APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Comissão começa a expor verdades da ditadura


Comissão começa a expor verdades da ditadura

Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013 - 15h56min
por Terra Magazine
Contestada severamente por militares, com um formato considerado tímido por parentes de vítimas, a Comissão Nacional da Verdade começa aos poucos a expor a tétrica realidade dos anos de chumbo. O comentário é de Marcelo Semer em artigo publicado pelo Terra Magazine, 07-02-2013.

Eis o artigo.

Nesta terça-feira, o coordenador da comissão, o ex-procurador-geral da República Cláudio Fontelles, disse que não há mais dúvidas em relação ao assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, dentro do DOI/Codi, no Rio de Janeiro, por agentes da ditadura. Fontelles afirmou, ainda, que a comissão terá condições de identificar, inclusive, os autores do homicídio –dois dos quais ainda vivos.

A versão oficial, de que Paiva teria conseguido escapar depois de preso, está sendo destruída pelo conjunto de documentos analisados pela Comissão. Um deles, exposto por Fontelles, confirma a prisão do ex-deputado no dia 21 de janeiro de 1971, no DOI/CODI; outro, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, mostra que no dia 25 do mesmo mês, quando ele foi morto, nenhuma referência se fazia à inverossímil versão da fuga.

A reconstrução histórica oficial é uma tarefa indispensável da democracia. Não se trata, apenas, de buscar a reconstituição de crimes, mas descortinar a história que o próprio Estado buscou ocultar durante muitos anos. Como Rubens Paiva, ainda existe mais de uma centena de pessoas desaparecidas após terem sido presas pelos agentes da repressão. O Estado brasileiro deve a verdade a essas famílias, que têm vivido décadas destroçadas pela dor e pela dúvida, pela subtração da vida e dos corpos de seus entes queridos.

Também pela Comissão da Verdade, veio à tona documento emitido pelo gabinete do ex-presidente Garrastazu Médici, assinado pelo general João Baptista Figueiredo, que seria presidente anos depois. O comando determinava que os agentes públicos não atendessem a pedidos de esclarecimentos de organizações nacionais ou internacionais sobre mortos e desaparecidos, conforme noticiou o Estado de S. Paulo.

O governo entendia que o objetivo destas organizações era “colocar no banco dos réus os elementos responsáveis pelo quase total desbaratamento das organizações subversivas”. A ocultação das atrocidades, portanto, não foi resultado de atos isolados, mas uma política de governo, que não apenas convivia com as torturas, sequestros, desaparecimentos e assassinatos, como pretendia escondê-los justamente para evitar que seus autores fossem um dia levados para o banco dos réus.

Isso é o que faz tais atos serem caracterizados como crimes contra a humanidade: produzidos por uma política de terror instalada para reprimir o indivíduo com o descomunal peso do Estado tanto no seu cometimento, quanto na sua ocultação. Afinal, se o ditador manda esconder, que polícia iria investigar?

Não é por outra razão que a farta jurisprudência internacional impede que tais crimes possam ser objeto de anistia pelo próprio Estado que impedia seu povo de conhecê-los e suas autoridades de apurá-los.

O trabalho da Comissão da Verdade é apenas o de restabelecer a história que, covardemente, se buscou esconder. Mas, certamente, com os reflexos da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a apuração das responsabilidades também deverá ser reapreciada pela Justiça.

Reformados e batistas oferecem curso de Diaconia para a Paz


Reformados e batistas oferecem curso de Diaconia para a Paz

Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013 - 16h00min
por Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
A Corporação Universitária Reformada (CUR) e a Fundação Universitária Batista (FUB) firmaram convênio para a oferta de curso, nos seus programas de teologia, sobre Diaconia para a Paz.
Voltado a assistentes sociais, teólogos, pastores, pesquisadores sociais, líderes comunitários, o curso tem por propósito fortalecer a incidência pública e política das comunidades eclesiais na construção da paz na Colômbia, a partir de uma perspectiva bíblica teológica. Ele levará em conta experiências locais e do movimento ecumênico internacional de não-violência e busca da justiça.
O curso é uma decorrência da pesquisa "Iniciativas de Paz de Igrejas Evangélicas e Ecumênicas na Colômbia", realizada em 2011, e conta com a cooperação da Rede Ecumênica da Colômbia, Conselho Mundial de Igrejas, Conselho Latino-Americano de Igrejas e do Centro Regional Ecumênico de Assessoria e Serviço (CREIAS).

A força do Evangelho - José Pagola


A força do Evangelho - José Pagola

Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013 - 16h10min
O episódio de uma pesca surpreendente e inesperada no lago da Galileia foi redactada pelo evangelista Lucas para infundir alento à Igreja quando verifica que todos os Seus esforços para comunicar a Sua mensagem fracassam. O que se nos diz é muito claro: temos de colocar a nossa esperança na força e no atrativo do Evangelho.
O relato começa com uma cena insólita. Jesus está de pé na margem do lago, e "as pessoas vão-se aglomerando à Sua volta para ouvir a Palavra de Deus". Não vêm atraídos pela curiosidade. Não se aproximam para ver prodígios. Só querem escutar de Jesus a Palavra de Deus.
Não é sábado. Não estão congregados na sinagoga próxima, de Cafarnaum para ouvir as leituras que se leem ao povo ao longo do ano. Não subiram a Jerusalém para escutar os sacerdotes do Templo. O que os atrai tanto é o Evangelho do Profeta Jesus, rejeitado pelos habitantes de Nazaré.
Também a cena da pesca é insólita. Quando de noite, no momento mais favorável para pescar, Pedro e os seus companheiros trabalham por sua conta, não obtêm resultado algum. Quando, já é de dia, atiram as redes confiando apenas na Palavra de Jesus que orienta o seu trabalho, produz-se uma pesca abundante, contra todas as suas expectativas.
No ruido de fundo dos dados que tornam cada vez mais patente a crise do cristianismo entre nós, há um fato inegável: a Igreja está a perder de modo imparável o poder de atração e a credibilidade que tinham até recentemente.
Os cristãos, temos vindo a verificar que a nossa capacidade para transmitir a fé às novas gerações é cada vez menor. Não faltaram esforços e iniciativas. Mas, ao que parece, não se trata só nem primordialmente de inventar novas estratégias.
Chegou o momento de recordar que no Evangelho de Jesus há uma força de atração que não há em nós. Esta é a pregunta mais decisiva: Continuamos a "fazer coisas" a partir de uma Igreja que vai perdendo atrativo e credibilidade, ou colocamos todas as nossas energias em recuperar o Evangelho como a única força capaz de engendrar fé nos homens e mulheres de hoje?
Não temos de colocar o Evangelho no primeiro plano de tudo? O mais importante nestes momentos críticos não são as doutrinas elaboradas ao longo dos séculos, mas a vida e a pessoa de Jesus. O decisivo não é que as pessoas venham a tomar parte nas nossas coisas mas que possam entrar em contato com Ele. A fé cristã só se desperta quando as pessoas descobrem o fogo de Jesus.
José Antonio Pagola

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Chavismo


Haiti por si_
01.02.13 - Mundo
Entrevista – Chavismo, guerra midiática e a lição popular que a Venezuela segue dando (Parte 2)
 
Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital
Indubitavelmente, no atual marco político e independente latino-americano, a Venezuela – através de seu presidente Hugo Chávez Frías – reacendeu a chama bolivariana no continente, no caminho da unidade pela qual tanto lutou Simón Bolívar. Em meio a um cerco midiático de oposição e os claros interesses das classes dominantes, a nação venezuelana segue dando exemplo de como se manter erguida contra a hegemonia injusta e opressora.Confira a segunda parte desta entrevista feita com o educador e analista político nicaraguense, Ricardo Zúniga, integrante da Rede Universitária de Pesquisadores sobre a América Latina, com sede no Ceará (Brasil), sobre a conjuntura venezuelana e sua importante repercussão para o mundo.

Adital - Na conjuntura política latino-americana, o que significa mais uma vitória de Hugo Chávez em eleições presidenciais na Venezuela?
Ricardo Zúniga - Em meio de uma confrontação de projetos de nação e de modelos de integração latino-americana a vitória de Chávez significa a continuidade do projeto bolivariano, que tem como uma expressão característica a consolidação de uma comunidade de nações na Alba, baseada na solidariedade, complementaridade e intercâmbio justo. Também implica um forte respaldo a processos de integração mais abrangentes: Celac, Unasul, e Mercosul, como espaços de afirmação da unidade e protagonismos latino-americanos.
Uma das contribuições mais importantes da Alba é que representa uma alternativa viável de integração latino-americana pensada simultaneamente em função dos projetos nacionais com a priorização das necessidades básicas das maiorias, e da autodeterminação da América Latina numa perspectiva realmente popular, solidária, anti-neoliberal, anti-imperialista e pós-capitalista. Ainda vivendo no metabolismo do capital, porém a perspectiva é ir construindo caminhos pós-capitalistas, no fortalecimento das economias comunitárias, da autossuficiência alimentaria, cuidado com o equilíbrio ecológico, da garantia do abastecimento energético aos países da America Latina.
Um aspecto marcante da cooperação exercida na Alba é que permite que pequenos povos empobrecidos de America Central e Caribe tenham acesso a creditos para seu desenvolvimento nacional, sem passar pelas condicionantes do
FMI e do Banco Mundial. Isto introduz uma diferença fundamental no continente.
Um elemento importantíssimo da continuidade da vitória chavista é o firme apoio ao povo cubano com projetos estratégicos para garantir e fortalecer o funcionamento sustentável da economia cubana.
Na presente cojuntura da enfermidade de Chávez, a direção política está trabalhando pelo fortalecimento de uma equipe do governo unido e fiel à inspiração do líder, na construção e defesa coletiva da revolução bolivariana. Ante uma previsível presença diminuída do presidente no território e, inclusive, ante uma ausência definitiva, se está dando um salto de qualidade com um funcionamento mais coletivo da direção e ênfase na participação popular a todos os níveis.
Adital - Há muitas manifestações populares e de solidariedade pela saúde do presidente venezuelano, que desde dezembro está em Cuba. O fato de não estar presente em sua posse acirrou os ânimos da oposição. Como o senhor vê a força da oposição neste momento?
Ricardo Zúniga - Efetivamente as manifestações populares em solidariedade com o presidente Chávez e a revolução bolivariana têm sido impressionantes, em diversas partes do mundo, inclusive em alguns países muçulmanos. Na América Latina, do México ao Chile e Argentina, assembleias de pessoas de boa vontade sentem Chávez como alguém próprio, e reconhecem sua grande contribuição à transformação da Venezuela e à integração e unidade latino-americana.
Ante a impossibilidade do presidente reeleito, de tomar posse na data indicada pela constituição, grupos de oposição pretenderam interpretar a ausência do ritual da posse, como um rompimento da ordem constitucional, o que resulta falso, já que a própria Constituição Nacional prevê em situações de força maior, por eventos ‘sobrevindos’ que o presidente pode tomar posse posteriormente ante a Corte Suprema de Justiça.
A oposição também divulgou que havia enfrentamentos no interior da equipe superior de governo, especialmente entre o vice-presidente [Nicolás] Maduro, e o presidente da Assembleia Legislativa. Na realidade, a equipe do governo está trabalhando de maneira harmoniosa, cumprindo cada um suas próprias funções legalmente estabelecidas.
O problema é político, não jurídico. Chávez e seu partido triunfaram nas eleições por uma inquestionável maioria. O fato de não comparecer à cerimônia de posse, não invalida a vontade popular. A Corte Suprema da Justiça tem considerado que o presidente reeleito exerce seu mandato com a equipe de governo que ele confirmou, no marco legal, depois de ser releito. Também estabeleceu que o ritual da posse pudesse se efetuar posteriormente, quando tenha condições apropriadas de saúde.
A oposição na Venezuela mostrou uma força considerável nas recentes eleições de 7 outubro nas que seu candidato presidencial, Enrique Capriles, contou com mais do 44% dos votos. Mas na presente cojuntura tem certo enfraquecimento. Já nas eleições para governadores (16/12/12), o PSUV, o partido de Chávez, se impôs em 20 dos 23 estados que conformam a federação. Além disso, por defender um projeto neocolonial, que beneficia as grandes corporações transnacionais, na medida em que se aprofunde num debate político sério e criterioso, e aumente a consciência política dos empobrecidos, é previsível uma maior fortaleza do chavismo.
Por outra parte, neste momento, a oposição está dividida enquanto à estratégia a seguir. Uma parte pretende desconhecer a legitimidade do atual governo, já o grupo de Capriles, numa atitude mais lúcida, aceita o veredito da Corte de Justiça. Eles estão conscientes que, em caso de uma desaparição física do presidente, se houvesse que convocar novas eleições em curto prazo, seguramente o triunfo seria novamente do chavismo. Finalmente também estão ativos os setores extremistas e criminosos. Órgãos de inteligência venezuelana denunciaram ter descoberto planos para assassinar ao vice-presidente Maduro e ao presidente do poder legislativo Diosdado Cabello.
A debilidade estratégica da oposição é que dificilmente pode apresentar um projeto credível, que supere a proposta bolivariana que vem mostrando consistência, consequência e ganhando crescente credibilidade por mais de 12 anos, e por outra parte, sua dependência das orientações e ajuda da política externa dos Estados Unidos.
Adital - Populista para uns e popular para outros. Em que pontos o governo e presidente Hugo Chávez se diferencia de outros líderes da América Latina? Até que ponto pode-se dizer que ele redesenhou um novo olhar voltado para os países latino-americanos, sobretudo partindo dos países ditos desenvolvidos, considerados grandes potências econômicas e políticas?
Ricardo Zúniga - Penso que o conjunto das políticas sociais implementadas na Venezuela são autenticamente populares. Tem sido estratégicas e duradouras, em modo algum são ações oportunistas visando eleições. São ações tendentes a erradicar a miséria, a atingir um desenvolvimento econômico sustentável. Trata-se de pagar a histórica dívida social acumulada em décadas por uma estrutura econômico-social, que manteve na miséria a mais da metade da população, em meio de um mar de riquezas acumuladas por classes dominantes parasitárias e "vende-pátria”.
O projeto bolivariano trabalha coerentemente contra a desigualdade, a pobreza, a marginalidade social, não apenas na Venezuela. Essa luta é visível nos países da Alba e em outros países empobrecidos em nossa América, basta assinalar a exemplar ajuda que a Venezuela, em conjunto com Cuba, oferece ao povo haitiano. Muito maior em termos proporcionais à dos países do G-8, com métodos coerentes e visando à restituição a esse povo dos recursos naturais historicamente saqueados e empobrecidos por dívidas injustas. Mas principalmente visando a restituição de sua dignidade.
Com certeza o processo bolivariano tem contribuído substantivamente para criar nos povos latino-americanos um novo olhar, que supera as visões coloniais e neocoloniais, para instaurar uma atitude de povos que resgatam desde sua história, sua dignidade para construir um projeto próprio que atenda às necessidades e interesses de suas grandes maiorias. É muito difícil falar em diferença de Chávez com outros líderes latino-americanos. Mas posso apontar uma: Chávez e sua equipe próxima têm uma profunda vocação bolivariana o que significa, entre outras coisas, uma atitude de profunda disponibilidade a partilhar os grandes recursos naturais da Venezuela e de saber pensar em função da grande pátria latino-americana.
Confira a primeira parte desta entrevista em http://www.adital.com.br/?n=chwe

Homilia de 03.02.2013 Uma Igreja Profética


Texto feito por mim para homilia a ser feita amanhã na Paróquia Anglicana Santa Cruz. Pode haver algum erro de português. Perdão!
Jer. 1, 4-10          I Cor. 14,12 - 20             Lucas 4, 21 - 32

Queridos e queridas, amados e amadas por Deus,
Na semana passada vimos que Jesus fora ungido pelo Espírito de Deus, impregnado por sua força, que o enviou a espalhar a Boa Nova aos pobres, cativos, cegos e oprimidos. São os que ele traz no mais fundo de seu coração.
Somos chamados a seguir a Jesus, viver no Espírito de Jesus. A igreja – e somos Igreja – deve se ocupar com os que sofrem – é delas a igreja de Jesus – ou não somos e nem seremos jamais cristãos. Devemos semear liberdade, luz – um novo olhar sobre a vida e o viver – e graça.
A prática de Jesus não é focada no pecado das pessoas, mas no sofrimento que arruína suas vidas. O teólogo Joham Baptist Metz denuncia o grave deslocamento ocorrido no cristianismo: “a doutrina cristã da salvação dramatizou demasiadamente o problema do pecado, enquanto relativizou o problema do sofrimento”.
Nazaré era uma aldeia pequena, com cerca de 300 pessoas, todos conheciam a Jesus, um homem afinal de contas. Queriam que provasse, por milagres, ser um homem de Deus. Já naquela época pensavam apenas em si mesmos, em seu bem estar, em vantagens para si mesmo. Confundiam milagres, vitórias, curas com a prática amorosa de Deus.
Jesus cura, protege, guia, mas não é este o cerne, o centro de sua fala ou vida, mas a prática e a construção do Reino de Deus. É a inclusão de todos na vida, é o carinho e o amor a todos, é enfrentar a hipocrisia moralista e legalista, é ir contra as estruturas religiosas e politicas que oprimiam o povo e gerava sofrimento.
Todo profeta gera problemas, pois nos confronta com a verdade de Deus e exige mudança de postura. Jesus não age como sacerdote, como mestre da lei, mas como profeta. Ao contrário dos reis e sacerdotes, o profeta não é nomeado nem ungido por ninguém. Sua autoridade provém de Deus, empenhado em guiar, proteger e servir aos sofridos, sua autoridade vem do próprio agir salvífico de Deus no tecido social.
Quando a religião se cristaliza, se mumifica, se esteriliza, se alia aos poderosos, Deus envia um profeta para sacudir estas estruturas.
Uma igreja cristã é uma igreja profética. Peçamos a Deus que envie seus profetas e saibamos acolher Sua palavra e converter nossas estruturas.
Nossa igreja, a Anglicana, tem algumas coisas absolutamente fantásticas. Olhemos para sua estrutura e veremos que o Santo Espírito operou de forma especial nela. Temos um bispo e uma comunhão de bispos e dioceses. Este bispo é eleito por leigos e clero, de forma paritária. A diocese, em todos os seus fóruns decisórios, é movida por estruturas coma presença paritária de clero e leigos. Assim deve ser, governo e decisões colegiadas, participativas, transparentes, fraternas, unidas.
Parece que às vezes nos esquecemos de olhar, perceber e viver o que estas estruturas nos dizem na própria forma de ser no dia a dia. Recordemos nossa vida, nossa história, nossa gênese. Recordemos nossa rebeldia, nossa capacidade de nos rebelar ao que não é evangélico, ao que não é fraterno, ao legalismo estéril. Fidelidade à nossa história, ao nosso amor, ao Jesus Salvador e Senhor que nos libertou para a comunhão e uma vida de união amorosa.
Como diz o grande teólogo Pagola: Uma igreja sem profetas corre o risco de caminhar surda aos apelos de Deus à conversão e à mudança. Um cristianismo sem espírito profético corre o perigo de ficar controlado pela ordem, pela tradição ou pelo medo da novidade de Deus.
A presença cristã deve incomodar. Sua vida deve ir contra a corrente cultural, estar em desacordo com os valores sociais imperativos. É muito mais fácil sermos convencionais, instalar-se comodamente na vida e viver aí a consumir e a consumir-se.
Jesus é um profeta, um Deus que se encarna ao ponto de ser condenado a ser morto e morte de cruz. Um Deus que mostra que mesmo pessoas que não pertencem ao povo eleito de Israel são apreciadas e agraciadas pelo amor de Deus. Todos são seus filhos e filhas. Somo enviados a ser Boa Nova a todos e todas, onde a vida se fragiliza e está ameaçada. Deus é maior, não se ajusta aos nossos esquemas e discriminações.
E aí, meus irmãos, devemos agir com humildade e inteligência. A segunda leitura de hoje bem nos adverte que todo nosso agir deve estar a serviço de toda comunidade, à edificação do outro, qualquer que seja este outro. O falar em línguas é menos importante que o entendimento e o serviço aos outros, que a revelação, a profecia, o ensinamento a todos e a cada um. É a serviço do outro, é o amor ao outro, ao diferente, ao que incomoda, a todos a nossa volta que atesta a vida cristã, o seguimento do Cristo, nosso grande amor e Salvador.
Jeremias foi um homem chamado por Deus para servir seu povo na dura missão de ser profeta. Jeremias é da cidade de Anatot, que é uma cidade do Reino do Norte – Israel – que fora invadida pelos Assírios em 722 A.C., aproximadamente um século antes de sua vida. A tradição religiosa do Norte era menos ligada ao Templo e guardava um caráter mais popular, livre, comunitário e camponês, em que a experiência libertadora do êxodo era mais marcante do que a centralidade do Templo. Era de origem camponesa.
Pois bem, deus o consagrou desde o ventre. O consagrou não para ser melhor que os outros, não para ser mais puro ou poderoso. O consagrou para ser profeta, para denunciar a opressão, o sofrimento, à idolatria dissimulada, o esquecimento de Deus em nossas vidas e relações.
Ele, como nós, logo arrumamos desculpas. A vida normal é tão mais simples, cômoda, tranquila. Deus, entretanto chama, capacita e protege àqueles que carrega em seu coração e caminho. Não acredito que escolhe eleitos ou santos. Escolhe os mudos, os gagos, os jovens, os fracos, os incapazes, os sofridos, os pecadores, os sem nada que acolhem Sua Palavra e topam o desafio de ajudar a construir um mundo mais fraterno e amoroso. Sua palavra nos chama, nos penetra, nos invade e nos obriga a agir. Um agir que deve afrontar estruturas de pecado, de opressão, de busca de poder, estruturas de iniquidade. Estruturas pecaminosas...
Minas irmãs, meus irmãos, somos todos chamados a sermos profetas e servos de Deus. Não nos escondamos em nossa evidente pequenez, em nossa fraqueza ou em nossa idade. Não nos conformemos com uma vida comum. Deus te chama para fazer diferente, ser diferente, fazer diferença, dar sabor ao mundo e ao tecido humano. Sejamos abusados, entreguemos nossas vidas, corpos e mentes ao senhor para enfrentar as forças da morte. Façamos de nossa vida, toda ela, a todo tempo e lugar, uma oferta santa a Deus e aos que sofrem.
E, não se esqueça, ou somos uma igreja profética ou não somos cristãos. Profética e mística, que carrega a experiência de Deus.
Tenha coragem, coragem que vem da fé, fé que vem do encontro com o Senhor da experiência de Deus.