APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

“Uma vergonha”, diz Dom Erwin sobre decisão do STF de soltar acusado da morte de irmã Dorothy


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“Uma vergonha”, diz Dom Erwin sobre decisão do STF de soltar acusado da morte de irmã Dorothy

Quinta-feira, 23 de agosto de 2012 - 11h44min
O ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu o pedido de habeas corpus, determinando a expedição de alvará de soltura para Regivaldo Pereira Galvão, condenado pelo Tribunal do Júri de Belém (PA) a 30 anos de reclusão pelo homicídio que vitimou a missionária Dorothy Stang. "Recebo essa informação com espanto", declarou o bispo da prelazia do Xingu (PA), dom Erwin Kräutler.
"Não posso admitir que seja esta a Justiça de nosso país. Que Deus tenha pena de todos nós", afirma o bispo, que avalia que a decisão do STF desconsidera o que foi determinado pelo Tribunal de Júri do Pará. "Esta notícia envergonha a todos".

Com a decisão do STF, o juiz de Altamira (PA) Raimundo Moisés Flexa, expediu o alvará de soltura. Regivaldo foi solto na tarde desta quarta-feira. Está marcado, para o próximo dia 3, o depoimento do policial federal Fernando Luiz Raiol, que recentemente protocolou documento em cartório, revelando fatos sobre o assassinato da missionária que poderão ensejar a reabertura do caso.
A informação é publicada pelo Boletim da CNBB

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Condenado pela morte de Dorothy é solto no Pará


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Condenado pela morte de Dorothy é solto no Pará

Quinta-feira, 23 de agosto de 2012 - 11h42min
Acusado de ser um dos mandantes do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005, Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, foi solto na tarde de ontem no Pará, por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, concedeu na última segunda uma decisão liminar (provisória) favorável à soltura, em resposta a um pedido de habeas corpus.
Segundo seu advogado, Jânio Siqueira, Galvão estava "abatido" e foi direto para sua casa, que fica em Altamira (a 900 km de Belém). Galvão foi condenado, em maio de 2010, a 30 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Há um recurso da defesa, ainda em tramitação, tentando anular a condenação.

O ministro do STF entendeu que Galvão só pode ser preso quando o processo contra ele transitar em julgado (não couber mais recursos). Ainda de acordo com o ministro, não há provas de que, em liberdade, ele ofereça risco ao andamento do processo. O advogado de Galvão já havia pedido a liberdade ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), sem sucesso.

A missionária Dorothy Stang foi morta em fevereiro de 2005 na região de Anapu (a 766 km de Belém). O motivo, segundo a Promotoria, foi a disputa por terras com fazendeiros da região.


OUTROS ACUSADOS
Com a decisão do Supremo, Galvão será o segundo dos cinco condenados pela morte da missionária a ser colocado em liberdade. O outro que está livre, Clodoaldo Batista -acusado de coautoria no crime-, está foragido desde fevereiro do ano passado.

Além de Galvão, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, também foi condenado sob a acusação de ser o outro mandante do assassinato. Amair Feijoli da Cunha foi acusado de ser intermediário. Já Rayfran das Neves Sales, de ser o autor do crime.
A reportagem é de Aguirre Talento e foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

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Acompanhando nosso caminhar teológico latino-americano


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Acompanhando nosso caminhar teológico latino-americano

Terça-feira, 21 de agosto de 2012 - 13h19min
O Congresso Americano de Teologia "será um espaço para renovar a força do pequeno e do frágil e a capacidade de transformação da palavra de Deus com a boa nova de libertação que encerra", escreve Consuelo Vélez, teóloga colombiana, comentando a realização deste evento nos dias 7 a 11 de outubro, na Unisinos, São Leopoldo, RS.
Segundo ela, "será um congresso no qual a esperança se avivará e o amor estará presente porque, por trás da reflexão teológica, está a vida e o compromisso de muitas pessoas que chegaram até o martírio por defenderem os mais pobres e por comprometerem sua vida com a defesa de seus mais elementares direitos"
Eis o artigo.
Pouco a pouco nosso continente latino-americano tem ido se posicionando como um interlocutor válido frente aos países do primeiro mundo e tem fortalecido sua identidade cultural e religiosa, deixando de se sentir receptor de tudo o que venha de fora, para oferecer suas próprias riquezas. No campo teológico, isso tem sido claro na chamada teologia latino-americana que, partindo do método ver-julgar-agir, produziu uma teologia capaz de assumir a realidade da pobreza e da exclusão que tem marcado tanto a vida do continente e tem ido além, assumindo os novos desafios que se percebem, tais como a questão ecológica, a questão indígena, a realidade da mulher, a realidade afro-americana, o pluralismo cultural e religioso, etc. Vale a pena recordar a valoração que a 5ª Conferência do Episcopado latino-americano e caribenho deu a tal método pastoral, afirmando ele "que tem colaborado para viver mais intensamente nossa vocação e missão na Igreja, que tem enriquecido o trabalho teológico e pastoral e que, em geral, tem motivado a assumir nossas responsabilidades ante as situações concretas de nosso continente" (DA 19).
É por isso que a celebração, em outubro, do Congresso Continental de Teologia em São Leopoldo, é motivo de gozo e esperança. Com este congresso procura-se comemorar os 50 anos da inauguração do Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro Teologia da Libertação. Perspectivas, de Gustavo Gutierrez. Ambos os acontecimentos permitem entender o surgimento e o desenvolvimento da reflexão teológica latino-americana, resultado de um sincero compromisso com a colocação em prática do Vaticano II no continente.
Como preparação ao congresso, foram realizadas, durante 2011, quatro Jornadas teológicas regionais que reuniram os diversos países: na Guatemala (América Central e Caribe), no Chile (Cone Sul e Brasil), no México (Estados Unidos e México) e em Bogotá (países andinos). A partir desses encontros, a iniciativa do congresso pretende ser a de um congresso prospectivo "que mobilize a comunidade teológica para enfrentar os desafios que a emergência do novo paradigma civilizatório, as profundas mudanças culturais, os diversos movimentos sociais e as inovações científicas levantam para a teologia, como serviço às igrejas e à humanidade num mundo globalizado e excludente" (cf. Carta Convocatória do congresso).
Será um congresso católico, com abertura ecumênica, dirigido a teólogos e teólogas de caráter popular, pastoral e acadêmico, e a todos aqueles que se sentem comprometidos com o caminhar social e eclesial. Sua metodologia incluirá conferências, oficinas de participação temática, painéis abertos e cinefóruns. Temas como economia, novos movimentos sociais, sujeitos emergentes, espiritualidade, opção pelos pobres, método teológico, novos paradigmas, migrações, direitos humanos, questões de gênero, entre muitos outros, serão analisados e refletidos a partir da fé, para se avançar num discurso teológico significativo e atual para a realidade que nos desafia.
Assistirão a este congresso muitos teólogos e teólogas da primeira hora, como também muitos outros/as das novas gerações. Em todos existe essa fé inquebrantável no evangelho de Jesus, esse evangelho lido a partir dos pobres, do sofrimento dos últimos, dos excluídos e marginalizados, a partir dos desafios e questionamentos atuais que urgem crer em "outro mundo possível", organizado, não a partir do poder e do ter, mas a partir do serviço e do compartilhar. Será um espaço para renovar a força do pequeno e do frágil e a capacidade de transformação da palavra de Deus com a boa nova de libertação que encerra. Será um congresso no qual a esperança se avivará e o amor estará presente porque, por trás da reflexão teológica, está a vida e o compromisso de muitas pessoas que chegaram até o martírio por defenderem os mais pobres e por comprometerem sua vida com a defesa de seus mais elementares direitos. Esse congresso continental, que desde já vale a pena acompanhar com oração e disposição de fazê-lo possível, afirma, uma vez mais, o Deus da Vida, esse Deus comprometido com os mais pobres e pequenos, o Deus que nos salva a partir deles e com eles.
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

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INTEGRA DO MANIFESTO DOS POVOS DO XINGU


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Íntegra do manifesto dos povos do Xingu

Terça-feira, 21 de agosto de 2012 - 13h08min
Manifesto dos Povos do Xingu, reunidas na cerimônia do Kuarup, encaminhado à presidente Dilma Rousseff. Na cerimônia esteve presente Ana Buarque de Hollanda, ministra da Cultura, ocasionando um incidente.
Eis o manifesto.
À Excelentíssima Srª Presidenta da República do Brasil
Dilma Roussef
CC: À Ministra da Cultura
Srª Ana Maria Buarque de Hollanda
CC: Ao Governador do Mato Grosso
Silval da Cunha Barbosa

Nós, as organizações e lideranças indígenas do Xingu, reunidas na cerimônia do Kuarup, em 18 de agosto de 2012, na Aldeia Yawalapíti, Território Indígena do Xingu (TIX), Mato Grosso, vimos manifestar nossa insatisfação diante dos seguintes atos de violação aos direitos indígenas: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 215; o não-cumprimento da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho, na realização de grandes projetos com impactos sobre terras indígenas, como Belo Monte; as modificações realizadas no Código Florestal; as propostas em tramitação para regulamentação das atividades de mineração em terras indígenas e a mais recente e grave Portaria nº 303 da Advocacia-Geral da União.

Sendo assim, os povos indígenas do Xingu reforçam as manifestações de outros movimentos indígenas do Brasil e exigem: a) imediata revogação da Portaria nº 303 da AGU; b) pleno cumprimento da Convenção nº 169 da OIT, com destaque para o direito de consulta livre, prévia e informada dos povos indígenas; c) ação enérgica do Governo Federal para garantir a proteção de Matas Ciliares e Áreas de Preservação Permanente (APPs), tendo em vista a crescente degradação das cabeceiras dos rios que atravessam e alimentam as terras indígenas.

No momento em que o Brasil se prepara para sediar um evento de caráter mundial, as Olimpíadas de 2016, o Governo Federal usa, como estratégia de marketing, a imagem de povos indígenas, especificamente xinguanos, o que contrasta com o crescente e assustador retrocesso de nossos direitos.

É urgente que o Estado brasileiro faça mais do que valorizar as culturas indígenas de forma simbólica. É preciso que, na prática, sejam garantidos a manutenção e o cumprimento dos direitos já conquistados. Esta, sim, seria uma manifestação verdadeira de respeito aos povos indígenas, algo de que o Brasil poderia se orgulhar de mostrar ao mundo.

Assinam as organizações: Associação Terra Indígena Xingu (ATIX); Instituto de Pesquisa Etnoambiental do Xingu (IPEAX); Portal do Xingu; Associação Yawalapíti Awapá (AYA); Associação Tulukai Waurá; Associação Mavutsinim Kamayurá; Associação Indígena Kuikuro do Alto Xinzu (AIKAX); Associação Moygu Comunidade Ikpeng (AMCI); Associação Indígena Kisêdjê (AIK); Associação Uyaipiuku Mehinako; Associação Indígena Yarikayu Yudjá; Centro de Organização Kawaiwetê; Associação Aweti.

E os Povos indígenas do Xingu: Yawalapíti, Trumai, Ikpeng, Waurá, Kamayurá, Kuikuro, Kalapalo, Nahukwá, Matipu, Aweti, Mehinako, Yudjá, Kisêdjê, Kawaiwetê, Naruvutu, Tapayuna.
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

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Para Casaldáliga filme não deve ser pessoal, mas retratar as verdadeiras causas da luta


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Para Casaldáliga filme não deve ser pessoal, mas retratar as verdadeiras causas da luta

Segunda-feira, 20 de agosto de 2012 - 13h14min
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A vida de Pedro Casaldáliga, o bispo espanhol reconhecido como um dos grandes expoentes da Teologia da Libertação latino-americana e radicado, desde 1968, no distante São Félix do Araguaia (Brasil), está sendo filmada numa coprodução brasileira-espanhola para a televisão.
"Nesta terra é fácil nascer e morrer, o difícil é viver", disse Casaldáliga, da região que há 44 anos adotou, quando chegou a São Félix (no Estado de Mato Grosso, na Amazônia) e encontrou-se com um mundo de tensões sociais, onde grandes latifundiários se empunhavam sobre os pobres, camponeses e indígenas.

Hoje, com 84 anos e ainda radicado em São Félix, continua empenhado em sua luta. "Nós nos conformamos com este sistema que faz da humanidade um negócio", declarou à agência AFP, com a voz fragilizada pelo Parkinson, mas com uma lucidez intacta.

Casaldáliga também continua defendendo uma Igreja comprometida com o povo. "Hoje, mais do que nunca, a Igreja teria que ser a voz da esperança", disse, e defendeu que "o Vaticano não seja Estado, o Papa não seja chefe de Estado, que reconheça os direitos da mulher, que não seja uma Igreja de poder e sim de serviço", disse.

Este padre catalão, que nunca voltou para a Espanha, enfrentou os latifundiários, o governo e até o Vaticano em sua denúncia ao latifúndio e defesa dos camponeses, indígenas e por uma Igreja mais comprometida. Viveu ameaçado de morte por pistoleiros, e foi fundador da Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista, marcos na luta pela reforma agrária e pelos direitos dos indígenas.

"A [vida] de Casaldáliga é uma história de luta e conquista da terra, no Brasil, e a de compromisso de um homem que diante de uma situação extrema, deu uma resposta extrema, entregando sua vida para resolver essa situação. É uma história universal e isso é o que dá força ao filme", conta à agência AFP, Francesc Escribano, escritor e jornalista catalão, autor do livro "Descalço na terra roxa", que dá título ao filme, do qual também é produtor.

Uma equipe de 100 pessoas chegou a São Félix do Araguaia para as filmagens, até início de setembro. A cidade, distante 24 horas de ônibus de Brasília, hoje possui cerca de 10.000 habitantes e carece de estradas asfaltadas.

Para o filme, foram reconstruídos cenários que procuram voltar a como era 40 anos atrás: uma terra em processo de colonização, com prostíbulos e pistoleiros, explica Escribano.

O autor catalão, Eduard Fernández, interpreta Casaldáliga na que será uma minissérie de dois capítulos, com um orçamento de 3,5 milhões de euros, contando com o roteirista do premiado filme "Central do Brasil", Marcos Bernstein, em que participam a Televisión Espanhola, a catalã TV3 e a TV Brasil.

Em 1988, Casaldáliga foi chamado a Roma e submetido a um duro interrogatório pelo então cardeal Joseph Ratzinger. Interpretado como um empuxo entre dois pesos pesados da Igreja, esse diálogo é o ponto de partida do filme. Em 1985, o bispo catalão viajou a Nicarágua para apoiar a greve de fome do chanceler e sacerdote Miguel d'Escotto, e para Cuba a convite do então presidente Fidel Castro. Dele, o teólogo brasileiro frei Betto, um símbolo da esquerda católica latino-americana, afirmou: "Há no Brasil um santo e herói, Pedro Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical ao Evangelho, herói pelos riscos de vida enfrentados e as adversidades sofridas".

"Não façam um filme sobre mim, que seja um filme sobre as verdadeiras causas desta luta: a vida, a liberdade e a dignidade", pediu Casaldáliga ao seu amigo Escribano, quando soube que produziria o filme.
A reportagem é publicada pelo sítio Religión Digital

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Mães da Igreja!


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Mães da redenção

Segunda-feira, 16 de julho de 2012 - 9h24min
Qual é a diferença entre Proba, a Poetisa, e Proba, a Viúva? Será que Santa Helena realmente encontrou a Verdadeira Cruz? Qual foi a oração de Santa Mônica por Agostinho? Essas e outras questões são abordadas em um novo e fascinante livro chamado Mothers of the Church [Mães da Igreja] (Ed. Our Sunday Visitor), de Mike Aquilina e Christopher Bailey. Todos nós já ouvimos falar dos Padres da Igreja, e agora vamos ouvir falar das Mães da Igreja.

Embora o catolicismo seja acusado nestes dias de discriminação contra as mulheres por não ordená-las sacerdotisas e por fazê-las pagar por sua própria contracepção (o controverso mandato do Departamento de Saúde e Serviço Social dos EUA - HHS), o fato é que a Igreja praticamente inventou a ideia de igualdade entre os sexos com o famoso dito de São Paulo de que em Cristo "não há homem nem mulher" (Gálatas 3, 28).

Romanos do primeiro século zombavam dos cristãos por falarem e ouvirem as fracas mulheres, mas a visão cristã do mundo prevaleceu. Para conhecer a história interna desse instigante livro, o sítio Fathers for Good contatou o autor Mike Aquilina.


Eis a entrevista.

Você escreveu um livro sobre os Padres da Igreja, e agora sobre as Mães. Existe alguma substância real nas vidas das cristãs primitivas?

As vidas das mulheres cristãs são mais substanciais do que a minha vida jamais será. E elas provavelmente foram tão responsáveis quanto quaisquer homens pelo rápido crescimento da Igreja ao longo dos primeiros três séculos. A sua história não foi contada porque elas tenderam a trabalhar de formas que foram ignoradas pelos relatos históricos-padrão. Elas não foram guerreiras ou pregadoras ou legisladoras. Mas elas não sentiram necessidade de sê-lo. Elas viveram o cristianismo heroico e prodigioso em seus próprios termos.
É tão perigoso fazer generalizações sobre as primeiras mulheres cristãs quanto fazer generalizações sobre as mulheres cristãs que vivem na minha casa (eu tenho uma esposa e cinco filhas). As mulheres do nosso livro são maravilhosamente muito variadas. Há Tecla, que foi companheira de São Paulo em suas viagens. Há Proba, que foi uma poetisa, e outra mulher chamada Proba, que era uma administradora de negócios. Todos conhecem e amam as santas Mônica e Perpétua, que foram mães. As santas Marcela, Paula e Eustóquia eram estudiosas e contemplativas. As santas Blandina e Felicidade eram servas domésticas, mas nós as conhecemos melhor como mártires. Macrina foi uma guia espiritual e mestra de um (e talvez de dois) dos grandes Padres e Doutores da Igreja [São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste].

Você diz que o cristianismo estimava as mulheres e as libertava. Como assim?
A frase comum aos dramaturgos romanos usada para as filhas do sexo feminino era "odiosa filha". As culturas pagãs tinham pouco respeito pelas mulheres e pelas meninas. Elas eram consideradas um vazamento na economia familiar, já que as meninas exigiam um dote, mas nunca contribuiriam com renda e prestígio para a família. Assim, elas se casavam o mais cedo possível, geralmente aos 11 ou 12 anos, com um homem escolhido pelo seu pai. Elas eram livres para recusar a sua escolha, mas raramente o faziam, já que o pai era livre para condenar à morte uma filha que o desobedecia. E essa possibilidade não era tão improvável. Muitas, se não a maioria, das filhas nascidas em famílias pagãs eram mortas ao nascer. O infanticídio feminino era rotineiro na sociedade greco-romana. Ele era legal e até mesmo elogiado pelos filósofos.
No mundo pagão, o valor de uma mulher vinha da sua relação com um homem - primeiro o seu pai, depois o seu marido, por último pelos seus filhos. Suas obras não significavam nada. De fato, ela tinha pouca oportunidade para realizar obras. O cristianismo virou tudo isso de cabeça para baixo. Na verdade, o cristianismo começa com a Virgem Maria, que tem sido reverenciada acima de todos os outros seres humanos. Os cristãos exaltavam as mulheres como heroínas do seu grande épico, os Atos dos Mártires. E a Igreja promovia a liberdade vocacional das mulheres. De repente, surgiu uma classe de mulheres, as virgens e viúvas consagradas, que se declararam independentes de qualquer coisa que um homem terreno tinha para oferecer. Isso foi revolucionário. Isso fez da Igreja o que ela é. Isso assustou o mundo pagão e selou o seu fim.

Hoje, a Igreja é acusada de travar uma "guerra contra as mulheres", porque se opõe à contracepção. As mulheres da Igreja primitiva demandavam a contracepção?
Não! As mulheres greco-romanas eram oprimidas pela contracepção, oprimidas pelo aborto, oprimidas pelo infanticídio. Essas três práticas vinham como um pacote único. A menos que algo radical mude na nossa sociedade, logo teremos todos os três juntos de novo. A maioria das pessoas não sabe que a contracepção era uma prática comum no mundo antigo, e os métodos eram provavelmente muito eficazes. E os métodos também não eram tão diferentes do que se oferece em nossos supermercados e farmácias. Havia os métodos de barreira e abortivos. Os primeiros escritos cristãos se referem a eles e condenam a todos.
A contracepção, então como agora, mutila as mulheres. Ele faz com que elas sejam menos do que são, de modo que elas possam servir de brinquedos de ninar para os homens. Na Roma antiga, o controle da natalidade era um componente essencial em uma cultura pornográfica que objetivava as mulheres. Também era uma forma lenta de suicídio cultural. Os romanos estavam acostumados a um estilo de vida sem amarras, sem se incomodar com obrigações como filhos ou fidelidade conjugal. Assim, os casais não podiam ser persuadidos nem mesmo coagidos a se reproduzir. Isso desempenhou um papel de destruição demográfica sobre o império, com consequências terríveis para a economia para a segurança interna.
E o que era ruim para o império era pior para as mulheres. Em uma economia ruim ou em uma guerra, as mulheres muitas vezes sofriam primeiro e pior. Lembremo-nos do que uma cultura contraceptiva faziam com as suas mulheres. Lembremo-nos que essas mulheres eram pressionadas a assistir, um após o outro, os seus filhos serem afogados ao nascer. As mulheres queriam sair desse mundo. O cristianismo oferecia a única forma de libertação das mulheres.

Há alguma mensagem especial que podemos extrair desse livro?
Para as mulheres: conheçam essas ancestrais mais antigas na fé. Elas ainda são modelos de feminilidade. Elas ainda são intercessoras. Como irmãs como elas, a irmandade é realmente poderosa. Para os homens: respeitem as mulheres da sua vida. Deixem-nas ser para vocês o que Marcela foi para Jerônimo, o que Mônica foi para Agostinho, o que Macrina foi para Gregório de Nissa. Em Cristo, não há homem nem mulher. Nenhuma dessas mulheres antigas foram sacerdotisas. Elas não precisam ser. Elas foram mães - mesmo aquelas que nunca tiveram filhos em seus próprios corpos. Elas ainda estão sendo nossas mães hoje.
A reportagem é do sítio Fathers for Good. A tradução é de Moisés Sbardelotto

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Surge na Internet rede cristã de relacionamento


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Surge na Internet rede cristã de relacionamento

Terça-feira, 21 de agosto de 2012 - 13h21min
Cristãos e pessoas de boa vontade têm à disposição uma nova rede de relacionamento: o Hizby, criada pelo empresário Júnior Gonçalves, 26 anos, com o propósito de estimular valores de respeito e ética, e combater a maldade e a corrupção.
Internautas podem postar, como numa rede social qualquer, mensagens, fotos, textos, vídeos, participar de grupos. Mas o Hizby possibilita, ainda, motivos de oração e testemunhos, além de eventos das igrejas. Ele se propõe a discutir religião na rede social.

Outro detalhe: palavrões, pornografia, marketing, pirâmides, bullying, assédios de quaisquer tipos contra usuários são vedados no Hizby, que tem seus mecanismos de bloqueio para evitar tais ações. A adoção à rede é vetada para pessoas com menos de 13 anos de idade.

O site também abre espaços para as igrejas se cadastrarem e montarem o seu perfil. A sede do Hizby fica em Porto Velho, Rondônia, um dos Estados com maior concentração de evangélicos no Brasil. Com um investimento de 300 mil reais, bancado por um grupo de empreendedores cristãos, o Hizby pretende chegar a 200 mil internautas até o final do ano.
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)

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nova evangelização


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A nova evangelização e os novos profetas da desgraça - Enzo Bianchi

Terça-feira, 21 de agosto de 2012 - 13h24min
Nas últimas décadas, caíram as ideologias portadoras de uma esperança messiânica intra-humana, fracassou a transmissão da fé cristã pela geração que está desaparecendo às novas gerações que se assomam ao horizonte, tornou-se muito fraco o anúncio do evangelho como boa notícia aqui e hoje.

A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado na revista Jesus, de agosto de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Já está próxima a celebração do Sínodo dos Bispos que irá refletir sobre o tema da evangelização de modo a poder dar indicações à Igreja universal, indicações que depois deverão ser concretizadas, traduzidas e realizadas de modo diferenciados e específico nas diversas áreas culturais do mundo. No entanto, continua sendo verdade que esse tema, quando é anunciado como "nova evangelização", diz respeito sobretudo ao Ocidente europeu e norte-americano, as terras de mais ou menos antiga cristianização, terras em que se viveu um sólida pertencimento às Igrejas cristãs, mas que hoje - depois do fenômeno da secularização e do desencanto religioso - estão contaminadas pelo indiferentismo.

Nas últimas décadas, caíram as ideologias portadoras de uma esperança messiânica intra-humana, fracassou a transmissão da fé cristã pela geração que está desaparecendo às novas gerações que se assomam ao horizonte, tornou-se muito fraco o anúncio do evangelho como boa notícia aqui e hoje.

Eis, portanto, a urgência de repensar as palavras de Jesus, que enviava os seus discípulos em missão no mundo inteiro (cf. Mc 16, 15), até as extremidades da terra (cf. Atos 1, 8), entre todos os povos e até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 19-20). Isso na convicção de que o nosso tempo, a contemporaneidade - o único tempo que conhecemos ao viver imersos neles - é sempre um "momento favorável" para o anúncio da boa notícia de Jesus Cristo, o único Filho de Deus e o autêntico homem.

No tempo oportuno ou não oportuno (eúkairos - Ákairos, cf. 2Tm 4, 2), se há em nós uma humanização que ocorre na sinergia entre a graça do Senhor - isto é, o Espírito Santo - e o nosso espírito, então nós devemos testemunhá-lo, anunciá-lo a quem nos pede conta do nosso modo de viver, dessa esperança que nos habita (cf. 1Pd 3, 15), dessa prática do amor que Jesus nos pede para viver cotidianamente.

Então, é inútil procurar estratégias ou táticas de nova evangelização, é pernicioso ter medo da nossa fraqueza devida a uma diminutio numérica, mas não de significado, é mundano esperar em um retorno da cristandade tranquilizante dos tempos passados.

Mas então o que devemos procurar, como devemos nos mover nesse êxodo de uma terra que deixamos para trás para nos dirigir rumo a uma margem que não conhecemos, mas que sabemos que é um horizonte habitado pela potência de Jesus ressuscitado e vivo, à espera do nosso desembarque para iniciar um outro êxodo, para passar de êxodo em êxodo até o reino?

Acredito que, acima de tudo, devemos mudar a nossa atitude para com a humanidade em que estamos imersos e da qual fazemos parte: uma humanidade não mais cristã, mas que devemos ouvir nas suas manifestações mais impressionantes e nos seus gemidos. Como Igreja, devemos nos exercer a uma leitura sábia da história, sem ceder à tentação de assumir posições defensivas, de encastelar-nos em cidadelas que forçosamente contam com o número e com os recintos: é fácil ceder a essa falta de fé no Senhor da história, o Senhor amante dos seres humanos, o Senhor, que "quer que todos os seres humanos sejam salvos" (1Tm 2, 4), e se tornar profetas da desgraça, como advertia João XXIII há 50 anos atrás, no início do Concílio.

Devemos ouvir para aprender, na consciência da autonomia da história e na liberdade da humanidade que, no entanto, continua sendo querida por Deus, composta por pessoas cada uma "criada à imagem de Deus" (cf. Gn 1, 26): esse selo impresso por Deus em cada ser humano, justo ou pecador, nunca poderá falhar. Trata-se também de não alimentar ingenuidade, de não ser desprovido de humanidade, mas capaz de discernir a presença do mal reconhecendo, porém, o caminho de humanização e de autocorreção do qual o ser humano é capaz, como nos recorda Christoph Theobald.

É nesse espaço em que a Igreja encontra o mundo na escuta e no diálogo recíproco que os cristãos munidos de uma fé madura, exercitada, pensada, dizem e vivem o evangelho, acima de tudo como escola de humanidade, caminho de humanização: cristãos que sabem despertar confiança naqueles que encontram, naqueles dos quais se fazem próximos; cristãos que sabem discernir nos outros a fé humana que os habita e aos quais podem doar palavras, atitudes e ações que narram Jesus de Nazaré.

A crise de fé hoje, antes de ser crise de fé em Deus, é uma crise de confiança humana, é a falta de confiança nos outros, na vida, no futuro e, acima de tudo, é fraqueza em acreditar no amor (cf. 1Jo 4, 16). Apenas em um terreno tão humanizado e predisposto, Deus pode então realizar o que só Ele é capaz de operar: doar a fé, isto é, iniciar uma relação com quem ouve a sua palavra, que quem encontra Jesus Cristo, porque "a fé nasce da escuta" (fides ex auditu: Rm 10, 17).

Então, a Igreja encontrará em seu limiar aqueles que desejam e pedem para ser introduzidos em Jesus Cristo, que pedem para se tornar o seu corpo através do batismo e da eucaristia... Assim ocorre a geração em Cristo e na Igreja, assim a evangelização se torna evento de encontro, de relação viva entre Deus e o ser humano: no tecido de relações humanas cotidianas entre cristão testemunha evangelizador e o ser humano de hoje. A evangelização, de fato, sempre depende do testemunho pessoal de quem evangeliza: o evangelho, a boa notícia só acontece no encontro, na relação com uma pessoa.

Os homens e as mulheres de hoje continuam perguntando: "como viver?". Nós não lhes respondemos procurando novos métodos mais refinados, não respondemos com a expectativa de um percurso fácil: tentamos apenas viver a fé e, portanto, despertar confiança, sem ter medo, porque o Senhor está conosco, e quanto mais nos sentimos fracos, mais opera em nós a sua força (2Cor 12, 10).
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

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