APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

terça-feira, 24 de abril de 2012

homilia de 22.04


Esta fala foi feita neste fim de semana. O texto não está redondinho, mas creio que dá para nortear uma boa reflexão...

Miquéias 4, 1 - 5           Atos dos Apóstolos 4,                Lucas

Comecemos hoje pelo texto de Miquéias, onde relata que os povos vão à Casa de Deus, onde Iahweh ensinará seus caminhos e caminharemos pelas suas vias. Estes caminhos e vias significarão a construção da paz efetiva, assim como a possibilidade de “cada qual se sentará debaixo de sua vinha e debaixo de sua figueira, e ninguém o inquietará...” Lembremo-nos que o acesso à vinha e à figueira apontam para a posse da terra, que em uma sociedade rural significa a garantia de ter acesso aos bens necessários para assegurar a vida. Significa, então, justiça para todos.
No segundo texto os apóstolos estão em julgamento perante os poderosos despidos de poder - e o texto realça que eram eles iletrados e sem posição social – para responder em nome de quem e com que poder foi feito a cura / salvação do enfermo. É em nome de Jesus cristo, o nazareno, o crucificado, o ressuscitado. É no nome do desprezado, é em Sua presença que a salvação nos vem, também hoje. É ainda hoje, o caminho, a verdade e a vida, vida plena para todos.
Em Lucas, logo que Jesus aparece ressuscitado ele os saúda com a Paz / Shalom, que não é abstrata, mas integral, que envolve corpo e a vida toda. Imediatamente Jesus ostra suas mãos e seus pés e mostra toda sua concretude e corporalidade como ressuscitado. Não é um fantasma! O ressuscitado de Nazaré come o peixe oferecido na intimidade e partilha da refeição compartilhada. Notemos que ele se apresenta à comunidade reunida – e não apenas a seu líder. Juntos, no amor e na partilha, assim como na eucaristia, podemos receber a Graça de perceber Sua presença e alimentarmo-nos para o serviço aos sofridos – a Glória manifestada de Deus.
A ressurreição de Jesus atesta que Jesus, o nazareno, o galileu, o desprezado, o crucificado era sim o Messias, o servo Sofredor, que nos convoca a seu caminho, o caminho da cruz e do serviço. Vale aqui lembrar que a primeira vez que apareceu o termo ressuscitado na Bíblia é em 2 Macabeus, 7, sendo entendido como prêmio dos justos, ligado, portanto, a uma vida e um compromisso social e não às qualidades heroicas ou especiais de um indivíduo. Jesus, o ressuscitado, é o testemunho que o desprezado, o galileu, o crucificado e sua vida de serviço é a expressão visível do agir de Deus, é a assinatura reconhecida de que é o Messias.
Com a mente aberta e o Jesus verdadeiro e crucificado reconhecido as Escrituras – e só então isto é possível – podem ser lidas e entendidas, amadas e vividas.
Meus irmãos, minhas irmãs, o Pai nos envia seu Espírito em Pentecostes para sermos suas testemunhas vivas de que o pecado pode ser remido, de que podemos e devemos testemunhar uma vida animada pelo Espírito e pelo Amor – revelado e experimentado em Jesus Cristo na comunidade.
Possamos também nós nos reconhecer nesta comunidade, possamos reconhecer e experimentar o Cristo ressuscitado, possamos partilhar nossos bens, nossas vidas, nossos corpos, para que todos sintam o sabor da justiça, da vida da ressurreição.
Que assim seja!