Feita, com pequenas alterações e comentarios no dia de natal na Paroquia Santa Cruz.
Meus queridos, minhas
queridas,
Irmãos e irmãs em Cristo Jesus ,
Nasceu! Nasceu o menino
Jesus, frágil e sem teto. Há cerca de 2000 anos esta criança feriu de amor a
história da humanidade.
Muitos, ontem e hoje,
consideram a festa de hoje como a festa da família – sua família pequena e
restrita. Devo dizer, mesmo sujeito a não agradar a todos, que isso não é
verdade. Não para nós os cristãos, assim como não é dia de comilança,
presentes, bebedeira, licenciosidades. Não para nós os cristãos!
Para nós o dia de hoje é de
celebração, e uma celebração especial em que festejamos a fecundação definitiva
da presença do Senhor em nosso meio que nos salvou por sua vida, por seu
caminho, pelos seus sacramentos – instrumentos especiais da graça de Deus, pela
construção de Sua Igreja, testemunho salvífico da Sua obra.
Celebração, celebração
especial. Mas o que é uma celebração? É o rememorar, o reviver, o reafirmar a
experiência do primeiro, grande e definitivo Amor. Do Deus que se fez humano
para que os homens pudessem se tornar sagrados, se divinizarem enquanto
humanos.
Já no primeiro texto de hoje
se fala que a boa noticia anuncia a paz, anuncia a salvação. Uma salvação que
implica o viver, um viver bem concreto e objetivo a partir dos valores do
Cristo Jesus, de Sua prática, de sua vida e de suas palavras. Trata-se,
portanto, de uma experiência pessoal irresistível que nos toma e possui, que
não nos torna melhor do que ninguém, mas, pelo contrário, nos reconhecemos
iguais, frágeis e fraternos. Tomados pelo Amor e pelo serviço Dele nós
mergulhamos na própria felicidade, na própria humanidade revisitada e
transformada, transfigurada. Nosso olhar, nossa vivência passa a ter nova cor,
nova densidade, a contemplação da Sua presença.
Deus falou aos antepassados
por meio dos profetas, mas a nós de forma especial e transbordante por meio de Jesus,
o Cristo, o Ungido, a irradiação de Sua glória, de Si mesmo.
A Palavra que estava com
Deus, que era Deus mesmo se fez carne, habitou entre nós. Habitou como homem,
homem simples, frágil, pobre – sem poder. A
Deus ninguém jamais viu mas
temos a Jesus, sua vida, sua obra, suas palavras e o testemunho – até de
martírio – dos apóstolos, os que com ele conviveram.
Há na tradição bíblica dois
olhares sobre o tempo. Há um, progressista, que afirma que os mais altos
valores sociais e humanos estão para serem realizados e afirmados pelo agir
humano, em especial pela ação profética, que nos implica, e o agir direto de
Deus em seu agir apocalíptico. Há porém outro olhar, pessimista, onde o tempo e
o humano são efêmeros. Este olhar está presente no dilúvio, em Jô, em Qohelet,
que afirma: “tudo é vaidade... O sol se levanta, o sol se põe e se apressa para
voltar a seu lugar...não há nada de novo sob o sol.” O salmista do salmo 89
afirma que “lembra-te de como a minha vida é um nada (cheled)” e o do 49 fala
“somos habitantes do vazio”. O tempo do cheled expressa o vazio do mundo, de
vida, da ausência de sentido.
Mas a Palavra de nosso Deus
subsiste para sempre – Isaias 40, 6-8. E a palavra se fez carne,tem nome cara,
cor, rosto. É Jesus a Palavra viva que nos dá sentido.
A Palavra que estava com
Deus, que era Deus mesmo se fez carne, habitou entre nós. Habitou como homem,
homem simples, frágil, pobre – sem poder. A Deus ninguém jamais viu, mas temos
Jesus e sua vida.
Com Ele devemos de conviver – por muito tempo.
Assim como numa relação a
dois leva tempo para descobrir realmente o outro. Para descortinar a Palavra de
Deus é preciso tempo, amor, entrega, mergulho. Estar com Ele requer entrega,
escuta, disponibilidade, silêncio... Se fazer ver por Ele, abrir a Ele nossa
fragilidade, humanidade, pequenez, para que Ele se aproxime, apóie, acolha e
purifique nossa vida.
Nossa vida, nossa finitude,
nossa concreta realidade, nossa comunidade é chamada a ser testemunho e meio de
revelação de Sua presença, da presença do infinito, do Eterno.
Mas, relembrando, nesse
encontro somos chamados a dar toda nossa vida na disposição e entregar nosso
sim a Seus propósitos, a se permitir ser transformado, a ser trabalhado, a ser
machucado se preciso for.
Deus é Palavra, Deus é
relação.
Uma relação em que Ele nos dá o infinito,
Seus sacramentos, nossa vida,Sua graça, Sua Palavra. Uma relação que nos pede
fidelidade, tempo, entrega, escuta, silêncio. Uma imersão, diária, no nosso
primeiro amor!
Que nossa celebração, que a
celebração natalina faça ressurgir nosso Amor e nossa abertura a Ele de nossas
vidas particulares, de nossa comunidade e de nossa Igreja – aos fragilizados,
aos sem teto, aos sem amor, à sociedade.
Que nossa vida seja uma
celebração e a celebração toque a todos e todos sintam Sua presença e seu
nascimento.
Amém.
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