APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 16 de junho de 2012

Pequenas Sementes - homilia de 17/06


Ezequiel 31, 1-6. 10-14      II Corintios 5, 1-10    Marcos 4, 26-34
Que belos textos! Que belo tecido formam unidos a nosso coração!
No caminhar que nos apontam, há a história do cedro, contada ao faraó do Egito, e hoje também contada a ti, a nós. Grandioso, forte, altivo! Pois bem, o Senhor Iahweh o rejeitou!
Na segunda Carta aos Coríntios temos, já no capítulo 4, que lemos uma parte na semana passada, a noção de que somos vasos de argila, frágeis e passageiros. Estavam os cristãos atribulados por todos os lados, mas não esmagados, postos em estremas dificuldades, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados, prostrados por terra, mas não aniquilados. Aqui fala mais, que a obra de Deus não é feita pelas mãos humanas. Como diz no final do texto do capítulo 4: Não olhamos para as coisas que se vêem, mas para as que não se vêem: pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é o eterno. Aponta sim para o futuro escatológico, para a nossa ressurreição.
Queremos, entretanto, alargar nossa reflexão.
Há homens cheios de poder, de prepotência, de arrogância. Apoiados pelo poder político, pelo seu dinheiro, pela mídia, pela casa protegida, pelo carro blindado. Todos seguem mortais, frágeis ontologicamente... Há também, aqueles que se acham acima dos mortais, cheios de si, fundados e arraigados numa fé fundamentalista e arrogante, em chavões religiosos vazios, que têm a certeza de sua salvação e de que o único caminho válido é o seu, que saem por aí a julgar a todos a bel prazer. Apenas toleram o diferente, não sabem, de fato, o que é amor, talvez mergulhados num medo que exige certezas fáceis e pouco exigentes.
Temos nos textos de hoje a clara colocação de que o poder não é o vaso onde as coisas de Deus crescem.
No Evangelho de Marcos há a semente lançada pelo homem, que não vê seu crescimento. A ele o trabalho é pequeno: lançar  a semente! |O Reino de deus possui em si mesmo uma força secreta que o leva até a sua plena realização. O grão de mostarda é a menor de todas as sementes, mas cresce, e cresce, cresce muito!
Não somos, quando nos colocamos nos braços do Senhor, nós que agimos, mas Ele mesmo. Há um conceito no hinduísmo que é o de Karma Yoga. Yoga é caminho. Karma é ação. Karma Yoga é o caminho de ação como meio de chegar a Deus. Não se trata de cair no ativismo ou de se olhar o Senhor da história a partir de conquistas atingidas, de resultados, já quer esta é a lógica da eficiência, a lógica capitalista. Este é um caminho que nos afasta do Senhor da vida. Os que se intitulam apóstolos ou “servos especiais” do Cristo a muito se afastaram do deus que se imolou na cruz, que se fez serviço e amor salvífico. Karma Yoga é atuar em todas as coisas, em todas as mínimas coisas tendo a convicção, a certeza e o sentimento de que não somos nós que agimos, mas o próprio Deus e a Ele os resultados e a Glória. No mundo de hoje, até em discursos religiosos, a s bênçãos e conquistas é o que importa. Quanta prisão! Se, entretanto, agirmos como uma reles vassoura nas mãos Dele, os resultados – sucesso ou fracasso – não nos pertencem mais, a vanglória, o sucesso e a vaidade sumirão, as angústias e ansiedades perdem sentido. A nossa vida acaba por tornar-se cheia de cor, alegria, poesia. Tudo é Graça, percebida como Graça e gratuidade. Poderemos ter olhos para ver as flores, que pelo caminho vão surgindo, e colher e sentir seu aroma, uma a uma.
A Glória de Deus não nos pertence, a Sua presença acontece, apesar de nós e nas nossas fragilidades. Não se dá apenas por cuidarmos e servimos a vida e o povo que sofre, no seguimento dos passos do Mestre. O acontecimento Dele se dá pelo serviço à vida num mundo de morte, mas num serviço não mecânico, no amor Sacramento, quando o outro é visto como o próprio Cristo a ser amado, adorado e louvado. Em pequenas sementes, em canções e poesias, pequenas e insignificantes, que apontam, testemunham a insistência de sua presença aqui, agora e eternamente.
Queridos irmãos, queridas irmãs,
Mesmo com uma fé pequena, pequenininha como o grão de mostarda, possamos nos permitir sermos regados todos os dias pelo rio da Palavra – alimento salvífico. Tornemo-nos alimento, milho, pão e vinho. Sejamos digeridos, “sumidos”, transformados em fermento, que não se vê. Sejamos poesia, inútil, mas que canta e rega sonhos, que expressa o inefável, o Amor, o próprio Deus.
Sejamos sempre, sempre e sempre, para sempre, pequenos e humildes vasos nas mãos do Santo oleiro, o Santo Espírito.
Uma música simples.
O Evangelho de vida para o mundo inteiro, para todos, em que sejamos, mesmo, uma grande família, sem excluídos, sem esquecidos.
Um vaso novo.
Amém!

o que parece insignificante pode conter a grandiosidade de Deus


CEBI

O que parece insignificante pode conter a grandiosidade de Deus

Quarta-feira, 13 de junho de 2012 - 8h50min
Chama a atenção nas narrativas dos evangelhos a abundância de parábolas atribuídas a Jesus. As parábolas pertencem ao gênero da sabedoria e, a partir de situações comuns de vida, permitem que seja extraído um ensinamento ou uma motivação à ação. Particularmente, servem também para ilustrar os mistérios de Deus.
Pela simplicidade das imagens usadas por elas, as parábolas têm um sentido didático de favorecer a compreensão da revelação de Deus. As parábolas utilizadas por Jesus, com um determinado sentido original, frequentemente foram, pelo processo histórico de transmissão, adaptadas às novas situações das comunidades.
Estas duas parábolas do evangelho de hoje são um estímulo e um fortalecimento da esperança nas comunidades. O lavrador aplica-se com esforços na semeadura e no cultivo da sua plantação. Porém, a vida que se desenvolve a partir da semente é obra de Deus. E uma insignificante semente já tem em si certa grandiosidade que é revelada com o decorrer do tempo.
Os sistemas opressores tecnológicos e econômicos, hegemônicos neste mundo, defendem um determinismo do progresso que os beneficia. Este progresso é proclamado como inevitável, e as exclusões e sacrifícios de vidas decorrentes são consideradas necessárias. Porém, estas parábolas das sementes vão no sentido de fortalecer o projeto de Deus que vem resgatar a vida sobre a terra.
O projeto de Jesus parece frágil diante dos poderes deste mundo. Contudo, o desabrochar e o crescimento deste projeto é a obra de Deus que não será colhida por ninguém. Com imagens tão simples e belas da natureza compreende-se que Deus comunica sua vida a todos, sem discriminações, não havendo ninguém que possa impedi-lo.
Ainda mais, o que parece insignificante hoje, está a caminho de sua plena realização. O Reino de Deus é o banquete da celebração da vida plena para todos, e esta vida vai se manifestando até atingir sua plenitude. Aos discípulos é esclarecido o sentido das parábolas.
"Discípulos" são aqueles, dentre a multidão, que acolhem em seus corações as palavras de Jesus e se aproximam dele, formando comunidade. Comunidade, não hermética, de iluminados, mas aberta, de corações acolhedores, solidários e compassivos. A tradição de Israel expressa pelo profeta Ezequiel colocava sua esperança em atingir, sobre o Monte Sião, a estatura grandiosa dos cedros do Líbano. Contudo, Jesus descarta esta imagem, substituindo-a pela hortaliça mostarda, que, sem grandiosidade, se multiplica às margens do Mar da Galiléia e, humildemente, abriga as aves dos céus.
Fonte: www.paulinas.org.br

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Não é possivel abrir caminhos para o Reino de Deus de qualquer maneira - Pagola


CEBI

Não é possível abrir caminhos para o Reino de Deus de qualquer maneira - José Pagola

Sexta-feira, 15 de junho de 2012 - 11h10min
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 4,24-34 que corresponde ao XI Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto...
Com humildade e confiança
Preocupava e muito a Jesus o fato de que seus seguidores terminassem o dia desalentados ao ver que os seus esforços por um mundo mais humano e ditoso não obtinham o êxito esperado. Esqueceriam o reino de Deus? Manteriam a sua confiança no Pai? O mais importante é que não esqueçam nunca como devem de trabalhar.
Com exemplos retirados da experiência dos camponeses da Galileia, anima-os a trabalhar sempre com realismo, com paciência e com uma confiança grande. Não é possível abrir caminhos para o Reino de Deus de qualquer maneira. Tem que ver como Ele trabalha.
O primeiro deles é saber que o seu trabalho é semear, e não colher. Não viverão pendentes dos resultados. Não se devem preocupar com a eficácia nem com o êxito imediato. A sua atenção centra-se em semear bem o Evangelho. Os colaboradores de Jesus têm de ser semeadores. Nada mais.
Depois de séculos de expansão religiosa e grande poder social nós, os cristãos, temos que recuperar na Igreja o gesto humilde do semeador. Esquecer a lógica do colhedor que sai sempre a recolher frutos e entrar na lógica paciente de quem semeia um futuro melhor.
O início do semear é sempre humilde. Mais ainda se se trata de semear o Projeto de Deus no ser humano. A força do Evangelho não é nunca algo espetacular ou clamoroso. Segundo Jesus, é como semear algo tão pequeno e insignificante como "um grão de mostarda" que germina secretamente no coração das pessoas.
Por isso o Evangelho só se pode semear com fé. É o que Jesus quer lhes fazer ver com as Suas pequenas parábolas. O Projeto de Deus de fazer um mundo mais humano leva dentro uma força salvadora e transformadora que já não depende do semeador. Quando a Boa Nova desse Deus penetra numa pessoa ou num grupo humano, ali começa a crescer algo que a nós nos desborda.
Em momentos como esse, na Igreja não sabemos como atuar nesta situação nova e inédita, em meio a uma sociedade cada vez mais indiferente a dogmas religiosos e códigos morais. Ninguém tem a receita. Ninguém sabe exatamente o que há para fazer. O que necessitamos é procurar caminhos novos com a humildade e a confiança de Jesus.
Mais cedo ou mais tarde, nós, os cristãos, sentiremos a necessidade de voltar ao essencial. Descobriremos que só a força de Jesus pode regenerar a fé na sociedade descristianizada dos nossos dias. Então aprenderemos a semear com humildade o Evangelho como início de uma fé renovada, não transmitida pelos nossos esforços pastorais, mas gerada por Ele.
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
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JUVENTUDE E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL: perspectivas ecumênicas


CEBI

Juventude e Justiça Socioambiental: perspectivas ecumênicas

Sábado, 16 de junho de 2012 - 1h10min
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O livro da REJU Juventude e Justiça Socioambiental: perspectivas ecumênicas reúne as motivações e desejos da juventude ecumênica de falar de crises e alternativas ambientais. O livro reúne análise e poesia, ativismo e dança, Bíblia e teologia. No coração do livro a juventude apresenta 5 estudos bíblicos que merecem ser "escutados" e "dialogados" com os grupos que fazem leitura popular da Bíblia. Uma nova geração de biblistas - meninos e meninas - vem chegando e o CEBI compartilha deste espaço comum com muita alegria sob os olhares de benção e desafio de Leonardo Boff e Ivone
O livro será lançado no próximo dia 19, na cúpula dos Povos, durante a Rio+20.
Compre ou escreva para vendas@cebi.org.br.

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

FORMAÇÃO: EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E MOVIMENTO SOCIAL

O curso tem a proposta de fornecer conhecimento teórico da perspectiva marxista num diálogo com a vida concreta das pessoas e da atuação prática em movimentos sociais, em especial de pessoas que já atuam da defesa dos interesses populares, das mulheres e da educação popular com as camadas mais desvalidas  da sociedade. Poderei colocar as reflexões oriundas de meu caminhar, inclusive teológico, a serviço de pessoas que buscam ter mais consistência no pensar de sua vida e de suas práticas pessoais e sociais e que se deparam com os conflitos institucionais e com os diversos grupos políticos que se trituram na caminhada, perdendo o referencial concreto da vida. Esperamos fazer, juntos, uma caminhada dialógica e  com dinâmicas em que todos possam exercer o direito da fala e da construção de um saber compartilhado.
Será uma deliciosa partilha de saberes e de vidas em conluio amoroso.
“A educação é um ato de amor, por isso, um 
ato de coragem. Não pode temer o debate. A
análise da realidade. Não pode fugir a
discussão criadora, sob pena de ser uma
     farsa.”.

Paulo Freire, in: Educação como Prática da Liberdade (2006:104)


Formação: Educação, Sociedade e Movimento Social.

Início: 30 de junho – Horário: das 9hs às 13hs.

Local: Paróquia Santos Mártires – Rua Luis Baldinato, 09 – Jd. Ângela

Contribuição solidária: R$ 15,00

Formador: Paulo César Portellada

Filósofo, pós-graduado em Direitos Humanos pela PUC de Goiás, cursou
também Administração de Empresas e Direito, pós graduação em Ensino
Religioso e também
 em Bíblia. Cursando Teologia na Universidade Metodista. Foi
coordenador de Pastoral da Juventude, e da Pastoral Universitária. Foi
da equipe de planejamento da Arquidiocese de SP na gestão de D Paulo.
Acupunturista, Terapeuta Floral, professor convidado do Curso de pós
graduação em Acupuntura para fisioterapeutas e médicos. Especialista
em Acupuntura Constitucional. Conhece teologia comparada, Budismo, Zen
budismo, Judaísmo. Ministro leigo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e biblista do Centro Bíblico Verbo Divino.


Conteúdo programático:

Interações sociais e políticas num mundo em movimento


 I – Introdução: a relação teoria e prática - Marx, história e vida.

·        Paradigmas do seu pensar: mais valia e dialética
·        Pensamento político: o centralismo democrático

II – Utopia e construção social: entendendo seu funcionamento

·        Anarquismo
·        Liberalismo
·        Socialismo
·        Comunismo
·        Neoliberalismo

III – Gramsci

IV – Movimento Social, Política e Estratégias

V – Teologia da Libertação – Teoria e Práxis

VI – O Pensamento de Paulo Freire – Fundamentos e Paradigmas.

VII – Educação Popular e Transformação Social

·        Questões e questionamentos
·        Economia Solidária e seu Papel
·        Gestão, conhecimento e Movimento Social

Inscrições até 22 de junho

Contato: 5833-6580 c/ Suzy das 10hs às 17hs.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ECONOMIA VERDE FERE MARCO DOS DIREITOS HUMANOS


CEBI

Economia Verde fere marco dos direitos humanos

Terça-feira, 12 de junho de 2012 - 20h52min
Em nota pública, rede formada por agências ecumênicas europeias e entidades brasileiras afirma que a implementação do marco regulatório internacional já existente e criado nas últimas décadas seria suficiente para produzir uma revolução nas práticas e valores para um futuro baseado em justiça ambiental, social, cultural e econômica.
O PAD - Processo de Articulação e Diálogo Internacional para os Direitos Humanos - rede formada por seis agências ecumênicas europeias e mais de 160 entidades parceiras no Brasil - divulgou nesta segunda-feira, dia 11 de junho a nota pública "Rio+20: ‘economia verde' fere marco dos direitos humanos".
No documento, a articulação afirma a Rio+20 e a Cúpula dos povos como momentos oportunos para repensar o atual modelo de desenvolvimento injusto e predatório. "Está colocada uma oportunidade de rever os paradigmas que orientam, equivocadamente, as relações de poder, produção e consumo entre países e povos do planeta, orquestrados pelos grandes conglomerados transnacionais", afirma a nota.
O documento critica a proposta da "economia verde" como solução para a sustentabilidade planetária e afirma que trata-se de mais do mesmo: "crescimento desmesurado, devastação descontrolada, sob o verniz de uma ecologia de mercado". A rede também se posiciona contrária ao que é "mais uma concessão à redução da agenda dos direitos humanos", citando o documento oficial da Conferência.
Por fim, afirma que a adesão dos Estados aos pactos de direitos humanos deve ser o real parâmetro com vistas a um desenvolvimento sustentável justo. E que "os pactos de direitos humanos e o conjunto de pactos, convenções e declarações, fruto das negociações entre os Estados, para cuidados ecológicos com vistas à sobrevivência da sociobiodiversidade planetária, constituem marcos regulatórios apropriados ao desenvolvimento sustentável e justo".
A nota atesta: "não carecemos de marcos regulatórios, senão de implementação dos mesmos. Metas do Desenvolvimento Sustentável que reproduzam as frustradas Metas do Milênio não são necessárias".
Mais informações no site do PAD: http://www.pad.org.br/

RIO + 20 - O QUE SE PODE ESPERAR?


O presente texto foi feito por Ivo Poletto, com quem tive aula no curso de pós graduação em Direitos Humanos na PUC Goiás.

CEBI

Rio+20: O que se pode esperar?

Quarta-feira, 13 de junho de 2012 - 11h13min
Acabo de ler texto em que está citada entrevista de Joseph Siglitz sobre o socorro da União Europeia à Espanha. Ele é taxativo: isso não funcionou até agora e não vai funcionar. O que se aprofundará é a dependência do Estado em relação aos bancos privados, já que os Estados repassarão algo em torno de 200 bilhões aos bancos, e os bancos suprirão as necessidades do Estado espanhol para enfrentar sua crise de endividamento. Em princípio, os bancos e o Estado ficarão mais endividados, e isso levanta a dúvida: de onde virão os recursos para enfrentar esse endividamento?

A crise europeia revela com a claridade do sol o que significa as sociedades humanas ficarem sob o domínio do capital financeiro. Já lembrava Karl Marx no século XIX: ele é como o ídolo que só se satisfaz com sangue humano. De fato, uma vez aceito que a concentração econômico-financeira capitalista é algo intocável, por ser desenvolvimento natural, só resta sacrificar a fonte da riqueza: o trabalho humano. Vale tudo para satisfazer a volúpia do dominador: crescente desemprego, diminuição do salário, corte das aposentadorias, privatização da educação, da saúde... E agora, através da Rio+20, vale também repassar ao dominador os bens naturais, os serviços ambientais prestados por eles, tornando-os novas commodities e novos créditos especulativos...

Em outras palavras: mantido o mantra de que não se pode nem deve questionar o sistema capitalista dominante - como deixou claro também a presidente Dilma Rousseff em Porto Alegre, no Fórum Social Temático realizado em janeiro deste ano -, a Rio+20 só agravará a crise que afeta toda a humanidade. E provavelmente o fará entregando ao grande capital o que é, até agora, bem comum dos Povos e da humanidade, disfarçando o processo de repasse como algo "verde", algo favorável ao "desenvolvimento sustentável". Isso que está sendo denominado "economia verde" não passa de novo sacrifício de vidas, de novo sangue exigido pelo ídolo capital financeiro - sangue de humanos, de animais, de aves, de peixes, de todo tipo de ser vivo.

Por isso, o espaço em que pode desabrochar a esperança nos dias da Rio+20 é o da Cúpula dos Povos. Autoconvocada pelos Povos e Movimentos sociais que a realizam, não tem a força dos Estados submetidos aos interesses do capitalismo dominante, mas tem a força da legitimidade democrática, e seu poder se assenta nas práticas alternativas, não predadoras, não envenenadoras, não promotoras da exploração do trabalho e da natureza; práticas demonstrativas de que já é possível produzir os bens e organizar os serviços necessários a uma vida digna para todas as pessoas em cooperação e harmonia com a Terra. Sua contribuição à história da espécie humana no planeta Terra será desencadear um processo de mobilização cidadã mundial capaz de banir da vida e das metes das pessoas, por absurda, a dominação capitalista.

O desafio, para todos os participantes da Cúpula dos Povos, e esse: seremos capazes de dar este passo absolutamente necessário para a humanidade?
Ivo Poletto, assessor do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social