APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 19 de maio de 2012

Homilia de 20 de maio


 Textos inspiradores: Atos 1: 15-26; I João 5: 9-15; João 17: 11b - 19
Irmãos e irmãs,
Queridos e queridas de Deus
Temos refletido sobre a páscoa de Jesus e sua ressurreição. Estamos hoje num dia santo onde somos chamados a mergulhar na assunção de Nosso Senhor, que foi comemorada nesta semana.
A carta dos Atos dos Apóstolos é dirigida a Teófilo, que quer dizer amigo de Deus. Dirige-se, portanto, a todos nós. A primeira epístola de João nos fala do testemunho de Deus, expresso em Jesus Cristo, em sua vida, seus atos humanos e concretos. É Ele o modelo no qual devemos nos pautar para o nosso viver. Nosso olhar e nosso viver deve se voltar a ele não de forma devocional que o guarde num céu fictício, mas de contato e experiencia – concreta e real – que nos comprometa com a vida de todos e , em especial, com a comunidade – espaço privilegiado para o estudo, a reflexão da Bíblia e da vida – e de envio para o mundo dos que testemunham o Amor do Senhor.
O esquema de João – também em seu
Evangelho explicita que o Verbo ( e todo verbo indica ação e movimento...) se fez carne em Jesus, e este nos amou com uma amor que implicou em doação de sua vida até a morte e morte de cruz, para que pudêssemos conhecer a Deus, experimentar Seu Amor. Neste pensar conhecer a Deus, implica intimidade e convívio, já que conhecer alguém requer tempo, além de uma contínua conversão de nossas atitudes para que o convívio entre nós seja pautado pelo amor, pelo cuidado e pelo carinho, pelo partilhar do pão, da vida, dos bens, e esta, meus irmãos a real e única possibilidade de testemunharmos o Amor de deus em nós e através de nós. As primeiras comunidades cristãs, assim como nós, tinham problemas e dificuldades mas buscavam viver este sólido amor e testemunho, incluindo um caixa em comum e um cuidado mútuo.
A glória de Deus, conforme expressa nos versículos 22 e 23, expressa que sua verdadeira presença se dá com o amor e unidade em nossa comunidade, em nossa igreja e de todos os cristãos. Uma unidade que não seja vazia, falsa, hipócrita ou estéril, mas fundada no serviço misericordioso e compassivo – manifestação visível do amor – a todos os que sofrem. A divisão é testemunho diabólico e motivo de escandalo parao mundo. Lembramos que a palavra dibólico etimologicamente quer dizer algo que divide enquanto que o que unifica é simbólico. Nossa unidade é, portanto simbolo e sinal de Sua presença neste mundo agitado, volátil, passageiro e instável.
O Evangelho de hoje explicita que não somos nem podemos ser do mundo, o que significa que não podemos viver de acordo com seus valores e princípios: egoísmo, prazer, poder, status, conforto, estética etc...
Diferenças entre nós sempre haverão e é sinal que somos diferentes e podemos, graças a Deus, ensinarmos uns aos outros e crescermos no amor de Deus e na vida fraterna. Devemos, entretanto, trabalharmos os conflitos e desafios sempre com misericórdia e, se possível, doçura e paciência, para podermos saborear – saborear mesmo, sentir o gosto – da presença do Senhor em nosso meio.
Na semana da ascensão do Senhor temos a certeza que devemos aprofundar e mergulhar no convívio com ele, e que somos chamados a pregar por toda parte, dando sinais que confirmam sua palavra,
sua vida, sua ressurreição e sua permanência no meio de nós.
Pregando sempre, falando quando necessário.
Que nosso coração seja e permaneça aberto por Seu amor, e que tenhamos a Graça de sentir Sua doçura,Sua Presença e de sua Palavra no meio de nós de uma forma muito concreta e contagiante.
Que Deus ilumine nossas mentes e nossos olhares, Sua proteção e seu perdão nos acolha sempre e a alegria do Evangelho resplandeça sobre todos e todas na terra.
Assim seja.

EVANGELHO ainda uma novidade nescessária


Há quem veja o óbvio apenas agora! Mas, pior do que isto, é que as nossas igrrejas ainda não viram o óbvio, as pequenas comun idades que refletem o evangelho e vivem o amor ao próximo, em especial aos mais fracos e esquecidos, a partir de uma reflexão madura, concreta e realista do Evangelho- que , na prática não temos...

Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja - José Pagola

Sexta-feira, 18 de maio de 2012 - 10h47min
por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 16, 15-20 que corresponde ao Domingo da Ascenção do Senhor, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
NOVO COMEÇO
Os evangelistas descrevem com diferentes linguagens a missão que Jesus confia aos seus seguidores. De acordo com Mateus, hão de "fazer discípulos" que aprendam a viver como Ele os ensinou. De acordo com Lucas, hão de ser "testemunhas" do que viveram junto Dele. Marcos resume tudo dizendo que hão de "proclamar o Evangelho a toda a criação".
Quem se aproxima hoje de uma comunidade cristã não se encontra diretamente com o Evangelho. O que se percebe é o funcionamento de uma religião envelhecida, com graves sinais de crise. Não podem identificar com clareza no interior dessa religião a Boa Nova proveniente do impacto provocado por Jesus há vinte séculos.
Por outro lado, muitos cristãos não conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e da sua mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e fragmentária escutando catequistas e pregadores. Vivem a sua religião privados do contato pessoal com o Evangelho.
Como poderão proclamá-lo se não o conhecem nas suas próprias comunidades? O Concílio Vaticano II recordou algo demasiado esquecido nestes momentos: "O Evangelho é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua vida para a Igreja". Chegou o momento de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde o principal é acolher o Evangelho de Jesus.
Nada pode regenerar o tecido em crise das nossas comunidades como a força do Evangelho. Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja. Dentro de alguns anos, quando a crise nos obrigue a centrar-nos apenas no essencial, veremos com clareza que nada é mais importante hoje para os cristãos do que nos reunir para ler, escutar e partilhar juntos os relatos evangélicos.
O principal é acreditar na força regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a fé, não por obrigação mas por atração. Fazem viver a vida cristã, não como dever mas como irradiação e contágio. É possível introduzir já nas paróquias uma dinâmica nova. Reunidos em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos recuperar a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.
Temos de voltar ao Evangelho como novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia pastoral. Dentro de uns anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus não será uma atividade a mais entre outras, mas a matriz desde a qual começará a regeneração da fé cristã nas pequenas comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.