APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

PEDRA SOBRE PEDRA

PEDRA SOBRE PEDRA

Um texto tem sempre seu contexto psicológico, histórico e humano.
Queremos aqui, entretanto, trabalharmos outros aspectos, mais vivenciais.
Uma folha escrita tem em si traços de tinta que, conformados pelo silencioso vazio da página em branco, ganha significado e forma um trajeto e um percurso em que nossa humanidade, sensibilidade e fraqueza pode viajar serelepe e suavemente em busca de outras faces, rostos e mentes, a fim de plantar poesias e vida.
A Palavra de Deus, entretanto, tem outra vocação performática. Não confundir, porém, a Palavra de Deus com a Bíblia, também ela Palavra de Deus, mas não sua única expressão. Deus fala de muitas formas e Sua Palavra está inscrita – de forma inefável em esplendor e beleza – na natureza e segue insistentemente também a revelar a Si a todos e todas que amam e seguem Seus passos ainda hoje, em ambientes nebulosos e opressores.
Frei Carlos Mesters – homem santo e grande biblista – nos fala que a Bíblia serve para iluminar o livro da vida e ajudar na caminhada do Seu povo. Isto é lindo e precioso.
Ocorre, porém, que gostaríamos aqui de construir outros argumentos e reflexões. A Bíblia é um livro – ou um conjunto de livros e escritos – escrito por homens vivendo em uma situação histórica específica, para tomar partido de uma situação pessoal e social, não poucas vezes de forte viés político e coletivo. Um livro que se faz na história mas não histórico, istoé, não pretende contar eventos e fatos miraculosos mas mostrar e demonstrar como o trajeto da Revelação de Deus se deu no caminhar de um povo, com todas as suas contradições, equívocos e limites de seu tempo.
A nosso ver, entretanto, a Revelação segue seu curso e ganhou novo dinamismo com a presença de Jesus e  o espalhar de seu Evangelho com o surgimento do cristianismo.
A Revelação se deu e segue se dando!
Isgo implica, então, que, ainda que os livreos canônicos tenham sido já estabelecidos e “fechados”, seguem sendo escritos pela história de todas e de todos que vivem e viveram em seguimento de Jesus Cristo, inclusive os inúmeros mártires – D. Romero, Ir. Dorothy e tantos outros. Nossa vida é chamada a ser Evangelho, Boa Notícia aos pobres e desvalidos, os esquecidos de nosso tempo, tornando-se não apenas iluminada pela Sua mensagem mas constituindo-se ela mesma em um tecido emaranhado em que Bíblia e vida prática e ética – a chamada ortopráxis são costuradas de forma unívoca.
O Evangelho, assim escrito não é mais tinta em folha mas pedra na pedra – tal como o Decálogo de Moisés – esculpida a divindade na humanidade ( a perfeita humanidade em nossa frágil humanidade). Uma só coisa!
Belas palavras, mas como este processo de escavação se dá concretamente?
Creio que em seguimento das práticas – inclusivas e amorosas- de Jesus, que resgatavam a dignidade dos excluídos. Tal seguimento implica não apenas em aproximar-se dos fracos, oprimidos e sofredores mas assumir sua causa, enfrentar o Império do mal e a idolatria, combater o bom combate de transformar a sociedade para não mais seguir este processo opressor. Implica este processo em permitir o contato e deixar-se tocar pela dor dos outros até as entranhas se remoerem, o que na Bíblia recebe o nome de compaixão, de forma a aumentar nossa sensibilidade e humanidade.
E a escavação, lenta, silenciosa e poética vai tecendo sonhos e milagres, vidas que brotam e renascem, mesmo na dureza do asfalto e, muitas vezes, do silêncio e da insensibilidade da Igreja cristã.
Sejamos nós Evangelho, Boa Notícia e libertação, por onde andarmos, tocarmos e olharmos.
Pedra sobre Pedra
Amém!

AMADURECER

AMADURECER

Amadurecer o fruto pra que seja sobrevivência o alimento.
Amadurecer o feto pra que a palavra se cumpra.
Amadurecer a idéia pra que se aprimore a criação.
Amadurecer as decisões pra que as atitudes sejam coerentes.
Amadurecer o sofrimento pra que a alma cresça.
Amadurecer o gesto pra se sentir a harmonia.
Amadurecer a sensibilidade pra se estar em sintonia.
Amadurecer o silêncio pra que se transforme em oração.
Amadurecer a carência pra que em deus você se baste.
Amadurecer você pra que o outro se descubra.
Amadurecer o perdão pra que a mágoa seja ofertório.

GUIOMAR PAIVA