Apresento pequena reflexão sobre pedagogia eclesiástica. a linguagem é um pouco técnica....
O QUE AS IGREJAS ESPERAM DA EDUCAÇÃO
TEOLÓGICA
HIDEÍDE BRITO TORRES
REFLEXÕES E APONTAMENTOS
Vivemos numa sociedade do espetáculo, midiática, “fluídica”,
imagética, pautada por valores estéticos. O mundo real, entretanto, é outro,
repleto de dramaticidade, opressão, desigualdade social, vidas ceifadas
precocemente, tantos e tantas perambulando sem ver sentido em seu viver, sem
dignidade.
A “morte de Deus”, propugnada por tantos, não ocorreu. O
mundo, marcado pelo utilitarismo e pela fragmentação do conhecimento, pela
busca do lucro e pelo imperativo do poder do mercado, desafia a Igreja e o
pensar teológico, pois não é de seu interesse a reflexão e o desenvolvimento da
criticidade, em especial se este pensar dirige-se à práxis que visa à
transformação do mundo. Para os que se assenhoraram do poder e, quem sabe, de
algumas das estruturas eclesiásticas, é conveniente uma igreja que se funda
numa sucessão de factoides espirituais, focada em experimentalismos e propostas
que toquem nas emoções e agreguem mais e mais pessoas em êxtases fabricados e
artificiais, sem tocar ou mesmo tatear a experiência vivificante de Deus que
nos movimenta no Amor para sanar as feridas dos que sofrem e para conectar as
estruturas pecaminosas em um caminho focado na justiça e solidariedade.
É neste ambiente, e com esta carga pesada, que a Igreja deve
definir-se e construir sua proposta e seu agir pedagógico.
A Igreja, em seu constructo social, funda-se em um corpo
pastoral formado por leigos e clero, onde o destaque evidente é para a formação
deste último. O preparo teológico constrói e possibilita uma trajetória
pastoral – pessoal e institucional – profícua e que possa responder à
complexidade da vida nos dias de hoje. Este preparo não deve, entretanto,
pautar-se apenas na construção conceitual e teórica, mas fundamentar
metodologicamente seu agir pedagógico em todas suas atividades, perpassando as
práticas meditativas, a liturgia, a oração, as práticas sociais, de forma a
impactar seus membros, fortalecer sua fé, ampliar o conhecimento teológico, o
Amor a Deus e a seus irmãos. O estudo teológico deve, portanto, preparar no campo
teológico a na sua humanidade – na teoria e na prática pastoral e social – uma
formação ampla e segura que legitime e de substância ao chamado que Deus o fez Não é o bastante o diploma para ancorar
um agir pastoral consistente e que dê conta da exigente realidade.
A articulista bem atesta o desafio pastoral a pagina 53 de
seu texto: “...a pastora essencial é a pessoas que consegue fazer de sua
formação um ancoramento que assegure algumas verdades num mundo liquido como
esse em que vivemos”. Apresenta ainda os desafios de não ficar apenas na fala
do pastor o processo de educação teológica, mas nas relações pessoais e
comunitárias, na Escola Dominical, nos caminhos e trajetos formativos
(assembleias, reuniões, cursos etc.) que, criativamente, podem ser construídos
e trabalhados.
A instituição deve esperar construir e favorecer a
construção deste ambiente formativo e informativo, pessoal e coletivamente, sem
se preocupar com o “sucesso” no mercado religioso, mas com o compromisso com
sua pujança teológica, com as verdades reveladas, com a experiência de amor,
com o compromisso com os desvalidos – tal como Nosso Senhor, o Cristo Jesus.
A Igreja como espaço pedagógico privilegiado da construção
de uma humanidade cristã, desafiante dos valores imperativos do mundo, deve
alimentar e dar sabor às vidas. Com o encantamento de Sua experiência, no
saborear Sua Palavra e da Sua Glória, que se faz presente nos encontros
misericordiosos e salvífico com os esquecidos e esquecidas da sociedade. Deus
nos chama, a todos, nos fornece Sua Graça e nos joga a mergulhar em Seu
conhecimento de forma apaixonada e contagiante para poder – responsavelmente –
responder à dramaticidade da vida.
A formação deve, entretanto, formar uma cultura inclusivista
e de permanente humildade, sempre missionária, como um serviço à vida e a
construção de um movimento – trajeto permanente – que, mergulhado no mundo e no
seu desvelamento encante e revela o Deus amor em Suas entranhas a insistir na
vivência do mistério salvífico.
Deve, portanto, e isso não é uma tarefa fácil, ser e
permanecer com características libertadoras, críticas (a verdadeira educação
deve sempre permanecer crítica), comprometidas. Que resgate e amplie nossa
humanidade com a seiva de Seu Amor vivido, testemunhado e levados a todos os
que tem fome e aos que tem fome de justiça e de vida. De vida humana, plena,
real e concreta. Onde Ele se faz tudo e, mesmo em nossa enorme e eterna
pequenez, o Amor se revela e toma conta. E a Igreja se faz poesia e seu
encantamento pode se espalhar, irresistivelmente como via e vida plena. A
todos.