Um gesto pouco religioso - José Pagola
Sexta-feira, 18 de janeiro de 2013 - 12h47min
por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2, 1-11 que corresponde ao II Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Eis o texto

Naquelas aldeias pobres da Galileia, a festa de casamento era a mais apreciada por todos. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos comendo e bebendo com eles, bailando danças festivas e cantando canções de amor.
O evangelho de João diz-nos que foi no meio de um destes casamentos onde Jesus deu o “primeiro sinal”, o sinal que nos oferece a chave para entender toda a Sua atuação e o sentido profundo da Sua missão salvadora.
O evangelista João fala-nos de “milagres”. Aos gestos surpreendentes que realiza Jesus, chama-lhes sempre “sinais”. Não quer que os seus leitores fiquem no que possa haver de prodigioso na sua atuação. Convida-nos a que descubramos o seu significado mais profundo. Para isso oferece-nos algumas pistas de carácter simbólico. Vejamos apenas uma.
A mãe de Jesus, atenta aos detalhes da festa, dá-se conta de que “não lhes resta vinho” e diz ao seu Filho. Tais vezes, os noivos, de condição humilde, viram-se inundados pelos convidados. Maria está preocupada. A festa está em perigo. Como pode terminar um copo de água sem vinho? Ela confia em Jesus.
Entre os camponeses da Galileia o vinho era um símbolo muito conhecido da alegria e do amor. Sabiam-no todos. Se na vida falta a alegria e a falta de amor, em que pode terminar a convivência? Maria não se engana. Jesus intervém para salvar a festa proporcionando vinho abundante e de excelente qualidade.
Este gesto de Jesus ajuda-nos a captar a orientação de toda a sua vida e o conteúdo fundamental do seu projeto do reino de Deus. Enquanto os dirigentes religiosos e os mestres da lei se preocupam com a religião, Jesus dedica-se a fazer mais humana e leve a vida das pessoas.
Os evangelhos apresentam Jesus concentrado, não na religião, mas na vida. Não é só para pessoas religiosas e piedosas. É também para quem ficou decepcionado pela religião, mas sentem necessidade de viver de forma mais digna e ditosa. Por quê? Porque Jesus contagia fé num Deus em quem se pode confiar é com Ele que se pode viver com alegria, e porque atrai para uma vida mais generosa, movida por um amor solidário.
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