APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Aposar no amor


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Apostar no amor - Marcos 10,2-16 - IHU

Quinta-feira, 4 de outubro de 2012 - 12h27min
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Em continuação aos evangelhos dos domingos anteriores, Marcos segue apresentando à sua comunidade diferentes ensinamentos catequéticos. Aos poucos, a catequese mostra aos que iniciam o caminho da fé quem é Jesus e o que significa comprometer-se com ele.
O tema de hoje é o matrimônio, porém não sob o ângulo da casuística, mas sob o ângulo da vontade de Deus. O encontro "catequético" se desenvolve em forma de diálogo. O plano de Deus sob o matrimônio se situa no amor, em uma relação de reciprocidade, de complementaridade do homem e da mulher que se transforma em unidade de vida ("uma só carne") quando um homem e uma mulher optam um pelo outro.
Na história do povo de Israel, esta vontade inicial de Deus nem sempre se realizou. Por diferentes razões, os homens achavam legítimo despedir suas mulheres, então para protegê-las a legislação deuteronomística previu que as mulheres repudiadas recebessem um certificado de divórcio (Dt 24,1).
Recebendo o documento do divórcio, a mulher estaria livre para casar com outro homem, sem ser acusada de adultério. Mas esta intenção também foi esquecida, e o divórcio passou a ser uma demonstração do arbítrio e do machismo.
Tendo em conta este panorama podemos entender melhor a resposta de Jesus, que em primeiro lugar mostra que a legislação do divórcio foi feita para enfrentar a maldade humana: "Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento".
E em segundo lugar, Jesus restaura o sentido inicial do matrimônio dentro do projeto de Deus: "o que Deus uniu, o homem não deve separar".
Jesus veio para fazer possível o sonho de Deus referente ao amor humano. Em outra passagem evangélica, vemos como ele mesmo se coloca no meio da festa de bodas para cuidar que o vinho do amor não se acabe, oferecendo-se ele mesmo como a fonte do Amor (Jo 2,1-12).
Qual é a visão de matrimônio da sociedade de hoje? Alimentamos ainda hoje a utopia do matrimônio? Quantas vezes temos escutado o ditado popular: "O amor é bom enquanto dura" expressão de uma mentalidade atual que tem banalizado o amor, que promove diante qualquer dificuldade a separação, considerando quase impossível a fidelidade entre duas pessoas.
A proposta evangélica não é para "super-homens ou super-mulheres", mas para aqueles que, querendo abraçar o ideal cristão de vida, e sendo conhecedores de suas limitações e fraquezas, buscam em Jesus a fonte e o Mestre para viver o caminho do amor.
Falo de caminho porque fomos feitos por amor e para o amor e vivê-lo é um processo, uma arte que se aprende na família, com os amigos, na comunidade... É interessante que o evangelho coloque logo a seguir da explicação de Jesus sobre o matrimônio, este novo desentendimento dele com seus discípulos.
Em um dos domingos anteriores, Jesus já lhes tinha explicado a centralidade das crianças no Reino de seu Pai, mas eles continuam sem entender: "Depois disso, alguns levaram crianças para que Jesus tocasse nelas. Mas os discípulos os repreendiam".
Jesus não gosta nada dessa atitude dos discípulos. Podemos, então, nos perguntar por que não gosta. E que tem isso a ver com a primeira parte do evangelho de hoje? As crianças nos falam de fragilidade, de dependência, de um ser humano em crescimento, com um futuro pela frente.
Jesus não só quer que as crianças fossem a Ele, mas ainda acrescenta uma sentença muito importante: "quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele".
É um convite que o Senhor nos faz para reconhecer nossa realidade humana mais profunda, somos finitos, limitados, mas com sede de infinito, de plenitude! A vida é o presente que recebemos de Deus para percorrer esse caminho entre o finito e o infinito, entre o amor limitado e a plenitude do amor.
Nesse peregrinar não estamos sozinhos/as como as crianças do evangelho, Jesus pega-nos no colo, abraça-nos, isto é, está conosco, desde já nos concede viver sua amizade, sua companhia amorosa.
É por isso que podemos, apesar das dificuldades da vida pessoal e a dos outros, continuar apostando no matrimônio, no amor duradouro, sabendo que nesse caminho a dois, é preciso deixar entrar, renovar, agir um Terceiro!
Instituto Humanitas Unisinos

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pastoral carceraria lembra 20 anos do massacre do carandiru


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Pastoral Carcerária lembra 20 anos do massacre do Carandiru

Segunda-feira, 1 de outubro de 2012 - 11h18min
Para relembrar o Massacre do Carandiru, que completa 20 anos nesta terça-feira, 2 de outubro, a Pastoral Carcerária e movimentos sociais vão fazer um ato na Praça da Sé, a partir das 15h, no centro da capital paulista. Leia a denúncia das lideranças e a recordação de um dos mais graves crimes contra a população brasileira.
O primeiro ato, ecumênico, terá início na Catedral da Sé. Cerca de uma hora depois, na Praça da Sé, acontece um ato político-cultural. No dia 2 de outubro de 1992, policiais invadiram o presídio do Carandiru durante uma rebelião e mataram, com uso de metralhadoras, fuzis e pistolas, ao menos 111 presidiários. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pelos crimes.

"O ato não é apenas um resgate da memória dos 20 anos do Carandiru, uma situação clara de que não esquecemos e não esqueceremos jamais do que aconteceu, mas é também uma denúncia pública sobre todas essas políticas de massacre das populações periféricas, pretas e pobres, que ainda acontece nos dias de hoje", disse Rodolfo Valente, advogado da Pastoral Carcerária em São Paulo e integrante da Rede 2 de Outubro.

A denúncia, segundo Valente, não é só do Massacre do Carandiru. "É também uma denúncia ao massacre dos Crimes de Maio, ao Massacre de Eldorado do Carajás", disse. Nos ataques comandados pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) de 2006, que ficaram conhecidos como Crimes de Maio e que ocorreram entre os dias 12 e 20 de maio daquele ano, 493 pessoas foram mortas, entre elas, 43 agentes públicos. Um estudo feito pela organização não governamental (ONG) Justiça Global, divulgado no ano passado, apontou que, em 71 desses casos, houve fortes indícios do envolvimento de policiais que integram grupos de extermínio.

Já em Eldorado dos Carajás, no Pará, a ação da Polícia Militar causou a morte de 21 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Dezenove sem-terra morreram no local e dois a caminho do hospital. As mortes ocorreram durante o confronto com a polícia no quilômetro 96 da Rodovia PA-150, na chamada Curva do S.

No sábado (6), os movimentos sociais também pretendem fazer uma caminhada cultural, marcada para ocorrer no Parque da Juventude, onde antes estava instalado o Complexo Penitenciário do Carandiru.
Agência Brasil - Elaine Patrícia Cruz

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Sempre acolher


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Sempre acolher, nunca excluir - Raymond Gravel

Sexta-feira, 28 de setembro de 2012 - 11h10min
Por que excluir pessoas, com o pretexto de que elas não seguem as regras instituídas? Não são as regras que primam... O essencial é seguir a Cristo. A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 26° Domingo do Tempo Comum (30 de setembro de 2012). A tradução é de Susana Rocca.
No domingo passado, fomos convidados a acolher o pequeno, o pobre, a criança e a nos tornar servidores de todos. Hoje, somos convidados a não excluir àquele e àquela que vive o evangelho de outra maneira e que não faz parte do nosso grupo, da nossa Igreja. Não é questão de reservar Deus para alguns, para os escolhidos, para as elites. Não é também questão de fixar Deus a uma religião, a um grupo, a um sacerdote, a uma igreja. Não é questão de se enriquecer enquanto os pobres estão na miséria. Quando nos dirigimos a Deus, à sua Palavra, quando aderimos aos ensinamentos do Cristo do evangelho, o Espírito criador do novo, da novidade, nada nem ninguém pode impedi-lo.

O evangelho deste domingo nos diz três coisas:

1. Ninguém é proprietário de Deus ou de Cristo: "João, um dos doze (então um apóstolo, um bispo, um dirigente, um responsável da Igreja), disse a Jesus: Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue" (Mc 3,38). O evangelista não diz: Ele não faz parte dos que te seguem, mas nós te seguimos. Que pretensão! Não é mais a fé em Cristo o que conta: é a fé nos apóstolos o que João reivindica. Uma palavra como essa se atualiza facilmente hoje. Os dirigentes da Igreja do século I se parecem estranhamente com os apóstolos da atualidade e com os responsáveis da nossa Igreja.

Quando no alto da nossa grandeza se fala que o mundo está perdido porque ele abandonou a autoridade da Igreja, nos apropriamos de Deus como se ele nos pertencesse. E ainda, as nossas sociedades laicas que se inspiram nos valores cristãos de abertura, acolhida, respeito, dignidade, igualdade, tolerância e justiça estão mais próximas de Deus e da sua Palavra do que estamos nós mesmos. Pessoalmente, quando eu escuto alguns dirigentes de Igreja condenar as pessoas que defendem os homossexuais, os divorciados que casam novamente, as mulheres que abortaram, os feridos da vida, eu me pergunto: Quem se acham que são? Eles se assemelham aos apóstolos do Evangelho que querem impedir que as pessoas ajam em nome de Cristo.

Infelizmente, há muito tempo, na Igreja, decidiram em nome de Deus, impondo-se aos crentes, doutrinas, princípios, regras que favoreceram muito mais a injustiça, a exclusão, a intolerância, a desigualdade... Colocando a doutrina antes do evangelho, perderam-se os fundamentos mesmos da nossa fé cristã que deve expressar-se no respeito ao outro, na acolhida incondicional, na justiça, na igualdade, na abertura, na tolerância, no perdão, na misericórdia, no amor gratuito, na dignidade de todos, na confiança e na esperança. O evangelho deve preceder todas as doutrinas; caso contrário, não é mais o evangelho. É a Cristo que devemos seguir e não aos apóstolos. Os apóstolos devem nos conduzir a Cristo. E se a doutrina cria excluídos, é preciso aboli-la, modificá-la, adaptá-la.

Já no Antigo Testamento, sabia-se que Deus não pertencia a ninguém. No extrato do livro dos Números que temos hoje, Moisés achou que a sua carga era demasiado pesada, mais ainda porque o povo gritava o tempo todo. Moisés forma, então, um conselho de sábios, setenta pessoas que são convidadas a entrar na Tenda do Encontro, o templo, a Igreja do seu tempo, para uma celebração da Crisma onde o Espírito de Deus descerá para que eles se tornem profetas e que possam partilhar a tarefa de Moisés. Mas eis que dois dos setenta não vão à celebração; Eldad e Medad; eles ficam em casa. Porém, o autor do livro dos Números nos diz que eles também receberam o Espírito de Deus, mesmo não estando presentes na celebração da Crisma. Então, Josué, o servidor de Moisés, interveio: "Moisés, meu senhor, proíba-os de fazer isso" (Nm 11,28). Como se Deus não pudesse mais dar seu Espírito sem passar pela autoridade de Moisés. Conhecemos a resposta de Moisés: "Você está com ciúme por mim? Oxalá todo o povo de Javé fosse profeta e recebesse o espírito de Javé!" (Nm 11,29).

2. Trabalhar para Cristo é segui-lo. A resposta de Jesus ao apóstolo João: à pessoa que trabalha para mim "não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor" (Mc 9,39-40). A resposta de Cristo à Igreja atual é a mesma que a de João: a família reconstituída, o casal de divorciados unido novamente que educa seus filhos segundo os valores do evangelho trabalham por Cristo; eles são Igreja também. O homossexual que se engaja em nome da sua fé cristã para fazer o mundo mais justo e mais fraterno trabalha por Cristo; ele é Igreja também. O padre que vive um relacionamento amoroso e que trabalha bem no seu ministério trabalha por Cristo; ele é Igreja também. As mulheres que foram ordenadas sacerdotes e que estão ao serviço de suas comunidades cristãs trabalham por Cristo; elas também são Igreja. Então, por que excluir essas pessoas, com o pretexto de que elas não seguem as regras instituídas? Não são as regras que primam... O essencial é seguir a Cristo.

Pode ser que mesmo essas pessoas sejam mais profetas do que os que são oficialmente, segundo as regras da instituição. A primeira leitura nos diz isso. O autor do livro dos Números salienta, falando das sessenta e oito pessoas que foram à celebração para receber a Crisma: "Quando o espírito pousou sobre eles, puseram-se a profetizar; mas, depois, nunca mais o fizeram" (Nm 11,25). No fundo, não é porque tenham seguido as regras e respondido aos critérios de seleção que eles se tornaram automaticamente profetas. É pelas suas ações que se reconhecem os verdadeiros profetas. Ainda hoje isso é assim. Há casais reconstituídos que são maiores sinais de amor do que alguns casados que estão ainda juntos e que não se amam de verdade, assim como há muitas pessoas que se engajam em projetos sociais e que são mais cristãos do que muitos outros que vão à igreja todo domingo. Lembro as observações dos juízes da Corte Suprema do Canadá quando decidiram sobre o casamento gay... As suas observações estavam muito mais próximas do evangelho do que as que vinham do Vaticano. É incrível! Mas é a realidade!

3. Aviso aos dirigentes da Igreja. O evangelista Marcos avisa a pessoa que rejeita, condena, exclui um pequeno, um pobre, um ferido pela vida. Tal aviso se dirige primeiramente aos dirigentes da Igreja, porque só eles podem rejeitar, condenar e excluir os pequenos; os cristãos comuns não têm esse poder: "E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço" (Mc 9,42). É bastante dura essa sentença! É a maneira forte dos Hells Angels. Se se aplicasse hoje, eu penso que nos surpreenderíamos de ver algumas pessoas no fundo do oceano.

E lá, Marcos fala dos três membros que podem nos ajudar a fazer a nossa missão ou que podem nos atrapalhar e nos impedir de assumi-la: a mão, o pé e o olho...

- A mão, para partilhar ou para guardar.

- O pé, para ir ao encontro do outro ou para se deter e não avançar mais.

- O olho, para ver o outro, abrir-se à realidade, acolher e comunicar-se com ele, ou o olho para fechá-lo ao outro, julgá-lo, condená-lo e excluí-lo.

O que Marcos nos diz, no fundo, é que se os membros não nos ajudam a levar adiante a nossa missão, seria melhor perdê-los para não nos perder a nós mesmos.

Finalizando, uma palavra sobre a segunda leitura de hoje, a carta de Tiago, em que o autor nos diz que temos de ficar atentos à riqueza: ela pode nos fechar sobre nós mesmos, nos impedir de partilhar, nos tornar injustos com os outros: "Vejam o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido por vocês, esse salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidosdo Senhor dos exércitos" (Tg 5,4). "Vocês tiveram na terra uma vida de conforto e luxo; vocês estão ficando gordos para o dia da matança!" (Tg 5,5). "Vocês condenaram e mataram o justo, e ele nãoconseguiu defender-se" (Tg 5,6).

Para terminar, eu gostaria de simplesmente partilhar com vocês a reflexão do exegeta francês, Jean Debruynne: "Imediatamente, o grupo dos Apóstolos, por boca de João, reclama a propriedade exclusiva de Jesus. Eles querem a exclusividade dos direitos autorais sobre os fatos e os gestos de Jesus. Eles pretendem ser os únicos que podem emitir o passaporte, a carteira de identidade cristã. Jesus, pelo contrário, lhes anuncia a desapropriação. Querer fechar o evangelho é querer impedi-lo de ser o que realmente é: o evangelho. O Espírito de Deus é livre. Ninguém poderá obrigá-lo a seguir a via hierárquica. O problema dos Apóstolos é excluir. O de Jesus é chamar e ouvir".
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

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Um projeto de igualdade


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Um projeto de igualdade - José Raimundo Oliva

Terça-feira, 2 de outubro de 2012 - 11h30min
Os fariseus, procurando motivo para condenar Jesus em questões da Lei, o questionam, agora, sobre o preceito do Decálogo que permite ao homem despedir a sua mulher (Dt 24,1). A Lei, que era atribuída a Moisés, com seu caráter patriarcal machista, vinculava os bens do casamento à posse do marido, relegando a mulher a uma posição de submissão. Reconhecendo o direito do homem de repudiar sua mulher, não explicitava, contudo, quais os motivos que justificariam tal repúdio. Entre os rabinos debatiam-se quais seriam estes motivos. A escola do rabino Hillel, mais seguida, autorizava o repúdio pela simples insatisfação do homem. A escola do rabino Shammai limitava o repúdio apenas nos casos de infidelidade da mulher.
Os fariseus, apegados à Lei, não duvidavam deste direito do homem. Jesus, em sua resposta, associa a Lei à dureza dos corações daquele povo e recorre ao projeto criador de Deus: homem e mulher, criados em uma só carne (primeira leitura), em igualdade de condições. Descartando, assim, o legalismo e o machismo, Jesus remete o homem e a mulher ao projeto criador de Deus, que é elevar a humanidade à plenitude do amor.
Na passagem paralela, no evangelho de Mateus (Mt 19,9; 5,32) é mencionado o direito de despedir a mulher no caso de pornéia (no original grego), de duvidosa interpretação, possivelmente com o sentido de adultério. Neste texto de Marcos, tanto o marido como a mulher podem dispensar o cônjuge, contudo, uma nova união é considerada como adultério. Porém, diante da complexidade da situação, é importante que sejam avaliados com bastante discernimento os casos de novas uniões.
Algumas pessoas, ao trazerem crianças para serem abençoadas por Jesus, são repreendidas pelos discípulos. As crianças são o símbolo dos excluídos, e os discípulos ainda guardam a mentalidade repressiva, o que leva Jesus a aborrecer-se. Acolher uma criança é assumir a humildade, a pequenez e a fragilidade diante de Deus.
Na Epístola aos Hebreus (segunda leitura) fica em evidência seu caráter eminentemente sacrifical, pelo qual, sob dois aspectos, contradiz a imagem de Jesus, Filho de Deus. Jesus, Deus presente humildemente na história, entre os humanos, passa a ser coroado de gloria e honra nos céus; e tal glória é a recompensa do sofrimento, uma vez que Jesus sempre se empenhou em aliviar os sofrimentos, comunicando vida plena com seu amor carinhoso.
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Só os movimentos sociais podem levar o projeto popular a disputar com governos e capital, diz líder de sem-terras


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Só os movimentos sociais podem levar o projeto popular a disputar com governos e capital, diz líder de sem-terras

Quarta-feira, 3 de outubro de 2012 - 10h02min
Para Stédile, luta social ainda é discriminada pela imprensa e pelo Poder Judiciário. Um dos fundadores do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do qual também é membro da direção nacional, João Pedro Stédile foi um dos oradores na Conferência Ecumênica Global sobre a Nova Arquitetura Financeira e Econômica, reunida em Guarulhos, São Paulo, de 29 de setembro a 5 de outubro.
Stédile partilhou reflexões sobre a conjuntura econômica, desenvolvidas internacionalmente entre os movimentos de agricultores que compõem a Via Campesina, entidade que reúne representantes de mais de 100 países. Após dirigir-se aos participantes do evento, ele concedeu entrevista que segue abaixo.
Pergunta: No encontro anual do Fórum Ecumênico ACT Brasil, Ademar Ludwig, do MST, partilhou sua visão acerca da situação atual do país. Para ele, há três projetos em conflito no Brasil. O primeiro, do governo do PT, com sua visão desenvolvimentista e assistencialista. O segundo, da direita histórica, hoje situada mais no Democratas e no PSDB. O terceiro projeto seria o da sociedade civil, das organizações populares que tentam discutir modelos alternativos e construir redes de cooperação. Em sua opinião, quais são as forças em conflito no mundo de hoje?
Stédile: Acho que, de certa forma, essa conjuntura que o companheiro Ademar apresentou sobre a correlação de forças no Brasil se repete na América Latina, ainda que com outros nomes, e também em nível mundial. Há um grande projeto, que é o do grande capital. Embora em crise, ele ainda é hegemônico ideológica, militar e economicamente. O capitalismo tenta se renovar para gerar um novo ciclo de acumulação mais adiante, que ainda não se sabe onde vai estar centrado, mas que será de acumulação sob controle das grandes empresas transnacionais do mundo.
Há um segundo projeto, que aparece também muito claro na América Latina, que seria uma espécie de integração capitalista, em que as burguesias locais querem ter controle sobre a sua produção, mas que não representa solução para os problemas do povo. Ou seja, eles querem desenvolver o capitalismo e a produção sob seu controle, têm contradições pontuais em relação aos Estados Unidos e ao império, mas não representam uma solução verdadeira. Em geral, defendem uma maior ingerência do Estado, não porque sejam estatistas, mas porque hoje, no Terceiro Mundo, o Estado é o principal espaço que reúne a mais-valia social. Portanto é o Estado que gera a maior parte do capital disponível. Então, esse grupo, precisa deste trampolim, precisa se apoderar desses recursos. E, para conseguir tocar esse montante, que é manejado pelos Estados, precisa ter projetos mais nacionalistas.
E há um terceiro projeto, que seria uma alternativa popular. Seria a tentativa de reorganizar as economias dos países e do mundo em favor da solução dos problemas do povo. Quais são esses problemas? A fome, a falta de terra, de trabalho, de moradia e de educação.
Nesse terceiro projeto, quais são as dificuldades que temos? Como sofremos um impacto muito grande, na década de 90, com a ofensiva generalizada do neoliberalismo, o que vemos hoje é um refluxo do movimento de massas. Só recentemente é que fomos ver, na Europa, as primeiras reações populares à crise econômica.
Há uma criminalização da luta social em toda parte do mundo. É uma criminalização na qual não se precisa matar ou prender o manifestante, o que ocorre ainda em alguns países como a Colômbia, mas é ideológica, feita pela televisão e pelo poder Judiciário. A nossa esperança é que no próximo período haverá uma re-ascensão dos movimentos de massa e que estes, por sua vez, irão colocar o seu verdadeiro projeto popular na agenda de disputa com os governos e com o capital.
Pergunta: O movimento ecumênico, historicamente, sempre esteve envolvido em muitas edições do Fórum Social Mundial (FSM) e, mais recentemente, teve participação ativa no processo que levou à Cúpula dos Povos. Esse movimento mostrou sinais de que há uma dinâmica diferente em voga, marcada por um esforço de convergência de agendas e lutas e é enorme a dificuldade de chegar a um consenso sobre o tema do desenvolvimento sustentável. Há uma diferença entre o tom de desabafo e protesto, que marcou tantas edições do FSM e a metodologia de convergência e pautas comuns da Cúpula dos Povos. Você sente que o momento atual é diferente?
Stédile: Acho que o espaço da Cúpula dos Povos gerou um clima político novo para essa convergência, sobretudo para que os movimentos sociais incorporassem na sua pauta os temas do meio ambiente, e os fizessem de uma forma politicamente correta. No entanto, mais do que documentos convergentes, o que vai alterar a correlação de forças é se, nos próximos dez anos, conseguirmos criar um clima político de re-ascensão do movimento de massas em todo o mundo.
Pergunta: Qual a sua opinião sobre o papel do Brasil na conjuntura mundial atual?
Stédile: Esse é um assunto complexo. Primeiro, os capitalistas, que atuam na economia brasileira, têm certa autonomia em relação ao governo. Então, uma coisa é analisar o capitalismo brasileiro e outra coisa é analisar o governo de Dilma Rousseff.
O que percebemos no cenário internacional é que, em relação à América Latina, o governo Dilma tem tomado atitudes positivas, ou seja, fortalece a unidade do continente e se propõe a enfrentar os americanos. No entanto, quando chega ao G20, passa a ter atitudes de subserviência aos grandes interesses do capital.
Essa contradição só vai ser resolvida quando tivermos uma re-ascensão dos movimentos de massa aqui no Brasil. No quadro atual, o povo brasileiro e as forças populares estão ausentes da política. Só o governo e os capitalistas é que estão agindo. Evidentemente que, entre essas duas forças, o governo ainda tem um papel positivo. Mas não são iniciativas do povo.
Pergunta: Num modelo econômico que preze a justiça e o cuidado à natureza, quais seriam as ferramentas metodológicas e políticas que o Brasil teria a oferecer à comunidade mundial?
Stédile: Acho muito ruim utilizar como parâmetro modelos ou exemplos. Acho que o Brasil não é exemplo, assim como a África do Sul, Cuba e China também não podem servir de exemplo. Cada povo tem experiências acumuladas suficientes para encontrar as verdadeiras soluções para seus problemas.
O que está faltando, infelizmente, é que ainda vivemos um período histórico de descenso do movimento popular. Ao excluir as massas da política, o povo não tem espaço para apresentar soluções. Nossa visão é que com a volta das massas aos processos de tomada de decisão, os povos, que têm muita experiência acumulada, é que buscarão as soluções.
O caso do Brasil é, de certa forma, emblemático porque o país é enorme territorialmente, tem uma população muito grande e tem riquezas naturais intermináveis. O caso brasileiro vai ser muito peculiar, porque aqui encontraremos soluções mais rapidamente do que em regiões com limitações expressivas, como a Bolívia, que não tem indústria, ou o Paraguai, que virou uma plataforma só de soja. Nesses países, as soluções para uma economia mais justa serão mais demoradas do que aqui no Brasil

Marcelo Schneider é doutor em Teologia e assessor de imprensa do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Ele acompanha a Conferência Ecumênica Global sobre a Nova Arquitetura Financeira e Econômica,promovida pela Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas em parceria com o CMI e o Conselho para Missão Mundial.
Marcelo Schneider

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Escola de assentamento fica em 1º lugar na média do IDEB


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Escola de assentamento fica em 1º lugar na média do IDEB

Terça-feira, 2 de outubro de 2012 - 11h43min
Uma escola localizada dentro de um dos maiores projetos de assentamento no Paraná foi classificada, neste ano, em primeiro lugar na média municipal do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), no município de Querência do Norte, a 625 km de Curitiba. A Escola Camponesa Municipal Chico Mendes fica na área de uso comunitário do PA Pontal do Tigre. O assentamento tem área de oito mil hectares, com 338 famílias.
A escola Chico Mendes conseguiu o primeiro lugar na média municipal do IDEB com a nota de 6,2. O índice foi obtido por meio da Prova Brasil, aplicada aos alunos do ensino fundamental público, nas redes estaduais, municipais e federais. Os exames conta com perguntas de português e matemática. Essa é a segunda vez que a escola faz a prova.
Em 2009 a nota foi 4,4.

A prova foi realizada em novembro de 2011, mas a nota saiu apenas em junho deste ano. O índice tem como objetivo reunir, em um só indicador, dois conceitos: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. De acordo com a diretora da escola, Maria Edi da Silva, uma equipe do Ministério da Educação (MEC) vai até a instituição aplicar os exames e, para garantir a veracidade dos resultados, a escola não tem acesso às provas.

"É uma grande conquista, pois a comunidade já passou por muitas dificuldades e esse 1º lugar mostra que os assentados também podem ter uma educação de qualidade", destaca.

Para continuar com a boa qualidade de educação, Maria Edi explica o que será feito daqui em diante. "Continuaremos nosso trabalho com muita luta, negociando e lutando por políticas públicas. A escola não conta com prédio e condições favoráveis para desenvolver projetos que visam a qualidade e permanência de estímulos aos alunos e comunidade. Continuaremos trabalhando com a pesquisa participante, tema gerador e os projetos da escola".

Para coordenadora da escola, Lurdes de Fátima, a boa qualidade de ensino é resultante de um processo de pesquisa participante realizado internamente na Escola Camponesa Chico Mendes. "Procuramos saber o que é melhor para cada aluno e como poderemos ensiná-lo da maneira mais correta, de modo que ele não tenha dificuldades e aprenda o máximo possível", explica.


História
A fundação da Escola Chico Mendes deu-se por volta de 1988, quando surgiram os primeiros acampamentos que deram origem ao PA Pontal do Tigre. No início, os alunos tinham aulas em salas de madeira, mas com a grande quantidade de alunos, foi preciso construir uma escola de alvenaria.

A escola tem uma Associação de Pais e Mestres formada pelos assentados. O objetivo é administrar os recursos passados pelos governos federal e estadual e dar assistência ao aluno e a sua família.

Atualmente, a escola tem 256 alunos com idade entre três e 11 anos, distribuídos em 12 turmas. As crianças contam, além das matérias normais, com aulas sobre Práticas Agrícolas e Ambientais e aprendem como surgiram os movimentos sociais. Desde sua fundação, o Incra já destinou recursos para a escola, principalmente brinquedos para a brinquedoteca, materiais permanente como mesas, cadeiras e materiais pedagógicos. Também tiveram o apoio do Projeto da Petrobrás em 2007, além da prefeitura na formação dos professores.


Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

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domingo, 30 de setembro de 2012

Fórum Ecumênico ACT Brasil discute agenda de incidência para o futuro


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Fórum Ecumênico ACT Brasil discute agenda de incidência para o futuro

Segunda-feira, 24 de setembro de 2012 - 11h18min
A Cúpula dos Povos, evento organizado paralelamente à Conferência das Nações Unidas por Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, mostrou que a sociedade civil organizada passa por um novo momento de mobilização, de criação de novas alianças e renascimento de parcerias históricas capazes de sensibilizar a sociedade e pautar políticas públicas. Este foi o diagnóstico oferecido por três representantes de movimentos sociais reunidos num painel promovido pelo Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), na tarde do dia 24 de setembro, em São Paulo.
O FE ACT Brasil realiza sua reunião anual tendo como um dos principais itens da pauta a busca de consenso em torno de temas de incidência e defesa de causa e passou a ouvir os depoimentos de Tica Moreno, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Daniel Souza, da Rede Ecumênica da Juventude (REJU), e Ademar Ludwig, do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).


Mulheres
Tica Moreno destacou que o diálogo dos movimentos da sociedade civil, experimentado no processo que levou à Cúpula dos Povos, "revelou uma nova dinâmica de incidência e uma nova geração política que nos possibilitou ter mais clareza em relação à lente através da qual analisamos a conjuntura e estabelecemos nossas estratégias".
Moreno destacou o tema da divisão sexual do trabalho, que, segundo ela, se expressa no próprio mercado de trabalho através das diferenças de remuneração entre homens mulheres, "realidade marcada por uma bipolarização onde há, de um lado, poucas mulheres bem remuneradas em posições de liderança, e, do outro, uma multidão de mulheres em funções menores com remuneração ainda menor do que a de seus pares homens com as mesmas responsabilidades", afirmou.
O esforço atual da MMM, segundo ela, é tentar descobrir em que medida as relações entre homens e mulheres "são parte do sistema capitalista, machista e patriarcal onde vivemos".
"Analisamos a base material da opressão sobre as mulheres, que legitima a violência contra as mulheres em todos os níveis através da divisão sexual do trabalho", continuou.
"Vivemos uma realidade na qual as mulheres precisam conciliar atividades profissionais e domésticas, pois não existe partilha igualitária de responsabilidades com os homens. Além disso, existe hoje, no Brasil, cerca de 7 milhões de empregadas domésticas que fazem parte desta massa que compõe uma realidade desigual. "A nossa busca por justiça passa pela luta por igualdade e partilha de responsabilidades entre homens em mulheres, pois a diferença abissal entre as horas gastas por mulheres e homens nas tarefas domesticas é um escândalo", senteciou.
Moreno ainda destacou a abordagem que o MMM deu à luta contra a mercantilização da vida, uma das bandeiras da Cúpula dos Povos. Para ela, os processos e estruturas em que vidas humanas e a natureza são reduzidas a meras mercadorias levou o movimento a elaborar uma critica contundente ao modelo de economia verde. "Um dos pontos centrais de nossa atuação depois da Cúpula dos Povos tem sido o enfretamento da realidade da mercantilização neste modelo de desenvolvimento em voga que prioriza a exploração de territórios, dos recursos naturais e dos corpos das mulheres", afirmou.
O exemplo utilizado por Moreno foi o do aumento da prostituição em áreas onde grandes obras de engenharia são implementados. "As mulheres são usadas para amortecer os impactos gerais deste modelo desenvolvimentista. A sociedade por sua vez, já nâo reage mais e parece seguir a lógica dos governos e empresas que banalizaram a exploração sexual das mulheres", concluiu.

JovensDaniel Souza, coordenador nacional da REJU, por sua vez, afirmou que a prioridade atual da rede é formar uma juventude que assuma seu papel na sociedade," que seja protagonista e capaz de pautar políticas publicas e conceitos de desenvolvimento".
Souza partilhou dados atuais sobre os jovens brasileiros. Segundo ele, 6,5 milhões de jovens não tem trabalho e apenas 12% frequentam universidades. Daqueles que têm emprego, 66% não tem carteira assinada e recebem pouco mais que a metade do que recebem os adultos nas mesmas funções. A violência contra jovens também foi destacada quando Souza informou que 50% dos homicídios em 2010 foram de jovens, dos quais 75% eram negros e pobres.
Segundo o coordenador, experiências como a Cúpula dos Povos servem de laboratório de novas metodologias. Ele destacou o papel do setorial ecumênico e inter-religioso do evento, dizendo que "Religiões por Direitos proporcionou espaço de articulação e diálogo com outros movimentos. Lá, aprendemos que incidência política é feita em redes, e que a costura de novas parcerias é um aspecto essencial em todas as nossas estratégias atuais", ponderou.
Souza ainda destacou outro impasse na luta atual da juventude brasileira: "Os grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, tem causado grandes entraves na aprovação do estatuto da juventude, pois a questão da meia entrada em eventos toca diretamente os que querem lucrar com estes mesmo eventos", assinalou.


Trabalhadores rurais sem terraAdemar Ludwig, do MST, destacou o novo momento das relações na sociedade civil apontando a importância da criação de novas alianças estratégicas.
Ludwig também partilhou sua análise de conjuntura nacional. "Há três grandes projetos em disputa no país. O primeiro é puxado pelo governo do PT, com suas iniciativas desenvolvimentistas e políticas compensatórias que não resolvem os problemas estruturais do país. O segundo projeto é da direita, liderada pelo PSDB e pelo Democratas, que nunca saíram de cena, continuam dominando diversos níveis da sociedade e não se conformam com a perda momentânea do timão político nacional. Finalmente, o terceiro projeto é o da sociedade civil, das organizações sociais que tentam discutir modelos alternativos, construindo redes de cooperação", frisou.

O painel foi parte importante do exercício do FE ACT Brasil, formado por organismos ecumênicos, agências de apoio a projetos de desenvolvimento, igrejas, conselhos de igrejas e organizações parceiras, para estabelecer o seu planejamento para os próximos dois anos.
Para Rafael Soares de Oliveira, secretário executivo de KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço, os depoimentos de Moreno, Souza e Ludwig "estão em sintonia com a conjuntura mais ampla com a qual estamos dialogando há muito tempo".
Os três painelistas enfatizaram a necessidade de mobilização e sensibilização da sociedade. "É impossível avançarmos ne defesa de causas sem formarmos e fortalecermos alianças", enfatizou Eliana Rolemberg, diretora executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), moderadora do painel.
A reunião anual do FE ACT Brasil encerra no dia 26, com debates sobre o novo marco regulatório que consolidará a relação das Organizações da Sociedade Civil com o Estado.
Embora exista desde o início da década passada, o FE ACT Brasil, desde 2010, é reconhecido como o fórum nacional de ACT Aliança. ACT reúne mais de 100 organizações de ajuda humanitária que atuam nas áreas de emergência, apoio a desenvolvimento e defesa de causas, estando presente em mais de 125 países, com 30.000 funcionários que implementam projetos que movem cerca de USD 1.3 bilhão em recursos oriundos de igrejas, organismos ecumênicos, fundos públicos e campanhas pontuais.

O CEBI é representado no evento pela Reverenda Lúcia Sírtoli, integrante do Conselho Nacional.

Saiba mais em: www.actalliance.org.
Marcelo Schneider trabalha para o Conselho Mundial de Igrejas.
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Anglicanos se reúnem para eleger sucessor de Rowan


CEBI

Anglicanos se reúnem para eleger sucessor de Rowan

Quinta-feira, 27 de setembro de 2012 - 15h02min
Os principais bispos da Igreja Anglicana começaram nessa quarta-feira uma reunião que durará três dias para eleger o substituto do arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, que deixará seu cargo em dezembro, após uma década como primaz anglicano. A chamada Comissão de Candidaturas da Coroa (CNC, na sigla em inglês), integrada por bispos, é a encarregada de selecionar os possíveis candidatos para substituir Williams, cujo sucessor deverá contar com a aprovação da Rainha Elizabeth II, governadora suprema da Igreja da Inglaterra.

Essa reunião, a portas fechadas, terá a duração de três dias, e espera-se que o nome do novo arcebispo de Canterbury seja anunciado na próxima semana, de acordo com a mídia britânica. Em março passado, Rowan Williams comunicou a sua renúncia para dezembro próximo, depois de uma década marcada pelas lutas entre liberais e tradicionalistas na Igreja Anglicana sobre questões como a ordenação de mulheres bispas.

Williams, de tendência liberal, assumirá em janeiro próximo como reitor do Magdalene College, da Universidade de Cambridge. Como líder espiritual de 77 milhões de anglicanos, Williams, 61 anos, teve que superar em seus 10 anos no cargo enfrentamentos abertos entre os setores mais conservadores e progressistas, principalmente por causa dos casamentos homossexuais, da ordenação de sacerdotes gays ou de mulheres bispas.

Em 2002, o religioso galês foi nomeado o 104º arcebispo de Canterbury em substituição de George Carey, e seu desempenho à frente da Igreja da Inglaterra não foi isento de polêmicas por causa de suas opiniões sobre a guerra do Iraque, o comércio de escravos do passado colonial britânico ou a lei islâmica.

O arcebispo de York, John Sentamu, é um dos favoritos para substituir Williams, mas também figuram o bispo de Gloucester, Michael Perham, e o bispo de Carlisle, James Newcome.
A reportagem é do sítio Religión Digital
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Política e religião: a disputa eleitoral de 2012


CEBI

Política e religião: a disputa eleitoral de 2012

Sexta-feira, 21 de setembro de 2012 - 16h26min
Política e religião: a disputa eleitoral de 2012.
Entrevista especial com Maria das Dores Campos Machado
"Estamos vendo que um grupo de pentecostais está descobrindo que pode se estruturar politicamente em agremiações", diz a socióloga.
Confira a entrevista.
"Não é só a religião que quer entrar na esfera pública ou os religiosos que querem prosseguir na política, mas as instituições políticas convocam os grupos religiosos para a política", diz a socióloga Maria das Dores Campos Machado à IHU On-Line, por telefone, ao avaliar o cenário político e as relações estabelecidas entre religião e partidos políticos no Brasil. A capacidade de mobilização dos religiosos, assinala, "tem feito com que eles ganhem uma projeção política e uma capacidade de barganha junto aos políticos".

Apesar dessa relação não ser recente na história brasileira, talvez o que esteja incomodando nas disputas eleitorais deste ano é o fato de que "os partidos estão sendo hoje, de certa forma, disputados pelos evangélicos", menciona. Maria das Dores cita o caso do candidato à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, que é católico e concorre à prefeitura pelo Partido Republicano Brasileiro - PRB, liderado por membros da Igreja Universal do Reino de Deus. "Tem uma novidade no ar. É quase como se ele estivesse experimentando uma nova estratégia: aliar-se com os evangélicos. Além disso, ele não é um católico qualquer; é um católico que estava trabalhando na Record. (...) A novidade que tem aí é um pouco neste sentido: os grupos evangélicos estão procurando agremiações partidárias onde eles possam agir mais livremente conforme os seus interesses", constata.

Na entrevista, concedida por telefone, a socióloga aponta para uma possível transferência de votos do PT para o PRB em São Paulo. "Pela citada pesquisa de opinião pública, parece que isso está acontecendo. (...) Tanto é que a Marta Suplicy entrou na disputa para tentar reverter a situação do PT". Segundo ela, desde as eleições de 1998, a Universal deslocou posições políticas do PSDB para o PT no sentido de ter uma aproximação com o partido. A estratégia, destaca, valeu uma "vitória" para a Universal "não só porque o Lula foi eleito, mas também porque a Universal teve conquistas significativas. Não é à toa que a Rede Record de Televisão é a segunda maior rede de televisão brasileira".

Na avaliação da pesquisadora, a interferência religiosa na política tem favorecido grupos conservadores, setores que têm uma agenda "centrada na família, no combate ao aborto e no combate à homofobia e todas às demandas do movimento LGBT". E dispara: "Há um jogo de alianças de alguns grupos pentecostais em desenvolvimento, que foram muito significativos nos últimos anos. (...) Isso é interessante porque, ao mesmo tempo em que a Universal perde fiéis, ela ganha enquanto grupo, enquanto empresa, ou seja, o grupo ganha enquanto força política".

Maria das Dores Campos Machado (foto) é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, mestre e doutora em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução - SBI/IUPERJ. Realizou pós-doutorado no Instituto de Desarrollo Económico y Social de Buenos Aires, e leciona na UFRJ.


Confira a entrevista.

IHU On-Line - Os dados do censo apresentam alguma novidade em relação ao mapa religioso brasileiro?
Maria das Dores Campos Machado - Têm duas grandes tendências que são interessantes: a expansão dos evangélicos e o declínio dos católicos, porque é primeira vez que cai o número absoluto de fiéis da Igreja de Roma. O outro dado importante é o crescimento dos evangélicos que falam que não têm denominação. Isso é uma novidade, porque já conhecíamos o católico não praticante, mas agora aparece a figura de um ator religioso evangélico que diz não estar vinculado a nenhuma denominação, apesar de ser evangélico. Então, isso nos dá a impressão de que os vínculos com as denominações evangélicas, que eram muito mais acentuados do que entre os católicos, também estão se afrouxando. Na medida em que os evangélicos vão crescendo, eles também ficam mais parecidos com a sociedade e com os católicos, ou seja, se dizem evangélicos, mas não praticam, não conhecem a doutrina. Da mesma forma que existe um hiato entre o que fala o Vaticano, o que fala a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, e o que fazem os católicos, pode igualmente crescer um hiato entre os evangélicos. Nesse caso, os pentecostais estariam "se abrasileirando", se tornando mais parecidos com a população brasileira, e perdendo um pouco o caráter exemplar. Quando o grupo religioso é menor, o controle sobre os fiéis é muito maior. Quando o grupo cresce, a capacidade de controle sobre ele se torna menor, e a tendência também é haver um afrouxamento dos vínculos.

IHU On-Line - Quais são as características e as razões dessa transformação do campo religioso brasileiro em curso?
Maria das Dores Campos Machado - Os grupos evangélicos são muito mais fragmentados e se, por um lado, eles têm mais dificuldades em termos de capacidade de poder na sociedade, por outro, a fragmentação permite uma agilidade e faz também com que eles consigam uma maior penetração dentro de diferentes grupos sociais. Diante desse quadro, percebemos que existe aí uma crise da Igreja Católica, que não é apenas uma crise nacional como também uma crise no âmbito internacional, por causa de uma dificuldade muito grande de adaptação ao contexto moderno. Isso vai desde a questão da consagração de mulheres, que não é admitida, à dificuldade de aceitar, por exemplo, o uso de contraceptivos artificiais - e mesmo o divórcio. Num contexto onde há um crescimento do feminismo, dos movimentos homossexuais, a Igreja Católica parece estar "meio de costas" para esses movimentos sociais e rejeita o diálogo com eles. Enquanto isso, pequenos grupos religiosos se aproveitam não só dessa dificuldade da Igreja, mas também se organizam de outras maneiras. A Igreja Católica tem uma estrutura muito complicada no sentido de se organizar em paróquia, porque qualquer mudança requer um controle muito grande do Vaticano, enquanto que no mundo evangélico as igrejas surgem na garagem de uma casa ou num galpão. Elas aproveitam "um vazio" que é, ao mesmo tempo, um vazio do Estado que não está presente, e um vazio deixado pela Igreja Católica propriamente dita.


Católicos x evangélicos
Recentemente percorri a Baixada Fluminense, e num bairro encontrei 48 igrejas, sendo que 47 eram templos evangélicos e um era católico. Esses dados demonstram um desequilíbrio muito acentuado em função das características de cada um desses grupos. Como a Igreja Católica enfrenta inúmeros desafios, os evangélicos conseguiram um espaço muito grande para crescer. Eles têm uma enorme plasticidade e são capazes de assimilar tendências de diferentes campos, além de conseguir ressignificar e dar um novo tratamento a novas bandeiras. Além disso, eles conseguem introduzir novas visões de mundo, como a teologia da prosperidade, que está relacionada com os valores norte-americanos.
Então, os evangélicos conseguiram introduzir junto às camadas populares uma concepção de mundo que é muito mais individualista e muito mais afinada com o neoliberalismo. É uma concepção de mundo que aposta na capacidade do indivíduo resolver os seus problemas, desde que aja com perseverança, com fé e atue de forma a conseguir as coisas: se ele fizer acordos com Deus, se apostar nisso, poderá conquistar o seu sucesso.
Individualismo
Veja bem, são grupos que estão trazendo elementos para as classes populares que até então estavam mais presentes na classe média brasileira, ou seja, a ideologia do individualismo. Entretanto, são individualismos diferentes. Nas classes médias, o individualismo entra através de diferentes elementos da cultura da psicanálise. Nas classes populares, esse individualismo chega através do pensamento religioso. Para as mulheres, isso é muito importante, porque a maioria dos pentecostais pobres é do sexo feminino. Então, a ideologia reforça a capacidade do indivíduo, ou seja, a mulher pode conseguir dinheiro, pode trabalhar, tem que desenvolver as suas habilidades, tem que ser autônoma. Com esse discurso, cria-se uma disposição nas mulheres pentecostais; é como se estivessem dando uma justificativa no plano ideológico, mas é uma justificativa diferente, por exemplo, da justificativa do feminismo. O feminismo também tem toda uma ideologia favorável ao trabalho feminino, mas as mulheres precisam trabalhar para elas terem autonomia, para elas se sentirem bem, para elas conhecerem, para elas saberem das coisas. Por sua vez, o discurso religioso estimula as mulheres a saírem para a esfera pública por outro motivo, porque a mulher precisa sustentar os filhos, sustentar a casa. Não se trata tanto da vontade feminina ou da autorrealização como sujeito, mas da possibilidade de as mulheres poderem prosperar.

IHU On-Line - É possível estabelecer alguma relação entre os dados do censo em relação à religião com o cenário político atual? O declínio das religiões tradicionais e a ascensão dos evangélicos podem se manifestar na representação política?
Maria das Dores Campos Machado - A força dos grupos políticos evangélicos é inegável. Eles têm hoje uma capacidade de influência muito maior do que tinham na década de 1980, e isso tem a ver com a capacidade de mobilização.

Quais são os movimentos sociais que hoje colocam as pessoas na rua? O Movimento dos Sem Terra - MST, o movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros - LGBT, e o movimento pentecostal. São esses os três que conseguem fazer grandes manifestações. Os movimentos pentecostais mobilizam as pessoas nos seus templos e nas grandes paradas, como a Parada para Jesus, e os grandes shows gospel. Essa capacidade de mobilização tem feito com que eles ganhem uma projeção política e uma capacidade de barganha junto aos políticos. De olho nesse crescimento, há décadas os partidos abriram as portas para esses atores. Então, a ideia é chamar o pastor para se candidatar, não só para ele conseguir se eleger, mas também porque ele trará votos para a legenda. Existe aí o uso pragmático das instituições políticas com relação às religiões. Não é só a religião que quer entrar na esfera pública ou os religiosos que querem prosseguir na política, mas as instituições políticas convocam os grupos religiosos para a política.


Estado x religião
Então, quando o Estado convoca as igrejas ou faz uma política pública e chama uma igreja para participar da implementação, ele está legitimando a ação dessas instituições. A Pastoral da Criança, uma política pública para as crianças, é desenvolvida há vários anos pela Igreja Católica. Quando o PT e a Dilma elaboram uma política para combater o crack, o que acontece? A fundação de comunidades terapêuticas por parte de Igrejas. Então, em vez de o Estado tomar para si a tarefa de cuidar do dependente de droga, o que faz? Dá dinheiro para as igrejas resolverem esse problema. Quando o Estado faz isso, ele convoca as instituições para fazerem política. Por isso tem crescido não só a participação dos evangélicos nas causas legislativas, mas também as parcerias com o governo têm crescido de forma acentuada. Essa é uma demanda legítima deles na medida em que a Igreja Católica e os espíritas participam das políticas públicas.

Um dos grandes problemas dessa atuação religiosa na esfera social é que as pessoas, ao receberem os benefícios, não os percebem como sendo uma ação do Estado, e atribuem as políticas públicas à religião. Isso acaba por favorecer mais ainda o grupo religioso. Percebemos que, além desse crescimento do número de parlamentares com identidade evangélica no Congresso, nas diferentes instâncias legislativas apoia-se a atuação das igrejas, um pouco como coronéis, negociando com os executivos ou com os candidatos o apoio político nas campanhas eleitorais. É o que está acontecendo agora em São Paulo.

IHU On-Line - Como vê a relação entre partidos políticos e religiões? O que as religiões agregam ou desagregam aos partidos? O que significa, no Brasil, o trânsito interpartidos e o trânsito inter-religioso?
Maria das Dores Campos Machado - Esse deslocamento das fronteiras entre os partidos políticos e as igrejas não é novidade. Basta considerar a existência do Partido Democrata Cristão. Quando analisamos a fundação do PT e o crescimento dele no Brasil como um todo, fica claríssima a importância da Igreja Católica, principalmente com os cristãos ligados à Teologia da Libertação.

O que talvez esteja incomodando é que os partidos estão sendo hoje, de certa forma, disputados pelos evangélicos. Então, por um lado têm partidos que contam com bispos e pastores em seus diretórios, como o Partido Social Cristão - PSC, que tem dezessete representantes no Congresso Nacional, sendo doze deles da Assembleia de Deus. O vice-presidente do partido é Everaldo Dias, um pastor da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, que foi responsável pelo programa Cheque Cidadão, no governo Garotinho. A máquina do PSC está nas mãos da Assembleia de Deus. Por outro lado, um grupo dessa denominação conseguiu recentemente o registro do Partido Ecológico Nacional - PEN, e outro grupo quer criar o Partido Republicano Cristão - PRC.

Estamos vendo que um grupo de pentecostais está descobrindo que pode se estruturar politicamente em agremiações. Eu já entrevistei muitos deputados federais e estaduais, principalmente do Partido Democrático Trabalhista - PDT, e eles têm muito preconceito com os candidatos religiosos. Os que estão no PT se queixam muito disso também. A própria Marina Silva demorou muito a assumir a sua condição religiosa por causa da discriminação no interior dos partidos. Então, embora os partidos abram a possibilidade da candidatura para os integrantes de instituições religiosas, eles as discriminam.

Por um lado, a Universal teve uma eleição - creio ser a de 2002 -, em que o Partido Liberal - PL se formava dentro da Igreja da Abolição, no Rio de Janeiro. No início dos anos 2000, em sete estados diferentes o PL era dirigido por pastores da Universal. Depois, com o esvaziamento do PL, criou-se o Partido Republicano Brasileiro - PRB, que hoje também está sendo dirigido por pastores e bispos da Universal. Eles não foram para a política partidária, mas eles estão procurando agremiações partidárias para ter mais destaque, seguir a orientação de seus líderes e ter mais poder. Eles estão criando esses espaços de atuação na política nacional.

Nenhum deles criou um partido evangélico propriamente dito. É sempre um partido cristão, ou procurando ficar dentro desse aspecto. Em uma disputa majoritária, se enfatizar a identidade religiosa, pode criar obstáculos para o bom desempenho nas eleições. Na eleição majoritária existe um amplo leque de apoio, e é isso que possibilita o sucesso de Russomanno em São Paulo, porque o PRB está na mão da Universal, porém o Russomanno é católico. A Universal apostou três eleições no Rio de Janeiro com Marcelo Crivella para cargo majoritário. Ele foi candidato a prefeito e perdeu; foi candidato a governador em 2006 e perdeu; foi candidato a prefeito de novo em 2008 e perdeu. Isso porque ele sempre estava associado à imagem de bispo da Igreja Universal. Ele é pentecostal, é sobrinho do Edir Macedo.

Russomanno é um candidato católico e que está em um partido com lideranças pentecostais. Então, tem uma novidade no ar. É quase como se ele estivesse experimentando uma nova estratégia: aliar-se com os evangélicos. Além disso, ele não é um católico qualquer; é um que estava trabalhando dentro da Record. É um católico que perdeu as eleições em 2010 pelo PT para deputado federal. É um católico que também percebe que é preciso fazer alianças. A novidade que tem aí é um pouco nesse sentido: os grupos evangélicos estão procurando agremiações partidárias onde eles possam agir mais livremente conforme seus interesses.

IHU On-Line - Como explicar o fenômeno Russomanno em São Paulo?
Maria das Dores Campos Machado - Há uma série de fatores que explicam a popularidade dele. Alguns elementos da biografia de Russomanno são importantes: é alguém que estava na mídia falando sobre algo muito importante, que é a defesa do consumidor. Na medida em que o brasileiro está sendo estimulado a se transformar em um consumidor, tem alguém que o defenda. É um discurso que casa muito bem com essa expectativa de ser consumidor, prosperar, de conseguir um lugar social na sociedade brasileira. Ele tem exposição na mídia e conta com o apoio tanto na Igreja Católica como nas evangélicas. Claro que tem de se considerar que o segmento evangélico é bastante heterogêneo e que nem todo mundo o apoia. Tem um braço da Assembleia de Deus apoiando o Serra, outro apoiando o Gabriel Chalita. Os evangélicos estão divididos. Porém, existe um esforço feito pela liderança do PRB no sentido de atrair os evangélicos para o apoio a Russomanno.

IHU On-Line - Os votos dos eleitores do PT, que tinham uma expectativa de ascensão social, podem ser transferidos para partidos ou políticos que têm o discurso de Russomanno?
Maria das Dores Campos Machado - Pela citada pesquisa de opinião pública em São Paulo, parece que isso está acontecendo. Parece estar havendo uma transferência de votos. Tanto é que a Marta Suplicy entrou na disputa para tentar reverter a situação do PT em São Paulo.

Desde a eleição de 1998, a Universal começou a deslocar as posições políticas do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB para o PT no sentido de ter uma política de aproximação com este último. Algo que valeu para a Universal uma vitória, não só porque o Lula foi eleito, mas também porque a Universal teve conquistas significativas. Não é à toa que a Rede Record de Televisão é a segunda maior rede de televisão brasileira. Além disso, Edir Macedo e a Igreja Universal têm sido poupados de investigações em relação às denúncias de aviões presos com dinheiro, malas com dinheiro nas mãos de deputados em troca de apoio político.


Alianças - PT e Universal
Há um jogo de alianças de alguns grupos pentecostais em desenvolvimento, grupos que foram muito significativos nos últimos anos. Veja que desde a eleição do Lula o "voto do PT" não era só das comunidades que eles ajudaram. Para o PT chegar ao governo, foram feitas várias transformações não só no seu projeto como também no conjunto de alianças que foram sendo costuradas ao longo desses anos. Isso é interessante porque, ao mesmo tempo em que a Universal perde fiéis, ela ganha enquanto grupo, enquanto empresa, ou seja, o grupo ganha enquanto força política.

As demais igrejas acabam copiando as estratégias da Universal em relação aos partidos políticos. Da mesma maneira foi copiada aquela tendência de dividir os votos e lançar candidaturas por bairros ou por igrejas. As maiores igrejas criam assessoria política, criam comissões para poderem escolher os seus candidatos, criam escolas de formação de liderança política, ministram oficinas (workshops).

IHU On-Line - Num Estado laico, como admitir essa vinculação entre política e religião, apesar de o Brasil ter uma religiosidade característica?
Maria das Dores Campos Machado - O Brasil tem o valor da laicidade, mas na verdade o Estado não age como um Estado laico, e os grupos religiosos entendem a laicidade de forma muito peculiar. Eles acham que têm o direito de participar do Estado laico.

IHU On-Line - E qual é o limite?
Maria das Dores Campos Machado - A sociedade é que tem que definir. Os movimentos sociais precisam pressionar. As instituições precisam estabelecer parâmetro. Não é uma questão fácil, mas é uma questão que teremos de enfrentar nos próximos anos.

Quando um candidato religioso se opõe à questão da discriminação da homofobia, ele está dizendo: "Nós queremos falar que o comportamento homossexual é pecado". Nesse caso, o Estado vai dizer que as igrejas não podem falar isso? O Estado não pode fazer isso. Você percebe? É uma questão complexa. Então, vamos ter que estabelecer limites de onde a liderança religiosa pode falar, e o que é que ela pode falar. O que se entende por discriminação, por exemplo? Essa é uma questão que implica debates. E é compreensível que o movimento LGBT fique ansioso, angustiado, se sentindo injustiçado e precisando resolver a questão, mas também é compreensível que os pastores se sintam ameaçados, porque esses são temas novos, e a mentalidade não muda de uma década para outra.

A questão da homossexualidade saiu do código das doenças muito recentemente. A própria ciência tratava isso com o discurso da anomalia. Essa é uma discussão que leva tempo para ser digerida, para transformar as mentalidades e as próprias ideias dentro dos grupos religiosos.

IHU On-Line - Quais são as religiões que exercem maior influência na política brasileira atualmente?
Maria das Dores Campos Machado - A Igreja Católica sempre teve um poder muito grande, mas a forma de exercer esse poder é diferente, ou seja, a maneira de estar na política é diferente entre católicos e evangélicos.

Os evangélicos têm apostado na transferência de um capital que já existe para o campo político: o capital da liderança espiritual, ou seja, o pastor, que tem uma influência muito grande, possui uma idoneidade, e as pessoas acreditam nele. Essa estratégia tem sido bem sucedida. Eles lançam candidaturas de pastores e missionários que já têm popularidade junto dos fiéis. Então, você já tem aí um quadro diferente. No Parlamento, é possível identificar facilmente quem são os evangélicos, enquanto que os católicos não, porque eles são leigos. Têm poucos padres e sacerdotes no Congresso Nacional. Nesse sentido, o monitoramento das igrejas evangélicas é maior. Eles realmente controlam os votos. Os votos da Universal sempre foram votos fechados, e os outros partidos não opinavam; são eles que falam em quem vão votar.

Conservadorismo
Por sua vez, a Igreja Católica não precisa ter sacerdotes no Legislativo, porque ela tem outras formas de pressão. Ela pressiona através do Vaticano, do Núncio Apostólico; em Brasília, ela o faz através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Pressiona através do presidente da República, através de concordata. São formas diferentes de interferir na política direta ou indiretamente. A respeito disso, uma novidade é que, se no início dos anos 2000 se tinha uma aliança religiosa com o PT em torno da ética na política - bandeira mais progressista e ligada à esquerda -, o que aconteceu, principalmente a partir do segundo governo Lula, depois dos escândalos do mensalão, é um deslocamento da legenda política desses grupos para o campo conservador. Então, há hoje um ativismo religioso conservador, com uma agenda centrada na família, no combate ao aborto e à homofobia e todas às demandas do movimento LGBT. Isso não acontece só no campo evangélico, mas também no católico, com o crescimento do movimento de renovação carismática católica.

Estou fazendo uma pesquisa no campo católico sobre a formação de liderança tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Tem chamado a atenção o fato de os carismáticos, por exemplo, em São Paulo, estarem usando o lema "Fé e Política", que foi um instrumento fundamental na formação de lideranças nas Comunidades Eclesiais de Base - CEBs e do PT. Eles têm usado para formar parlamentares (líderes) carismáticos. Então, tais lideranças têm essa bandeira de defesa da vida, combate ao uso de embriões para pesquisa, combate à eutanásia. Estão com as bandeiras e com a agenda do Vaticano e de Santa Sé. Estamos vendo o deslocamento de um ativismo que está bem alinhado com o conservadorismo.


Mudança política
É nesse sentido que incomoda muito o crescimento da campanha do Russomanno. Ela incomoda e é curioso, porque São Paulo também é um estado onde o Opus Dei é muito forte. Entretanto, eles estão meio perdidos e não sabem bem o que está acontecendo. Por outro lado, a elite paulista é conservadora, da mesma forma que a classe média. Todavia, nos últimos anos teve uma certa hegemonia do pensamento de esquerda em São Paulo. No entanto, está nascendo uma liderança que foge completamente a esse grupo que estava sendo responsável pelo controle político. Então, por exemplo, tem o Geraldo Alckmin que é do Opus Dei, mas tem também lideranças do PSDB, como o Fernando Henrique Cardoso, que não tem religião. Trata-se de um jogo de forças que serve de contraponto. Agora entra um ator (Russomanno) aí que tira tudo do lugar, todas as peças que já eram conhecidas, e introduz elementos que, até bem pouco tempo, não eram vistos com bons olhos. Basta lembrar que, na primeira metade dos anos 1990, o Edir Macedo estava na prisão acusado de charlatanismo.

IHU On-Line - Como vê o uso dos templos para apresentar candidatos? Nesse sentido, como as igrejas se tornaram celeiros de votos?
Maria das Dores Campos Machado - As igrejas não utilizam apenas o templo. Distribuem DVDs pelos correios também. Uma amiga recebeu um DVD defendendo a candidatura do Eduardo Paes. Quer dizer, são acionados vários mecanismos. Então, quem não vai ao templo recebe DVD em casa, recebe torpedo, e-mail, mensagens no Facebook.

A peculiaridade do templo é o fato de que ali dentro estão concentradas pessoas com muita carência de espaços para debates, para conversa e para discussões sobre qualquer tema. A igreja é uma alternativa e quem está ao lado do candidato é uma pessoa que tem reconhecimento da comunidade. Então, é alguém que está dizendo: "Vote nesse aqui, porque nele eu confio". A Assembleia de Deus de Santo Amaro apoiou o Russomanno nos templos, e os pastores falaram para os fiéis que o Gilberto Kassab tinha cobrado uma multa de 5 mil reais, porque eles colocaram o nome do candidato na porta da igreja, e isso estava em desacordo com as normas da prefeitura.

Quando mais baixo o nível de escolaridade das pessoas, menos elementos elas têm para formar opinião. Então, o que acontece? A pessoa vota de acordo com as indicações que recebe na igreja. Agora, dentro das regras democráticas ou dentro da nossa legislação, isso não é permitido. Mas quem controla? Existe o Tribunal Regional Eleitoral para fiscalizar, e isso tem de ser cobrado, tem de ser multado.

IHU On-Line - O que é possível vislumbrar para as próximas eleições municipais, considerando a relação entre política e religião?
Maria das Dores Campos Machado - A identidade religiosa está sendo uma dimensão acionada pelos políticos e pelos grupos religiosos. Ela está sendo usada como instrumento, e não podemos dizer que ela irá determinar o voto.

Quando o Russomanno católico se junta com o partido dominado pelos líderes da Universal, ele faz uma mistura onde a identidade cristã prevalece. Também têm crescido as alianças entre carismáticos e pentecostais no Congresso Nacional. Estamos conduzindo uma pesquisa na área e entrevistamos recentemente uma assessora evangélica. Ela nos contou que acompanha um padre católico em todos os gabinetes para fazer campanha contra o aborto e pressão aos parlamentares. Perguntamos por que ela acompanha o padre, e ela responde: "Porque assim nós agradamos tanto aos evangélicos como aos católicos". Então, nesse sentido, pode estar acontecendo um ordenamento novo, em que os conservadores aliados irão colocar um projeto cristão acima de um projeto que seja da Assembleia de Deus, que seja da Universal, que seja da presbiteriana etc.

Percebemos que os grupos conservadores estão se aliando não só no Congresso Nacional, mas também na sociedade civil. No plano do Congresso Nacional, os evangélicos fizeram uma parceria com a CNBB e mudaram o nome do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política, em abril de 2011, para Fórum Nacional Cristão de Ação Social e Política. No plano da sociedade civil, foi criado um movimento no Brasil chamado "Em Cristo", que reúne pastores pentecostais e lideranças carismáticas.
Esse movimento já fez vários encontros nacionais e tem uma liderança forte em São Paulo, que é carismática, e a CNBB acompanha e monitora isso muito de perto. Então está acontecendo algo que pode ser pensado como uma saída no campo conservador, que serve de contraponto para as tentativas ecumênicas da década de 1960, início de 1970. A aproximação de hoje, diferentemente da década de 1960, é muito mais em torno de plano espiritual e valores morais cristãos. Então, têm coisas acontecendo na sociedade brasileira que teremos de enfrentar não só nessas eleições, mas nas próximas também, no meio dessa força conservadora.
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

CEBI - Centro de Estudos Bíblicos
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Neoliberalismo


NEOLIBERALISMO

O neoliberalismo deseja surrupiar a esperança do coração dos homens e mulheres, e, se possível for, mata-la de forma inexorável. Pretende, entretanto, ir além: entronizar o Deus mercado, o Todo Poderoso.
A esperança, amiga e parceira da utopia e das lutas para traduzir o sonho de um mundo justo, saudável e digno para todos. Um mundo humano, enfim. Um mundo onde a natureza tenha vez, sem ser transformada em comodities.
Os pensadores do neoliberalismo, Hayek e Popper entre eles, sustentam que qualquer tentativa de estabelecer um planejamento que regule ou intervenha no mercado, que proteja as relações entre desiguais implica numa centralização do poder. Toda e qualquer coisa que cheire a socialismo, cabal e definitivamente derrotado com o fim da URSS e do “socialismo real” do leste europeu e da África cheira a utopia de uma sociedade sem relações mercantis. E esta utopia é irreal, nefasta e impossível de ser realizada, pois não é possível ter um conhecimento perfeito das forças sociais envolvida no fluxo de mercadorias, produtos e serviços. Irrealista, portanto irracional e o resultado é o caos, a destruição e a tirania. E aí a liberdade e a democracia estariam em risco.
É preciso, especialmente após a derrocada da URSS, garantir e deixar claro que o Deus Mercado é o senhor da vida – e da morte – e das relações humanas. O “restolho” - Cuba, Venezuela, Irã, Bolívia e Equador – há de ser eliminado com tempo, isolamento, pressão financeira e política ou mesmo armas e golpes de Estado, explícitos ou não, como ocorreu no Paraguai.
A sociedade é e deve ser regulada pelo mercado e este está interligado e globalizado. É ele o único instrumento capaz de organizar a precariedade das relações sociais e mercantis. Ocorre, porém, que apesar de propugnar que o planejamento socialista ou estatal é impossível e autoritário ele considera que é possível (onde, como?) pelos mecanismos de mercado – oferta e procura, egoísmo e concorrência. Uma concorrência que seria perfeita mas que ocorre, necessariamente entre desiguais. O mercado funciona na medida em que esta em equilíbrio e o equilíbrio acontece quando e apenas se o deixarmos agir sem qualquer regulação ou limite.
 Mesmo que isto cause exclusões sociais e dramas humanos, ameace a vida ou a natureza, tudo em nome da racionalidade liberal burguesa que rege a única realidade possível – para eles, os donos dos meios de produção e do poder. Ocorre que de nenhuma forma estas questões são explicitadas, já que as forças sociais envolvidas estão alocadas de forma desigual, já que o desemprego estrutural garante um exercito de “marginais” a serem aproveitados – explorados e aviltados seria melhor dizer.
Em toda discussão neoliberal os conceito chave adotados são desenvolvimento, crescimento do PIB, dívida, déficit fiscal etc. Em nenhum momento são de fato discutidas as reais e objetivas condições de vida – e morte de grande parte da população, respeitadas apenas como consumidores.
Para Hayek o homem – visto de forma realista – é egoísta e apenas o mercado permite a regulação entre desejos, necessidades, oferta e procura. O mercado passa a ser um ser milagroso que possui em si a capacidade de regular a vida e aperfeiçoar a divisão de recursos , humanos e materiais, ainda que muitos venham a fenecer por conta disso.
Todo e qualquer desequilíbrio econômico ou social deve ser enfrentado de frente, rompendo com qualquer medida que vise regular o mercado. Assim é que o capitalismo se reinventa, adotando um rigoroso esforço: rigoroso equilíbrio fiscal, para pagamento das dívidas contraídas; programa de reforma administrativa , previdenciária e fiscal, para diminuir a prestação de serviços e gastos estatais e “desonerar” o Estado; flexibilizar as relações de trabalho; a privatização de estatais e do serviço público com o consequente aumento de preços assim como a abertura do mercado para as empresas transnacionais. Evidentemente o direito de propriedade é intocável, mesmo o latifúndio improdutivo e a desnacionalização do país.
Desnacionalização feita mesmo que ferindo a autonomia e a democracia liberal, como acabamos de ver na Grécia, onde os gestores de sua economia foram indicados pelos c redores, a despeito dos desafios e necessidades da população.
Os gestores desta economia antipopular, entretanto, devem contar com a resistência crescente dos movimentos populares, até por falta de alternativas e pela própria luta pela sobrevivência, que acaba de organizar novas alternativas e caminhos, num caudal que insiste em alimentar a esperança.