o presente texto será apresentado para discussão e introdução à formação posta anteriormente neste espaço, a iniciar-se no próximo sábado. um tira-gosto...
O mundo está aí, a todo o momento
objetivando-se em sua concretude imperativa. Não nos é possível viver fora
desta realidade. Olhar, observar e pensar esta realidade com criticidade e
objetividade é a tarefa básica se queremos, com nossa prática, transformarmos o
mundo a nossa volta.
Precisamos, portanto, em nossa
jornada existencial – maior que nosso agir político – entendermos a relação
entre teoria, prática e práxis. Nosso agir cotidiano pode ou não tornar-se,
pela reflexão e capacidade de interconectar conhecimentos anteriormente
adquiridos, teoria.
Aristóteles, o bom e velho
Aristóteles, bem nos ensina no livro Ética para Nicômaco, que nosso agir advêm
de hábitos, não refletidos em sua maior parte. Estes hábitos nós os
introjetamos pelo processo educativo
que se dá nos âmbitos vitais familiares, escolares e sociais. A este processo
damos o significativo nome de incorporação
– transformar-se em corpo! É assim que o escovar os dentes, que se inicia de
forma imperativa, acaba por se tornar uma necessidade corporal decisiva,
incorporada e necessária. Ocorre que este processo educativo não se dá
normalmente pautado por uma reflexão madura e profunda sobre seus caminhos e
passos. Até mesmo nas unidades escolares onde o agir deve ser pautado por um
encontro das diversas habilidades,
possibilidades e virtudes de seu corpo docente, em suas respectivas
disciplinas, a partir de um horizonte reflexivo que é o Projeto Politico Pedagógico
(PPP). Normalmente, entretanto, este processo carece, a meu ver, em três
dificuldades básicas:
1. O
corpo docente não é selecionado tendo em vista o PPP, para que haja uma coerência
coletiva no caminho e na direção para onde devemos caminhar.
2. As
habilidades pessoais, assim como sociais e relacionais, não são devidamente
percebidas e, por isso, não são adequadamente exploradas ou incorporadas no
processo pedagógico, perdendo-se possibilidades e horizontes, esvaziando-se o
agir pedagógico.
3. O
PPP normalmente é o conjunto de frases – chavões, sem qualquer compreensão ou
mesmo discussão básica, que se torna um imperativo apenas burocrático. Pior do
que isto, ele esconde a incapacidade de olhar atentamente a realidade do aluno
concreto que se apresenta a sua frente, com seus dramas e capacidades. Desvelar
este mundo concreto – do corpo docente, do corpo administrativo e dos alunos –
é apenas o ponto de partida para o trilhar pedagógico que deve apontar para
novos horizontes, maiores e mais humanos.
Uma pequena pausa se faz necessária,
já que não vamos nos referir aqui ao papel governamental e em suas tarefas
inadiáveis, assim como na responsabilidade das famílias no âmbito educacional,
já que pensamos no processo pedagógico não apenas na educação formal pública ou
privada, mas também em igrejas, ONGs e instituições sociais.
Paremos por um instante. Não siga
automaticamente a ler o texto!
1. Nos
nossos processos e dinâmicas pessoais, nos nossos espaços dialógicos e políticos
temos ao menos uma ideia das possibilidades humanas envolvidas – inclusive a
nossa? O que te faz feliz? O que realmente você gosta de fazer?
2. Em
nossos processos sociais e institucionais temos ou tentamos fazer um PPP que se
faça realista e dinâmico, com metas e com revisão permanente?
3. Formamos
uma equipe que acolha a diversidade e a complexidade da vida humana e do seu mundo
cultural a dirigir-se, com o apoio mútuo (e não com competição), dentro de um
processo estratégico, olhando para o mesmo horizonte?
Falamos de liberdade, de
libertação, mas o que isto significa?
Nosso agir se conforma (age com a
forma) a realidade capitalista, se nutrindo dos valores desta na busca pelo
sucesso, pelo dinheiro, pela estabilidade, pelo status, pelo poder? Somos livres
para romper com estas determinações e aceitar suas reais consequências?
A prática pode, portanto,
tornar-se teoria, mas esta é sempre,
uma teoria interessada, que defende
interesses de pessoas e grupos sociais e pessoais.
Teoria pode se confundir com
manuais de procedimento ou mesmo um pensamento conceitual, superficial sobre
algo. Ledo engano! Teoria é o pensamento sistêmico de uma totalidade, que a percebe organicamente e complexamente. A teoria
biológica, portanto, se refere ao conjunto que compreende o funcionamento da estrutura biológica, da vida. A vida da
prática, dos hábitos é derivada, portanto, de um olhar sistêmico da vida humana
e de seu articular politico e econômico, que lhe dá horizontes e caminhos. Quando
agimos sem reflexão apurada estamos, concretamente, a reboque do que os outros
pensaram – e seguem a pensar – por nós. E, que, pelo aparato ideológico e
midiático, sutil e eficaz, se introjeta, se incorpora em cada um de nós.
Falamos de teoria, falamos de
prática, mas há outro termo, mais importante, que é práxis. Práxis é o agir
reflexivo, reflexivo que se objetiva num mundo real e que se torna conhecimento
amplo e dinâmico (dialético!), que se faz teoria na prática. Onde a prática se
faz teoria e a teoria se faz\ prática numa espiral que se humaniza e se
radicaliza.
É este o horizonte no qual
pretendemos caminhar. Que nossos corpos, mentes, olhares e o coração – numa linguagem
teológica que nosso espírito – esteja mergulhado total e amorosamente mergulhado
neste caudaloso rio da vida.
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