APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 9 de junho de 2012

ONDE ESTÁS?


Gênesis 3, 8-21     2Corintios 4, 13-18    Marcos 3, 20-35



Queridos irmãos, queridas irmãs,

Amados e amadas de Deus,

Estamos diante de uma imagem, uma bela imagem, de um jardim idílico, belo, perfeito. Lá estão o homem e a mulher e Deus lhes fala: Onde estás? E o homem estava escondido e nu, pois tivera a consciência de sua nudez, de seu corpo e, também, de sua fragilidade. A vergonha perante Deus parece apontar para a perda da intimidade entre si e com o próprio criador.

O escritor aponta este distanciamento como a causa da hostilidade entre o homem e a mulher, da dominação masculina sobre a mulher ( que revela um olhar machista opressor) e olha para a realidade que enxerga – bem concretamente – na sua vida. A mulher dá a luz com dor a sobrevivência é difícil e o homem tem de trabalhar duramente, até a morte, até pó tornastes...

Tu és pó e ao pó tornarás!

Aparentemente, pela mentalidade da época, toda a realidade visível era de responsabilidade de Deus, como prêmio ou castigo de Deus a nossos atos, mas é o homem que rompe com a intimidade com Ele, é ele que não assume a beleza, com a inteireza de seu corpo e de relações íntimas e saudáveis.

Deus segue a nos perguntar: Onde estás? Estamos, conscientemente, com Deus em nosso coração, em nossos passos, em nossos olhares? Damos graças a este acontecimento presente amorosamente em todos os nossos encontros salvíficos? Encontros de presença amorosa numa sociedade fragmentada, dividida, consumista e agitada, onde estamos costumeiramente mergulhado na exterioridade, no corre corre. Não temos tempo, costumeiramente, para usufruir, desinteressadamente, da presença e dos olhares do cônjuge, dos filhos, dos amigos, do brincar. Não tempo tempo, e muitas vezes sequer temos a experiência concreta da oração, da escuta do que Deus nos pede para nossa vida, experiência que precisa de interioridade, de silêncio, de contemplação para, quem sabe, posteriormente, tornar-se resposta em atos ou palavras salvíficas, em entrega eucarística, em vida cristã.

Imobilizamo-nos inertes em frente da televisão ou da internet ou a trabalhar, trabalhar, trabalhar, para acumular o vil metal, o dinheiro – Senhor de nosso tempo e de nossos corações – para viabilizar o consumo, o comprar, o luxo, o prazer. Até... virar pó! Viramos pó, infelizmente em vida, nos coisificando, anulando a experiência e a possibilidade de Deus existir e viver em nossa vida, em nossos braços, em nossos olhares, em nossa entrega. Tornamo-nos em um nada, em objeto sugado pelo mercado, vazios de significado e sentido...

No Evangelho de hoje jesus é visto, até pelos seus, como um louco. Louco! E quem é o louco? Aquele que não age em conformidade com o senso comum, que aporta novos olhares, perspectivas e possibilidades. É claro que pode ser um olhar doentio, psicótico e desequilibrado. Neste caso, porém, ele era assim visto porque questionou um modo de ser, de relacionar-se com os outros, com a família, com a religião e a lei judaica e, certamente, com o Império.

Fala Jesus, e nós já o afirmamos qui, que Satanás é aquele que divide a comunidade, espaço de vida, fraternidade, de partilha,do pão e também dos bens.

Perdoar os pecados, naquele tempo, era privilégio do Templo e de seus sacerdotes. Aristocráticos  que cobravam nos rituais de purificação. Jesus faz constantemente o movimento de ir às casas das pessoas, à sua intimidade para lá revelar a salvação,a cura de doentes e endemoniados. É este o lugar da revelação do Espírito Santo, no centro da vida e da comunidade, que Marcos está vendo diante de si. É aí que podemos nos corrigir fraternalmente, nos converter dia a dia e todo dia e é aí que podemos aprender a ouvir a Palavra de Deus, a amar Sua presença, a sentir Seu toque, Seu sopro, Seu alento, Seu olhar. E quem negar a comunidade, a igreja, o encontro, tão comum hoje em dia – quando tantos acham que possuem o Espírito Santo sozinhos ou mesmo que podem prescindir da igreja como espaço salvífico,que podem ter a experiência com Ele estando sozinhos – está mergulhado no espírito impuro!

É por isso, pela importância da vida em comum, local da intimidade e do encontro com Deus, que Jesus aponta que aqueles que a seu lado estão são sua família, sua mãe. E esta multidão, veja bem não foi escolhida por ele e, certamente, não era formada por poderosos, privilegiados, ricos, mas dos desvalidos em busca de alento.

Em 2Corintios, 7 está escrito: Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus, e não de nós.

É a realidade da igreja nascente: é de atribulados, postos em extrema dificuldade, perseguidos mas não abandonados, prostrados por terra mas não aniquilados. A vida de Jesus manifestada em nosso corpo! Em vasos de argila, artesanais e frágeis, em nós. Não somos nós que agimos mas, em nossa fraqueza e pequenez que nossos atos podem se tornar na Graça de Deus, na Sua presença. Agimos mas em nosso agir é Ele quem se faz presente, é dele a glória, a graça, a força,os frutos.

Acreditei, por isso falei.

Acreditei não dogmaticamente nem cegamente, mas pela fé que advém do testemunho do amor, da unidade e do serviço mútuo, da luta pela justiça, pelos Direitos Humanos, da humanidade radicalizada em um deus que se encarnou no meio de nós. E que segue presente na Eucaristia e no Santo Espírito que sopra no meio de nós.

A certeza da ressurreição, de Cristo e a nossa, é o fundamento de nossa vida cristã. A experimentação de sua presença, a experiencia concreta de  Deus e de seu testemunho em nossa carne e em nossa mente é a loucura sadia que temos a oferecer a este mundo insano.

Onde estás?

Ma presença do Deus amoroso – não o do julgamento, respirando amor e acolhimento, no meio dos que sofrem e dos que tem a vida ameaçada, a revelar o Evangelho, a Boa notícia.
Deus aqui está! Deus conosco – Emanuel. Jesus, o Cristo, o Senhor da vida contra as forças da morte.

Permaneçamos na Presença de Deus, revelando Seu olhar e toque amoroso, pela eternidade.

Amém!

terça-feira, 5 de junho de 2012

O TRABALHO

O trabalho é o amor feito visível. E se não podereis trabalhar com amor, mas somente com desgosto, melhor seria que abandonásseis vosso trabalho e vos sentásseis à porta do templo a solicitar esmolas  daqueles que trabalham com alegria.
kalil gibran

domingo, 3 de junho de 2012

BACIA DO SÃO FRANCISCO


CEBI

Carta de Januária: Por uma revitalização popular

Quarta-feira, 30 de maio de 2012 - 17h36min
CARTA DE JANUÁRIA
III ENCONTRO POPULAR DA BACIA DO SÃO FRANCISCO
"Por uma revitalização popular"
Ampliar imagem
Nós, indígenas, quilombolas, comunidades de fundo e fechos de pasto, pescadores, ribeirinhos, geraizeiros, comunicadores populares, pastorais, ONGs, representantes do povo do rio São Francisco, reunidos entre os dias 25 a 27 de maio de 2012, em Januária/MG, constatamos a triste e repetitiva situação de nosso rio e dos povos que lhe pertencem, mas também as resistências, lutas e esperanças populares.
A revitalização do governo não anda. Os investimentos em saneamento existem, mas é impossível ver resultados concretos. Não há controle sobre as obras, não há transparência. Em termos de ação governamental é a única iniciativa da propalada revitalização em toda a bacia.
A degradação continua em nível crescente. O despejo incessante de agrotóxicos e esgotos sem tratamento; o desmatamento e o assoreamento do leito dos afluentes e do próprio rio; o uso abusivo de suas águas por empresas ligadas ao ramo do agro e hidro negócio e da mineração; os grandes projetos de irrigação para monoculturas de exportação e a exploração do setor elétrico só vêm a agravar o imenso passivo socioambiental que historicamente se acumulou na bacia.
Há uma resistência heroica de várias comunidades para "resistir e existir" em seu lugar, mas continua a expropriação de terras e territórios dos povos que tradicionalmente ocupam a bacia, contra os quais persistem as ações violentas de despejo, perseguição, criminalização e assassinatos, bem como o descaso e a lentidão nas ações de demarcação e titulação dos territórios. Por outro lado, têm-se a cessão ilegal desses territórios para domínio de grandes empresas e implantação de atividades que exploram os bens naturais de forma criminosa e ainda impedem o acesso à terra, às águas e aos peixes do rio. Todas são práticas que ameaçam a existência físico-cultural de muitas das comunidades do São Francisco.
Persistem a ausência de políticas públicas apropriadas ao semiárido e ao cerrado brasileiros e a recorrência de fenômenos naturais como a seca, onde o governo ainda se vale de ações emergenciais e assistencialistas que acabam por sustentar os interesses político-econômicos da "indústria da seca", sobretudo em anos eleitorais como esse. No mesmo sentido, a opção equivocada pelas grandes obras hídricas, como a transposição de águas do rio São Francisco, cujo atual estado das obras e superfaturamento dos contratos só vêm a comprovar as denúncias realizadas por tantos que se contrapuseram ao projeto. O que temos de positivo no semiárido são as iniciativas da sociedade civil na lógica da convivência com o semiárido.
O São Francisco é um rio dos cerrados mineiro e baiano, responsáveis pela quase totalidade de suas águas. A expansão do agronegócio, das hidrelétricas e das mineradoras nestas regiões tem acelerado violentamente a depredação dos bens naturais e culturais destes cerrados. Passa da hora a aprovação das Propostas de Emenda Constituições - PECs que tornam patrimônios nacionais o cerrado e outros biomas e criam fundos públicos para sua preservação. Não há saída sem restringir e submeter a ação do capital sobre a natureza e os povos.
Repudiamos as políticas de intervenção no Rio São Francisco previstas em planos atuais e futuros do governo federal, como a proposta de implementação de usinas nucleares - a exemplo da usina no município de Itacuruba (PE)-, a implementação de parques eólicos por meios que agridem as comunidades e o ambiente, a expansão das atividades de mineração e dos grandes projetos de irrigação; a proposta de emenda constitucional 215 e a ameaça de revogação do Decreto 4887/03, objeto de manobras da bancada ruralista e que ameaçam a efetivação dos direitos territoriais das comunidades tradicionais, significando imenso retrocesso democrático no nosso país.
Vimos aqui mesmo em Januária e na vizinha São João das Missões experiências significativas de revitalização popular do Rio dos Cochos e do território reconquistado pelo Xacriabás, respectivamente. Nossos povos têm iniciativas que precisam ser consideradas e valorizadas na revitalização do rio São Francisco. Basta que aqueles que governam tenham olhos para ver. São estas experiências as estrelas que guiam nossos passos. Continuamos a fluir com as águas do nosso rio. Parar, jamais. Nosso destino é o oceano da justiça, da solidariedade e da paz.
São Francisco Vivo, terra, água, rio e povo!
Januária 27 de maio de 2012.
Colônia de Pescadores Z-026, Pescadores do Baixio de Irecê, Rizicultores de Sergipe, Comissão Pastoral da Terra BA/MG/Nacional,Conselho Indigenista Missionário PE/MG, Conselho Pastoral dos Pescadores Nacional/ BA, Associação de Fundo e Fecho de Pasto, Povo Pankará, Povo Xacriabá, IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), AATR (Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia), CETA/BA, SINDSERV/SE, SINTAGRO/BA, STR Porteirinha, STR B. Jesus da Lapa,EFA Guimarães Rosa, Cáritas Diocesana de Januária, Movimento pelas Serras e Águas de Minas, Diocese de Floresta, Diocese de Bom Jesus da Lapa, Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Salitre, Associação Quilombola de Brejo dos Crioulos (MG), Associação Quilombola de Brejões dos Negros (SE), Associação Quilombola de Barra do Parateca (BA), CADAESF, Assent. 17 de abril,MPA/SE, Escola de Fé e Política,ACOMA
Frei Gilvander Moreira - Saiba mais www.saofranciscovivo.com.br

Pentecostes 2 - Uma prece

Texto tirado do site da metodista, que gostaria de socializar a todos.
Texto do o Reverendo Luiz para celebrar o Domingo de Pentecostes em 2012, que comemora a descida do Espírito Santo sobre todos os cristãos e cristãs.

Novo Espírito

Um espírito novo se apossou de mim

E percebi que só há um poder absoluto
E diante dele, todos os demais são relativos
Mas é um poder que age pela graça.
E não recusa, nem mesmo entregar-se à morte
por amor
Porque é impossível à morte retê-lo
E descobri que Jesus, a quem crucificamos,
Deus o fez Senhor e Cristo

Percebi, diante deste poder e desse amor,
quão esclerosados estão os meus critérios
para avaliar os homens e a vida

E que enormes perspectivas podem se abrir
pela renovação de minha mente embotada

Um espírito novo se apossou de mim

E percebi que o que se estabelece como muro de separação
entre as pessoas
perde totalmente o sentido
diante desse grande amor universal

E que agora, já não mais separada por língua ou cultura
a humanidade pode inaugurar
um novo tempo de paz

Um espírito novo se apossou de mim

E percebi com clareza
que não é ele que é meu, mas eu sou dele
e assim
nada do que chamo meu me pertence
mas pertence àquele de quem sou

E a ganância, a acumulação
o que faz, de um lado, a miséria de uns
e, de outro lado, a opulência de outros
não resiste à consciência
de que dele, e por ele e para ele
são todas as coisas.

Devemos, pois, repartir,
atender as necessidades de todos,
e tomar a vida com singeleza de coração,
cuidando para que não haja entre nós
necessitados

Um espírito novo se apossou de mim

E me apercebi que um novo tempo se anuncia.
E sou chamado a dele participar

Que eu não ponha,
Com minhas racionalizações e atos,
Empecilho a tua novidade,
Senhor!

Rev. Luiz Eduardo Prates da Silva

Boaventura Souza Santos

Trata-se de texto reflexivo importante para todos os que querem pensar o país e a prática social.
 


DEBATE ABERTO

Sexta Carta às Esquerdas

Não estando o socialismo, por agora, na agenda política — mesmo na América Latina a discussão sobre o socialismo do século XXI perde fôlego — as esquerdas parecem dividir-se sobre os modelos de capitalismo. À primeira vista, esta divisão faz pouco sentido. Mas, de fato, não é assim.
Data: 29/05/2012
Historicamente, as esquerdas dividiram-se sobre os modelos de socialismo e as vias para os realizar. Não estando o socialismo, por agora, na agenda política — mesmo na América Latina a discussão sobre o socialismo do século XXI perde fôlego — as esquerdas parecem dividir-se sobre os modelos de capitalismo. À primeira vista, esta divisão faz pouco sentido pois, por um lado, há neste momento um modelo global de capitalismo, de longe hegemónico, dominado pela lógica do capital financeiro, assente na busca do máximo lucro no mais curto espaço de tempo, quaisquer que sejam os custos sociais ou o grau de destruição da natureza. Por outro lado, a disputa por modelos de capitalismo deveria ser mais uma disputa entre as direitas do que entre as esquerdas.

De fato, assim não é. Apesar da sua globalidade, o modelo de capitalismo agora dominante assume características distintas em diferentes países e regiões do mundo e as esquerdas têm um interesse vital em discuti-las, não só porque estão em causa as condições de vida, aqui e agora, das classes populares que são o suporte político das esquerdas, como também porque a luta por horizontes pós-capitalistas — de que algumas esquerdas ainda não desistiram, e bem — dependerá muito do capitalismo real de que se partir.

Sendo global o capitalismo, a análise dos diferentes contextos deve ter em mente que eles, apesar das suas diferenças, são parte do mesmo texto. Assim sendo, é perturbadora a disjunção atual entre as esquerdas europeias e as esquerdas de outros continentes, nomeadamente as esquerdas latino-americanas. Enquanto as esquerdas europeias parecem estar de acordo em que o crescimento é a solução para todos os males da Europa, as esquerdas latino-americanas estão profundamente divididas sobre o crescimento e o modelo de desenvolvimento em que este assenta.

Vejamos o contraste. As esquerdas europeias parecem ter descoberto que a aposta no crescimento econômico é o que as distingue das direitas, apostadas na consolidação orçamental e na austeridade. O crescimento significa emprego e este, a melhoria das condições de vida das maiorias.

Não problematizar o crescimento implica a ideia de que qualquer crescimento é bom. É uma ideia suicida para as esquerdas. Por um lado, as direitas facilmente a aceitam (como já estão a aceitar, por estarem convencidas de que será o seu tipo de crescimento a prevalecer). Por outro lado, significa um retrocesso histórico grave em relação aos avanços das lutas ecológicas das últimas décadas, em que algumas esquerdas tiveram um papel determinante. Ou seja, omite-se que o modelo de crescimento dominante é insustentável. Em pleno período preparatório da Conferência da ONU Rio+20, não se fala de sustentabilidade, não se questiona o conceito de economia verde mesmo que, para além da cor das notas de dólar, seja difícil imaginar um capitalismo verde.

Em contraste, na América Latina as esquerdas estão polarizadas como
nunca sobre o modelo de crescimento e de desenvolvimento. A voracidade da China, o consumo digital sedento de metais raros e a especulação financeira sobre a terra, as matérias-primas e os bens alimentares estão a provocar uma corrida sem precedentes aos recursos naturais: exploração mineira de larga escala e a céu aberto, exploração petrolífera, expansão da fronteira agrícola. O crescimento econômico que esta corrida propicia choca com o aumento exponencial da dívida socio-ambiental: apropriação e contaminação da água, expulsão de muitos milhares de camponeses pobres e de povos indígenas das suas terras ancestrais, deflorestação, destruição da biodiversidade, ruina de modos de vida e de economias que até agora garantiram a sustentabilidade.

Confrontadas com esta contradição, uma parte das esquerdas opta pela oportunidade extrativista desde que os rendimentos que ela gera sejam canalizados para reduzir a pobreza e construir infraestruturas. A outra parte vê no novo extrativismo a fase mais recente da condenação colonial da América Latina a ser exportadora de natureza para os centros imperiais que saqueiam as imensas riquezas e destroem os modos de vida e as culturas dos povos. A confrontação é tão intensa que põe em causa a estabilidade política de países como a Bolívia ou o Equador.

O contraste entre as esquerdas europeias e latino-americanas reside em que só as primeiras subscreveram incondicionalmente o “pacto colonial” segundo o qual os avanços do capitalismo valem por si, mesmo que tenham sido (e continuem a ser) obtidos à custa da opressão colonial dos povos extraeuropeus. Nada de novo na frente ocidental enquanto for possível fazer o outsourcing da miséria humana e da destruição da natureza.

Para superar este contraste e iniciar a construção de alianças transcontinentais seriam necessárias duas condições. As esquerdas europeias deveriam pôr em causa o consenso do crescimento que, ou é falso, ou significa uma cumplicidade repugnante com uma demasiado longa injustiça histórica. Deveriam discutir a questão da insustentabilidade, pôr em causa o mito do crescimento infinito e a ideia da inesgotável disponibilidade da natureza em que assenta, assumir que os crescentes custos socio-ambientais do capitalismo não são superáveis com imaginárias economias verdes, defender que a prosperidade e a felicidade da sociedade depende menos do crescimento do que da justiça social e da racionalidade ambiental, ter a coragem de afirmar que a luta pela redução da pobreza é uma burla para disfarçar a luta que não se quer travar contra a concentração da riqueza.

Por sua vez, as esquerdas latino-americanas deveriam discutir as antinomias entre o curto e o longo prazo, ter em mente que o futuro das rendas diferenciais geradas atualmente pela exploração dos recursos naturais está nas mãos de umas poucas empresas multinacionais e que, no final deste ciclo extrativista, os países podem estar mais pobres e dependentes do que nunca, reconhecer que o nacionalismo extractivista garante ao Estado receitas que podem ter uma importante utilidade social se, em parte pelo menos, forem utilizadas para financiar uma política da transição, que deve começar desde já, do extrativismo predador para uma economia plural em que o extrativismo só seja útil na medida em que for indispensável.

As condições para políticas de convergência global são exigentes mas não são impossíveis e apontam para opções que não devem ser descartadas sob pretexto de serem políticas do impossível. A questão não está em ter de optar pela política do possível contra a política do impossível. Está em saber estar sempre no lado esquerdo do possível.

JUSTIÇA ALIMENTAR

 Recebi o presente arquivo em material do adobe, mais bonito, posso vos enviar caso alguem se interesse.
abraços carinhosos

Na África sub-saariana, a agricultura está se
tornando uma atividade predominantemente
feminina como consequência da migração intensa
de homens. Mulheres agora constituem a maioria
de pequenos produtores, sendo responsável pela
maior parte do trabalho e da administração em
larga escala de atividades agrícolas do cotidiano
(FAO, 2002).
A agricultura é a atividade que mais consume água.
Apesar do papel critico que mulheres tem na
redução da insegurança alimentar, através de seus
conhecimentos em termos de produção de
alimentos, biodiversidade local, solo e recursos
locais de água, elas são frequentemente excluídas
dos processos de tomada de decisões nas novas
iniciativas de manejo de água. (Fundo Internacional
para o Desenvolvimento da Agricultura, 2007)
No norte da África e Oriente próximo, 60–70% dá
água de superfície e subterrânea é usada para a
agricultura. A demanda do uso de água está em
constante crescimento enquanto o seu suprimento
está cada vez mais escasso. (FAO, 2008)
Em 2008, FAO lançou
uma estimativa de
que 1 bilhão de
pessoas no mundo
enfrentarão “extrema
insegurança
alimentar” durante a
próxima década.
JUSTIÇA
ALIMENTÁRIA
E AMBIENTAL
A agricultura de caráter intensivo e
industrial pode enfraquecer a saúde
humana e a integridade dos sistemas
ecológicos. Os dados históricos
sugerem que no passado o povo
usou tradicionalmente mais ou
menos 10.000 espécies de plantas
para a alimentação. Nos dias atuais,
somente 20 cultivos majoritários
(principalmente trigo, arroz e milho)
proveem 90% da dieta mundial.
(dados da Comissão das Nações
Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, 2008)
FOOD & ENVIRONMENTAL JUSTICE
Aproximadamente
20% das terras secas
do mundo estão
afetadas pela
degradação do
solo, o que coloca
em risco a
sobrevivência de
mais de um bilhão
de pessoas.
(Observatório
Global do Meio
Ambiente, 2008)
As emissões a partir de atividades agrícolas somam
12–40% das atuais mudanças climáticas de
responsabilidade de atividades humanas. (Anuário
Internacional sobre Meio Ambiente e Recursos
Econômicos, 2001)
As melhores estimativas sobre a perda das florestas
do mundo representa um pedaço de terra do
tamanho da Venezuela. Tendências iguais percebese
na direção da formação de desertos. Isto tem um
impacto destrutivo direto sobre nossa capacidade
de produzir comida para um mundo faminto.
(Global Forest Assesment, 2002)
A agricultura orgânica é baseada no manejo efetivo
dos ecossistemas locais envolvidos na produção de
alimento. Os métodos orgânicos protegem o meioambiente
e produzem alimentos mais saudáveis
por várias razões: eles reduzem produtos químicos
nocivos que contribuem para as mudanças
climáticas; eles mantém o estoque de carbono no
solo e produz massa orgânica; e eles minimizam o
consumo geral de energia em até 70%.
(Organização internacional dos movimentos pela
agricultura, 2010)
80% das reservas globais de carbono
estão armazenadas no solo e nas florestas,
e o carbono que é emitido como resultado
da agricultura sem preocupação com a
sustentabilidade e do desmatamento
contribui significativamente para as
mudanças climáticas.
Carlos Marentes do Projeto de
trabalhadores na agricultura de fronteira
diz, “o sistema atual de agricultura destrói
comunidades rurais no Sul, forçando
milhões de pessoas a migrar, arriscando
suas vidas na fronteira. Soberania
alimentar e nossa alternativa. Ao invés de
construir muros, nós deveríamos lutar pela
saúde das comunidades rurais, para que o
povo possa permanecer nas suas terras e
produzir sua própria comida”. (“Soberania
Alimentar”, Grassroots International e a
Via Campesina)
FOOD & ENVIRONMENTAL JUSTICE
O QUE
AS IGREJAS
PODEM
FAZER
• Fortalecer as relações das
lideranças das suas igrejas as
causas do empobrecimento,
direitos humanos e o meioambiente.
• Juntar agricultores locais,
especialmente mulheres, a se
pronunciar para suas
congregações, onde elas podem
compartilhar sua experiência e
expressar suas preocupações
• Organizar coalisões de
agricultores e grupos eclesiais
para informar o publico e
influenciar decisões políticas;
• Expressar suas preocupações
para os líderes governamentais
sobre assumir o princípio da
precaução (primeiro, não cause
danos) no uso de sementes
transgênicas e pesticidas
ESTUDO BÍBLICO –
JUSTIÇA AMBIENTAL
E ALIMENTÁRIA
INTRODUÇÃO
A concentração de renda é absurda em nosso
país. A desigualdade social e a pobreza são
problemas sociais que afetam a maioria dos
países na atualidade. A pobreza existe em todos
os países, pobres ou ricos, mas a desigualdade
social é um fenômeno que ocorre
principalmente em países não desenvolvidos.
Relatório da ONU (Pnud), divulgado em julho,
aponta o Brasil como o terceiro pior índice de
desigualdade no mundo. Quanto à distância
entre pobres e ricos, nosso país empata com o
Equador e só fica atrás de Bolívia, Haiti,
Madagáscar, Camarões, Tailândia e África do Sul.
Aqui temos uma das piores distribuições de
renda do planeta. Entre os 15 países com maior
diferença entre ricos e pobres, 10 se encontram
na América Latina e Caribe. Mulheres (que
recebem salários menores que os homens),
negros e indígenas são os mais afetados pela
desigualdade social. No Brasil, apenas 5,1% dos
brancos sobrevivem com o equivalente a 30
dólares por mês (cerca de R$ 54) O percentual
sobe para 10,6% em relação a índios e negros.
Um relatório do PNUD informa que que,
enquanto 9% da população vive com menos de
US$ 1 por dia, 46,7% da renda nacional está
concentrada nas mãos de apenas 10% da
população.
Os profetas e Jesus nos convocam para tomar
atitude diante dessa realidade.
TEXTOPARAMEDITAÇÃO:
EZEQUIEL 28:1–6
À mesa, as divindades que disputam o pão
nosso de cada dia, se alimentam não só do
controle total dos processos de produção e
distribuição dos alimentos, mas devoram as
formas de consumo em apressadas fórmulas de
fast-food. Hoje o comércio mundial de produtos
agrícolas – em especial grãos, lácteos e carnes –
são controlados por não mais de vinte grupos
oligopólicos de empresas transnacionais
sediadas no Estados Unidos e na Europa: “O
FOOD & ENVIRONMENTAL JUSTICE
pão nosso de cada dia nos daí hoje, oh! Monsanto,
Cargill, Swift, Anglo, ADM, Nestlé, Danone,
Syngenta, Bunge.”
Assim na terra como no céu o capitalismo
globalizado de capitais nacionais – oh! mistério
metafísico insondável! pune a agricultura dos
países pobres tratados como devedores eternos
mas as dívidas da agricultura dos países ricos é
perdoada na forma de subsídios, controles
tarifários, tratados de livre comércio... e não há
quem nos livre do mal. A última rodada da OMC
em Hong Kong demonstrou que os capitais
agrícolas de Estados Unidos e Europa não vão cair
em tentação e continuarão a defender seus
interesses agrícolas, industriais e de serviços. Os
trabalhadores e trabalhadoras camponeses da
Korea, da Índia e do Brasil e de outros países
sabem que os governos que negociavam em Hong
Kong não tem legitimidade para negociar em
nome deles e delas.
As empresas capitalistas transnacionais querem
mais: a honra, o poder e a glória no controle da
terra, da água e da semente. Já são Senhoras do
trabalho alheio... agora controlam e monetarizam o
sistema vital e seus seres. Santificado seja o nome
de patentes e tecnologias que invadem o lado
dentro da vida, suas possibilidades e
vulnerabilidades e reinventam o lucro na forma do
remédio, da química, da biologia e das
modificações genéticas.
Santificado seja o nome das ações coorporativas
que se auto-denominam ecológicas, solidárias,
cuidadoras de crianças, promotoras da educação
num complexo jogo de espelhos que procura
disfarçar a voracidade da lógica do lucro. Ongs de
mentira, discursos éticos auto-promocionais,
ORAÇÃOOU CANTO: CONVITE
AOCOMPROMISSO
Venham celebremos a Ceia do Senhor
Façamos todos juntos um enorme pão
Preparemos muito vinho, como em Caná.
Que as mulheres não esqueçam o sal
E os homens tragam o fermento.
/:que venham muitos convidados,
cegos, surdos, coxos, presos, pobres:/
Pronto, sigamos a receita do Senhor,
Batamos todos juntos a massa com as mãos,
E veremos com alegria, como cresce o pão.
Que as mulheres não esqueçam o sal
E os homens tragam o fermento.
/:que venham muitos convidados,
cegos, surdos, coxos, presos, pobres:/
Porque hoje celebramos o encontro com
Jesus.
Hoje renovamos nosso compromisso com
Reino.
/:Ninguém ficará com fome
Ninguém ficará com fome
Ninguém ficará com fome, ninguém :/
FOOD & ENVIRONMENTAL JUSTICE
financiamento de campanhas e iniciativas
comunitárias que não perguntem pelos lucros ou
pelos motivos.
Do lado de fora da vida, a guerra vai cumprindo seu
papel de garantia de acesso a recursos e mão de
obra barata, expansão e garantia de mercados para
a fome devoradora, a paixão avassaladora do
capital. O dinheiro ama o lucro com paixão e não
tolera nenhuma barreira, limite ou regra. Venha o
meu Reino! grita o capitalismo assentando-se num
trono divino no coração do mundo, acreditando-se
deus:
“O orgulho se apoderou de seu coração e o Kapital
disse: eu sou um deus, sentado num trono divino
no coração do mar. Você é sábio e nenhum mistério
é obscuro para você. Com sua sabedoria e
inteligência você adquiriu riquezas e acumulou ouro
e prata em seus tesouros. Sua esperteza no
comércio é tão grande que você multiplicou a sua
fortuna e se elevou com a força da riqueza. Você
igualou seu coração ao coração de deus. De tanto
negociar você encheu-se de violência e pecado.
Seu coração se exaltou com sua beleza e sua
sabedoria se corrompeu por causa do seu
esplendor. Por causa da sua grande injustiça e do
seu comércio desonesto você quis se igualar a
Deus..." (cf. Ezequiel 28:1-6).
A profecia de Ezequiel tem força suficiente para
dizer, simples e direto: você é apenas humano!
você não é deus!
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
• O que o texto provoca na gente? Estamos
conversando sobre isso nas nossas igrejas,
grupos e momentos de formação?
• Quem ainda sabe e pode fazer teologia e
profecia assim?
ORAÇÃO: PAINOSSO
COMPROMISSOS
Que compromissos teremos de agora em
diante a partir do nosso estudo?
Quem sabe podemos compartilhar nas
redes sociais nossa indignação e nosso
apoio aos grupos que estão trabalhando
pela salvaguarda da Criação e escrever
cartas para nossos governantes exigindo
tomada de providências.
Procurar conversar mais sobre que
pequenas atitudes podemos tomar para
proteger a vida no planeta: apoiar grupos
agroecológicos e movimentos sociais,
desenvolver boas práticas agrícolas e hortas
comunitárias na comunidade, economia
solidária, pregações nas igrejas, estudos
bíblicos.
BÊNÇÃO:
“Que o caminho seja brando a teus pés
o vento sopre leve em teus ombros,
que o sol brilhe cálido sobre tua face,
as chuvas caiam serenas em teus campos.
E até que, de novo, eu te veja,
Que Deus te guarde na palma da sua mão”
(benção irlandesa)