e nos guarde para que possamos re-conhecer Sua presença em nossa vida e
sermos fiéis, eternamente, aos desdobramentos deste encontro.
Minas queridas, meus
queridos, a Eucaristia é sempre missão. Jesus que vive entre nós e em nós na
Eucaristia nos dá força para sair para o mundo e levar boas novas aos pobres,
visão aos cegos de todo tipo e naipe, liberdade aos presos e proclamar e
testemunhar Que Deus mostrou sua generosidade a todas as pessoas. Não vamos
sozinhos, vamos com nossos irmãos e irmãs que também sabem que Jesus vive
neles.
Ide e testemunhai a
experiência com Deus entre os homens, sede a presença do Santo Espírito a
soprar e a agraciar a vida de todos.
Amém.
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