APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 31 de março de 2012

Homilia de Domingos de Ramos



Marcos 15, 1-39

Minhas irmãs, meus irmãos, Estamos num momento solene e, podemos dizer, de transição entre a Quaresma e a Semana da Páscoa, festa maior do cristianismo, em que a memória de sua morte é feita, assim como de sua ressurreição.
Chegamos ao domingo de Ramos, aquele que nos lembra uma frágil figura montada num burrico que entra na poderosa Jerusalém.
Os textos escolhidos hoje pela igreja nos mostra um jesus entregue pelo Sinédrio a pilatos para ser condenado sob a acusação de ser o Rei dos judeus (e não de Israel), titulo carregado de ironia pois Israel não tinha Rei nem podia tê-lo, mas também para afastar qualquer iniciativa de enfrentamento com o Império Romano e mesmo com o Templo. Interessante notar que também aqui Jesus é tentado, agora pelos poderosos e seu séquito de soldados, a mostrar seu poder através de sinais e a demonstrar a Sua força, a deixar claro que era o Messias esperado.
Ocorre, porém, que o Messias do burrico não quis, nem quer, demonstrar seu poder ,mas seu amor. Um Messias poderoso, por mais justo que fosse, não transformaria a sociedade, as relações sociais, institucionais e pessoais com a profundidade e a radicalidade que Ele nos pede como seus seguidores. O caminho da cruz, em sua época assim como permanece sendo hoje, é o resultado – não querido, mas assumido – esperado por todos os que abraçam o compromisso desafiador do profetismo, compromisso concreto e objetivo com os esquecidos pela sociedade. O Deus de Jesus nos pede que assumamos o serviço a todos, até aos servos e mais humildes. Não nos quer no topo da sociedade, das Igrejas ou como vitoriosos. Nos quer, tenho certeza, preferencialmente assumindo de forma discreta e humilde Seu caminho e sua prática de dar de comer aos famintos, socorrendo aos sofridos, amando a todos e a todas. Que os cristãos, seus ministros e suas Igrejas sirvam e não sejam servidos, amem e não sejam amados.
Jesus quando fala “Deus meu, Deus meu porque me abandonaste”, sente e assume as dores e dramas da humanidade toda, maltratada e injustiçada, sem esperanças e sem sentir Sua presença.
Nesta semana temos a oportunidade de refletir ainda mais sobre os dramas humanos irresolutos para que possamos nos preparar para a quinta feira santa, onde Jesus faz serviço de escravo e do mais baixo escravo e aponta este caminho como o único para a felicidade, e para a alegre ressurreição da Páscoa.
Temos a certeza que Deus ressuscitou a Jesus. Hoje ele nos pede que ressuscitemos a humanidade ferida de morte pelo agir de sua igreja e de seus cristãos a levar a Boa Nova, e a salvação,inclusive corporal, a tantos e tantas que fenecem pelas ruas e becos desta cidade e deste mundo. Sabemos de nossos inúmeros limites, imensas fraquezas e fragilidades pessoais. É real e concreto, palpável! Sabemos, porém, que a Graça misericordiosa nos toca, abraça, acolhe e acalanta de forma a possibilitar que, milagrosamente, possamos fazer seu serviço e manifestar seu amor e sua presença em nosso meio.
Que Deus permita que possamos ser dignos de estar a seu serviço e de poder ver e experimentar deste amor inefável espalhado e transbordando em cada irmão e irmã, em cada casa, em cada olhar, em cada corpo.
Que assim seja. Amém!