APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

NATAL
Caros irmãos, queridas irmãs,
Celebremos hoje o Natal. Jesus nasceu.
A festa do Natal não é a maior festa cristã, que é aquela que se dá no período da quinta feira santa à Páscoa, culminando com a Ressurreição. Segue-lhe em importância o Pentecostes, quando recebemos e acolhemos o Santo Espírito que nos envia ao mundo em missão salvadora.
O Natal, porém, é o maior mistério. Deus se faz homem!
Não é pouca coisa não...
Devemos, entretanto, tomar cuidado, muito cuidado. A celebração, a boa celebração, a verdadeira celebração não se dá na ceia natalina ou mesmo na Igreja.
Vejamos:
Jesus nasce como um ser aí, largado, alojado humildemente, sem luxos, como pobre. Num tempo em que se considerava que Deus residia no Templo, controlado pelos sacerdotes e cujo seguimento era pautado por regras de pureza e controle (sempre pagos), Ele, o Deus da vida, vem até nós numa manjedoura. Deus é deslocado do Templo para a intimidade comunitária, para o encontro vivificante dos seres humanos. Nosso corpo é chamado a ser morada do Senhor, inclusive na própria Eucaristia.
Ele nasce de uma mulher que certamente era considerada impura para os costumes religiosos da época.  Caso tenha curiosidade, leia o Livro de Levítico, em especial os capítulos 12 e 15, para entender como as mulheres eram tratadas e vistas. A mulher menstruada já era impura, imagina uma mulher grávida, sem ser de seu marido. Um escândalo!
Muito falamos de Maria, e é justo, mas veja José, o pai do Cristo. Ele ficou numa situação um tanto delicada. Caso denunciasse a Maria, ela seria apedrejada e apedrejada até a morte, dela e de Jesus. Preferiu, entretanto, acolher a Boa Nova misteriosa ao mergulhar na experiência que lhe falava ao coração, a experiência de Amor, a Maria e a Deus, e, silenciosamente e discretamente, se colocou a serviço do Deus amoroso. Graças a ele Jesus veio e fez seu caminho de graça salvação que o levou à cruz e a morte e à ressurreição, e somos testemunhas vivas disso.
A grande novidade do cristianismo não é a de nos levar aos céus, símbolo de totalidade, mas de encarnar a Deus aqui, por Cristo, em Cristo, com Cristo. É Deus que nasce, que vem, quem desce, quem nos acolhe como homens integralmente. Um filosofo ateu, seu nome não me vem à memória, que o único conceito cabível para Deus seria excesso, superabundância. É isso! Superabundância! Superabundância não de bens, de consumo, de presentes, de alegrias passageiras, de vitórias pessoais. Superabundância de Paz, que vem com serviço ao outro, bondade, amor, alegria de uma humanidade a nossa e de todos os outros homens e mulheres, acolhida e assumida plenamente.
Deus se faz homem, a mensagem do Natal é esta.
Tudo o que afeta, judia, atordoa, machuca, mata o homem, qualquer homem – não importa a cor, a raça, às opções de vida, afeta a Deus e exige nossa intervenção.
O nascimento de Jesus nos exige a adesão a toda causa humana, a defesa da vida, aos Direitos Humanos, aos excluídos, aos marginalizados. Jesus não nos pede discursos, mas atitudes: acolher o pobre, a viúva, o estrangeiro.
O texto de Tito nos lembra que a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens.
 No texto de Isaias está manifestada a esperança de um Messias que venha poderoso e construa um mundo justo.
Deus, entretanto, nos vem numa singela manjedoura, na Galiléia, vindo de Nazaré, cidade desprezível. Deus se fez homem, se fez fraco, se fez gente de carne e osso. Deus se manifesta como Todo amoroso, Todo compaixão. São em gestos simples, despojados e amorosos que ele se revela, gestos estes que somos chamados também a fazer e viver. Em nossa fragilidade e pequenez estamos plenamente aptos a Lhe servir servindo a humanidade, celebrando a vida por onde andamos.
Inspiremo-nos em José, em sua discrição, em sua humildade. Que Deus apareça e não nossa pessoa, nosso nome, nosso cargo, nossa Igreja.
E assim permitir que a Glória de Deus se revele agora e sempre.
Amém! Assim seja!
Deus nos permita e guarde.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EVANGÉLICO NÃO, EVANGELHOS

Esta fala foi feita por mim no dia 11 denovembro em São Paulo. Espero que gostem. Retirei detalhes, de caráter paroquial.
Irmãs e irmãos,
A duas semanas nos foi relembrado o significado do Advento como memória da vinda do Senhor Jesus, mas também que devemos fazê-lo renascer em nossos corações.
Semana passada o tema da conversão emergiu, sempre exigência incômoda – que João Batista pedia, e segue pedindo.
Hoje a primeira leitura, do livro do profeta Isaías, nos fala de um mundo em que quem planta colhe o alimento e come, quem constrói casas nelas mora, crianças não morrem antes da hora, ninguém trabalha inutilmente.... É uma promessa de Deus! Uma promessa que perdura, que foi feita para o povo sofrido daquele tempo mas também para nós, para hoje, para nossos empregados, para os nóia, para os esquecidos de hoje.
Olhando, porém para o mundo ao nosso redor o que vemos?
Deus veio? O messias veio?  Cadê seu Reino?
Se não vemos como podemos nos dizer cristãos?
Há ainda morte, opressão, guerras, injustiça como resultado de um mundo consumista e que visa exclusivamente o lucro.
É necessário sim uma nova e permanente conversão – pessoal, institucional e social – um novo Advento em que Cristo renasça em nós e no mundo.
João batista preparava um novo caminho, uma nova forma de pautar a vida e seu batismo único acolhia seus novos membros, que incomodavam os donos do poder -não se esqueçam que sua cabeça foi oferecida a prêmio em banquete.
Jesus vem ser batizado por ele, mesmo sem precisar de rituais de pureza ou conversão sinalizando que:
    1. Deus se fez homem acolhendo toda a humanidade e fazendo parte da comunidade dos homens.
2.      O Espírito de Deus estava sobre ele e sobre ele permaneceu revelando a glória de Deus.
O Espírito de  Deus! Espírito, em grego pneuma, em hebraico Huah, quer dizer vento, que aponta sempre para algo de caráter dinâmico, em movimento. Tal como o vento não o vemos, mas sentimos seus efeitos. O Espírito é aquilo que move alguém, por uma força que não é sua.
O mundo também têm seu Espírito – de divisão, por isso demoníaco – por isso se desenvolve e se transforma continuamente.
O Evangelho de Roma pautava-se na paz romana, armada. A boa nova do Capitalismo é a do crescimento econômico e o acesso aos bens de consumo, mas não para todos.
O Evangelho de Jesus traz uma salvação integral que tem como critério a vida e os ser humano. A salvação vem sim de um Espírito que traz a capacidade de romper com a lógica estabelecida, exercendo a liberdade do  amor e assumindo o projeto de Deus, de amor e serviço, a radicalidade de seguir o caminho de jesus, o caminho da cruz. Daí o significado do sinal marcado em nós e em nossos corações – o sinal da cruz.
Precisamos seguir nos convertendo, experimentar e vivenciar o amor, a perceber – e dar graças – por todos os que revelam Seu Espírito, agindo na luta pela justiça, no acolhimento e no serviço aos esquecidos, sofridos, marginalizados. Aí está Deus e sua Glória!
Quero aqui fazer um breve parêntesis em que gostaria de testemunhar  como fiquei impressionado nesta semana com uma reunião que assisti  dos Narcóticos  Anônimos com o serviço mútuo, a gratuidade, a fraternidade, a intimidade, o respeito e o carinho e a compaixão vivida. Quem dera todas as nossas comunidades fossem assim.
Tenho visto pessoas simples e sem importância em trabalhos simples, em locais sem importância testemunhando este amor exigente que Jesus nos trouxe e deu testemunho em Sua vida. Experiências de Deus e de Seu Reino.....
Não podemos nos imobilizar pelo fatalismo midiático, da exploração da dor e da morte e nos guiar pelas virtudes cristãs – a fé, a esperança e a caridade – a maior delas! A força da igreja é a força das comunidades, escola e testemunha do amor de Deus, que é e deve ser a força espiritual de enfrentamento com o espírito do mundo.
Não podemos nos contentar em ser evangélicos – seguidores de um caminho ou doutrina. Seguir Jesus é muito mais que isso! Precisamos ser Evangelho -boa noticia, noticia de vida e de amor, onde estivermos. Ser manjedoura de Deus na história!
O evangelho de Marcos se inicia falando assim: Começo do Evangelho de Jesus, o Messias...
Começo!
Sejamos sua continuação...
Sejamos Evangelho.
Mergulhados no Santo Espírito, unidos e alimentados na vida comunitária e pela eucaristia.
Com a Graça de Deus que acolhe e alimenta nossa pequenez.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco.
Amém
 

sábado, 15 de outubro de 2011

A força libertadora do belo nas celebrações e práticas sociais


O presente Texto é o resultado de reflexões feitas a partir de aula dada pelo professor Dr. Jung Mo Sung na Paroquia Santos Mártires, situada no Jardim Angela, que fica na periferia da cidade de São Paulo. Pedimos que os méritos que eventualmente tenha este texto seja dado ao Professor, sem o qual não teria sido feito, e os defeitos e inconsistências sejam postos a meu encargo. Este texto não pássou por revisão pelo referido mestre, a quem agradeço.

A força libertadora do belo nas celebrações e práticas sociais 

A teologia da libertação tem um olhar afiado nas questões de desigualdade social, mas pouca preocupação estética.
A hierarquia católica tem uma preocupação de que os estudos teológicos sejam voltados à verdade, sendo que esta está determinada, absoluta e fixa, norteada pelos saberes articulados pela hierarquia. O olhar privilegia, portanto, a ortodoxia.
A teologia da libertação preocupa-se com a ortopráxis, a prática concreta, norteada pela idéia do bem, da ética e da justiça.
O belo, porém, normalmente é um campo estudado pela estética e, ao menos hoje em dia, o importante é parecer bonito. A feiúra e a beleza são conceitos paralelos e interdependentes, onde um depende do outro. O belo, entretanto, tem uma capacidade mobilizadora, tanto pessoal quanto social.
O agir político não é um ‘sair fazendo’ em um processo de luta e tensão, e suas características dependem do tipo de movimento envolvido.
O processo de resistir implica em ativar o instinto e pode implicar em agredir o adversário ou mesmo procurar eliminar o que a ameaça. A pressão leva, muitas vezes, as pessoas que sofrem a agredir e não a se constituir em uma luta de caráter libertadora.
O agir e a força libertadora implicam em uma decisão, que canaliza a direção do agir libertador.
A pessoa, para sair da dimensão de resistência e violência tem de fazer uma caminhada em que sua dignidade vai ganhando corpo e percepção e o senso de responsabilidade – que implica em resposta e resposta transformadora. Não se trata de desenvolver uma culpa ou culpado – que pode implicar na eliminação deste, mas transitar para um paradigma amoroso e integrativo, dialógico e ampliado.
O belo tem, entretanto, a capacidade de ajudar na medida em que canaliza a direção do agir libertador, diminuindo a angústia e a ansiedade, além de permitir a pessoa a desenvolver um olhar diferente assim como novos horizontes, caminhos e possibilidades.
A vida não funciona como está previsto nos livros!
O agir transformador implica em refazer amizades e espaços humanizantes já que ela não existe como ser isolado, mas como ser de relação com os outros. Isolado, usualmente, caminha para a depressão e à patologia. O agir político deve então implicar no resgate da dignidade dos seres atuantes – Gandhi diria que todos os envolvidos na contenda – e a auto-estima.
A dimensão estética envolve o corpo, a natureza, os bens de consumo, assim como o processo de acolher e fazer o outro sentir-se bem, tal como o sorriso pode iluminar os encontros e mostrar aceitação. A estética, sem ética, não realiza a dimensão humana.
No processo de apropriação de si mesmo a pessoa não pode se amar se não percebe os outros lhe amando. A pessoa acaba por se ver com os olhos das pessoas que são importantes para si.
A experiência fundamental da comunidade cristã é a percepção de que Deus Ama e isto é Graça, sem envolver mérito, para todos, portanto. O próprio processo penitencial da confissão é um mérito pelo fato que o pecador / sofredor ser acolhido aceito e transformado a partir de sua realidade histórica e concreta.
O belo pode levar ao outro a percepção a percepção de sua importância, dignidade e sensibilidade, resgatando seu valor.
É costume dizer que Deus é todo poderoso, mas isto não é verdade, ao menos não é isso que aparece no Novo Testamento.
Para o cristão Jesus é a palavra e em Heb. 3 fica claro que o ser de Deus está em Jesus. O evangelho é, pois, o livro que fala a Palavra que é Jesus, expressando a verdadeira face Dele que é Amor.
A identificação de Deus com o Poder, que pode impor sua vontade implica em uma idolatria. A força de Deus, outrossim, é algo diverso, pois permite movimento... O amor não se obriga, mas me escolhe e pressupõe a liberdade. Uma liberdade tão radical que independe de resultados e de sucesso já que persiste na dificuldade e no fracasso. O processo de poder implica em obrigação, em obediência, mas não em conversão, nem em atitudes mais amorosas nem humanizantes.
A Igreja, em Pentecostes, mostra que sua força, emanada da experiência salvífica, produz coragem para falar que o Templo está errado e que Jesus ressuscitou.
A experiência do belo fortalece a força e a beleza de um sorriso de criança revela o bem que expressa a verdade.
Numa sociedade capitalista a plástica acaba por criar pessoas incapazes de expressar emoções!
Já os deficientes são escondidos e excluídos pela sociedade para ficarem invisíveis, pois mostram a vulnerabilidade das pessoas, da sociedade e de suas estruturas infames.
A experiência do belo pode ir se acumulando e produzir a sensação de vazio, simplicidade de cuidado para o outro, carregando por si um enorme simbolismo, inclusive libertador, pois aponta para a valorização do ambiente e das pessoas a que dirige.
O que ocorre no dia a dia de nossa sociedade é algo bastante diverso já que você é valorizado pelo que pode produzir ou acrescentar ao mercado, o que traz conseqüências inevitáveis para os que não podem aprender ou gerar valor. A pessoa excluída e agredida mais e mais acaba por se agredir ou agredir a outras pessoas. O capitalismo sobrevaloriza a utilidade e a produção.
O projeto de Deus, expresso em Gêneses no Jardim do Edem, mostra uma criação com frutos gostosos e belos de se ver!
Nossa vida concreta, entretanto, cheia de limitações e opressões é diversa, presa a conceitos desumanizantes e a violência em relações que se fundam na busca incessante de ser útil (e serem valorizados por isso), sem experiências de gratuidade e vivências amorosas. A vida humana, porém, é cheia de oportunidades para experiências de outra dimensão, da gratuidade, do amor e da entrega, da Graça que revela Deus ao mundo.
Todos, em algum momento da vida, temos a experiência de fundo, um sofrimento que é diferente para cada pessoa e assim deve ser acolhido e enfrentado. A saída deste processo implica em retomar a força que vem do Amor a si, que brota do Amor vivido na relação concreta com o outro, que procede de Deus. Deus amor e serviço se revela e depende, muitas vezes, da forma como a comunidade cristã expressa sua vitalidade e seu serviço, para permitir a percepção do sentir-se amado. Muitas e muitos têm hoje, mesmo na Igreja, a experiência de ser valorizado apenas se pessoa de sucesso, bela e rica e quantos não têm a singeleza do amor familiar e fraterno, base de nossa humanidade.
A dimensão do belo tem por característica aumentar a sensibilidade humana, a pertença e o vínculo com outro e a percepção do Amor a si dirigido.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NOSSO PAIS VIROU UMA POCILGA!!!!!!!!


Faço minhas as palavras abaixo....
Precisamos nos movimentar mais, reclamar menos, exigir mais - inclusive de nós mesmos!
Nosso país virou uma pocilga
José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo, teólogo, escritor e professor universitário
O dia 30 de agosto de 2011 vai ficar marcado na história do nosso país como a data na qual o
Brasil, de modo definitivo, virou uma pocilga. De fato, neste dia, 265 deputados federais absolveram
a colega Jacqueline Roriz, considerando normal o fato de que ela tenha se beneficiado do
propinoduto do Mensalão do DEM, liderado pelo ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda.
Mesmo a deputada tendo admitido publicamente que recebeu a propina, seus pares a inocentaram
pelo simples fato de que ela não cometeu o crime na atual legislatura. Como se não bastasse os
últimos casos de corrupção na esfera pública, as pessoas honestas deste país foram obrigadas a
respirar mais este mau cheiro insuportável de corrupção que permanece impune.
Meu pai, hoje com 82 anos, só teve a oportunidade de estudar até a terceira série do ensino
fundamental. Porém, frequentou a universidade da vida e, por meio dela, se tornou pós-doutor em
vivências e em experiências. Como “professor de vida” nos ensinou muitas lições. Uma delas, que ele
ama repetir até hoje, soa assim: “Quem faz um cesto, faz um cento”. Ou seja, o corrupto que fez uma
coisa errada uma vez, o fará sempre. Além disso, ao absolverem a colega corrupta, os 265 deputados
do nosso parlamento admitiram estar com “o rabo preso”. Fica-nos a impressão de que também eles
devem ter participado ou têm intenção de participar de atos de corrupção como este e, por isso, não
se sentiram livres para punir uma colega flagrada “com a mão na botija”. Com isso assinaram o
próprio diploma de corruptos, que deveriam colocar em uma moldura chique e pendurá-lo na porta
de entrada de seus gabinetes.
Mais uma vez ficou evidente a urgência da ética em nossa sociedade brasileira. Por ética
entendemos a forma de ser no mundo por meio da qual o sujeito concreto se sente comprometido
com a dignidade do ser humano e com a justiça social. Leonardo Boff define a ética como sendo tudo
aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente em que vivemos para que seja uma moradia saudável.
Assim sendo, a ética não é outra coisa senão cuidar para que a Terra seja sempre uma morada
saudável. É cuidar das pessoas de modo que elas, sentindo-se bem, possam, de fato, comprometerse
com a felicidade das demais. Portanto, cuidado e ética são sinônimos.
Hoje se fala demais de ética. Porém, isso não é o bastante. É indispensável que se desenvolva
uma prática que torne eticamente correto o comportamento moral das pessoas em sociedade. Diante
de fatos estarrecedores como este, ficamos escandalizados e decepcionados. Mas seria necessário
admitirmos, com toda sinceridade e honestidade, que a corrupção está impregnada na cultura e na
cabeça de todos nós. Estes 265 deputados que absolveram a colega corrupta não chegaram ao
parlamento por acaso. Não tomaram o poder à força. Foram eleitos por brasileiros e por brasileiras.
Logo, mais da metade dos eleitores de nosso país é formada de corruptos que elegem corruptos.
Aliás, não é difícil constatar como a corrupção está semeada entre nós. É bem conhecido o
nosso “jeitinho brasileiro” de resolver os problemas. Estamos acostumados a práticas como “pagar
por fora, pagar uma cerveja, pagar um guaraná, dar uma gorjeta” etc. Há o funcionário que
massacra o colega, o estudante que copia e cola, o funcionário público que assina o ponto digital e
some do seu local de trabalho, o professor que faz de conta que dá aula, o garoto riquinho que é
flagrado cometendo delito e liga para o pai dele pedindo que fale com o policial etc. etc. Reclamamos
da corrupção dos políticos, mas, infelizmente, a “cultura da corrupção” está embutida em nossas
cabeças. E quando é para “levar vantagem em tudo”, não hesitamos em lançar mão das formas mais
simples e comuns de corrupção, como, por exemplo, furar a fila no banco, mesmo que
disfarçadamente.
Falta-nos a coragem de parar para refletir sobre essas coisas; falta-nos sensibilidade e
racionalidade para entendermos que o corrupto não chega sozinho à esfera pública. Ele é levado por
eleitores, por boa parte daqueles mesmos que, hipocritamente, ficam escandalizados quando
escutam o noticiário sobre a corrupção.
Mas para que possamos mudar esta situação é indispensável que não confundamos ética com
moral. Esta última compreende normas, regras de ação e fatos a ela relacionados. A moral seria um
conjunto de princípios e de prescrições que as pessoas de um determinado grupo humano
consideram válidos, bem como os atos reais deles decorrentes. A moral é normalmente determinada
a partir da cultura, da filosofia e da ideologia dominante. Na moral as pessoas se atêm às normas
fixas que lhes possam assegurar que elas não estão erradas. Porém, na ética as pessoas escolhem o
que fazer não a partir do que “não está errado”, mas a partir da consciência de justiça e de dignidade
humana que possuem. Bauman, filósofo e sociólogo polonês radicado na Inglaterra, defende que,
em muitos casos, precisamos transgredir as normas da moral para fazer prevalecer a ética. Isso
porque nem sempre o que é moral é o melhor para seres humanos reais. Às vezes a ética precisa ser
“imoral”.
No caso da absolvição da deputada, seus colegas entenderam que tal ato não era “imoral”,
uma vez que ela não tinha recebido a propina na atual legislatura. Ao fazerem isso os deputados
seguiram a moral e ofenderam a ética. O fato deixou também evidente que os eleitores desses
deputados são moralistas. Eles se escandalizam com a corrupção e se decepcionam com a política,
mas na hora de votar, não pensam no bem comum, não usam a razão. Do contrário não teriam
votado nesses 265 deputados que absolveram uma colega que confessou publicamente a prática de
um ato de corrupção.
Nosso país virou uma pocilga. Sente-se o mau cheiro por toda parte. E não adianta fazer
protestos em frente ao Congresso Nacional, lavando o chão e as rampas. Precisamos lavar as nossas
consciências, pois o fedor que sentimos não vem só de Brasília, vem de dentro de nós mesmos, de
nossas cabeças corruptas. Somos um povo de maioria corrupta, que vota em corruptos. É duro dizer
isso a nós mesmos, mas, enquanto não tivermos a coragem de fazer isso, a corrupção não terá fim.
Meu velho pai, pós-doutorado em vida, sempre nos ensinou que “quem se mistura com porcos,
farelos come”. Se no atual momento o Brasil exala este fedor de pocilga é porque a maioria dos
brasileiros está “comendo farelo”, votando em “porcos” que adoram enlamear-se na corrupção.
Se quisermos ser éticos, e contribuirmos para que exista ética no Brasil, devemos estar
preparados para transgredir certo tipo de moral, fazendo prevalecer a ética. Melhor dizendo,
precisamos ter a coragem de lutar e de nos comportarmos de forma tal que as nossas normas morais
coincidam com a ética.
Ainda resta o apelo ao Judiciário. Mas será que este poder também não vai trocar a ética pela
moral, como fizeram recentemente com a chamada Lei da Ficha Limpa? Não foram estes nobres
magistrados que permitiram que políticos comprovadamente corruptos, eleitos no último pleito,
voltassem ao Congresso só porque não cometeram seus delitos na atual legislatura?
Vale a pena chamar em causa o meu conterrâneo Ruy Barbosa que quase cem anos atrás, em
1914, assim falava aos seus pares: "A falta de justiça, Senhores Senadores, é o grande mal da nossa
terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito,
é a miséria suprema desta pobre nação. A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo
que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais. A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a
honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que
vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na
fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove
a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se
da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Ou, talvez, quem sabe, convidemos Aristóteles para que depois de vinte e quatro séculos
volte e grite em nossas praças: “O mal prevalece quando os bons se calam”. Lembrando que para o
filósofo grego bom é aquele que ama a ética, no sentido antes explicado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PETRIFICADO - POESIA


Trata-se de uma poesia já antiga, que resolvi transcrever... Ando corajoso! Estas coisas não costumo mostrar não....
Petrificado

Na noite escura
Ardor
A dor
Perpassa, passa,
O silêncio não se cala
Envolve
Agita
Acalanta
A mente agitada
Estupefata
Não quer calar-se
Riscos, rabiscos
Caricaturas apenas
Tecidas
Costuradas no vento
Me trazem você
De leve,
Aos poucos,
No sussuro do silêncio
Vai costurando sua teia
Me prendendo
Em imagens, desejos, anseios,
Vislumbres do coração
Costurando necessidades
Ardores
Beijos
Que não toco e vejo
Mas sinto
Apenas no vento,
No ar,
Um toque sutil
A brisa inefável
Que envolve,
Desnorteia,
Paralisa.
E assim fico
Permaneço
Sem norte
Enquanto aguardo
Teus beijos,
Petrificado.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

PEDRA SOBRE PEDRA

PEDRA SOBRE PEDRA

Um texto tem sempre seu contexto psicológico, histórico e humano.
Queremos aqui, entretanto, trabalharmos outros aspectos, mais vivenciais.
Uma folha escrita tem em si traços de tinta que, conformados pelo silencioso vazio da página em branco, ganha significado e forma um trajeto e um percurso em que nossa humanidade, sensibilidade e fraqueza pode viajar serelepe e suavemente em busca de outras faces, rostos e mentes, a fim de plantar poesias e vida.
A Palavra de Deus, entretanto, tem outra vocação performática. Não confundir, porém, a Palavra de Deus com a Bíblia, também ela Palavra de Deus, mas não sua única expressão. Deus fala de muitas formas e Sua Palavra está inscrita – de forma inefável em esplendor e beleza – na natureza e segue insistentemente também a revelar a Si a todos e todas que amam e seguem Seus passos ainda hoje, em ambientes nebulosos e opressores.
Frei Carlos Mesters – homem santo e grande biblista – nos fala que a Bíblia serve para iluminar o livro da vida e ajudar na caminhada do Seu povo. Isto é lindo e precioso.
Ocorre, porém, que gostaríamos aqui de construir outros argumentos e reflexões. A Bíblia é um livro – ou um conjunto de livros e escritos – escrito por homens vivendo em uma situação histórica específica, para tomar partido de uma situação pessoal e social, não poucas vezes de forte viés político e coletivo. Um livro que se faz na história mas não histórico, istoé, não pretende contar eventos e fatos miraculosos mas mostrar e demonstrar como o trajeto da Revelação de Deus se deu no caminhar de um povo, com todas as suas contradições, equívocos e limites de seu tempo.
A nosso ver, entretanto, a Revelação segue seu curso e ganhou novo dinamismo com a presença de Jesus e  o espalhar de seu Evangelho com o surgimento do cristianismo.
A Revelação se deu e segue se dando!
Isgo implica, então, que, ainda que os livreos canônicos tenham sido já estabelecidos e “fechados”, seguem sendo escritos pela história de todas e de todos que vivem e viveram em seguimento de Jesus Cristo, inclusive os inúmeros mártires – D. Romero, Ir. Dorothy e tantos outros. Nossa vida é chamada a ser Evangelho, Boa Notícia aos pobres e desvalidos, os esquecidos de nosso tempo, tornando-se não apenas iluminada pela Sua mensagem mas constituindo-se ela mesma em um tecido emaranhado em que Bíblia e vida prática e ética – a chamada ortopráxis são costuradas de forma unívoca.
O Evangelho, assim escrito não é mais tinta em folha mas pedra na pedra – tal como o Decálogo de Moisés – esculpida a divindade na humanidade ( a perfeita humanidade em nossa frágil humanidade). Uma só coisa!
Belas palavras, mas como este processo de escavação se dá concretamente?
Creio que em seguimento das práticas – inclusivas e amorosas- de Jesus, que resgatavam a dignidade dos excluídos. Tal seguimento implica não apenas em aproximar-se dos fracos, oprimidos e sofredores mas assumir sua causa, enfrentar o Império do mal e a idolatria, combater o bom combate de transformar a sociedade para não mais seguir este processo opressor. Implica este processo em permitir o contato e deixar-se tocar pela dor dos outros até as entranhas se remoerem, o que na Bíblia recebe o nome de compaixão, de forma a aumentar nossa sensibilidade e humanidade.
E a escavação, lenta, silenciosa e poética vai tecendo sonhos e milagres, vidas que brotam e renascem, mesmo na dureza do asfalto e, muitas vezes, do silêncio e da insensibilidade da Igreja cristã.
Sejamos nós Evangelho, Boa Notícia e libertação, por onde andarmos, tocarmos e olharmos.
Pedra sobre Pedra
Amém!

AMADURECER

AMADURECER

Amadurecer o fruto pra que seja sobrevivência o alimento.
Amadurecer o feto pra que a palavra se cumpra.
Amadurecer a idéia pra que se aprimore a criação.
Amadurecer as decisões pra que as atitudes sejam coerentes.
Amadurecer o sofrimento pra que a alma cresça.
Amadurecer o gesto pra se sentir a harmonia.
Amadurecer a sensibilidade pra se estar em sintonia.
Amadurecer o silêncio pra que se transforme em oração.
Amadurecer a carência pra que em deus você se baste.
Amadurecer você pra que o outro se descubra.
Amadurecer o perdão pra que a mágoa seja ofertório.

GUIOMAR PAIVA

sexta-feira, 16 de setembro de 2011


Palavra de vida e a vida da Palavra
O inferno são os outros!” J. P. Sartre
De fato assim o é.
Os outros são, sempre, os impeditivos para a plena expansão de nossos desejos, necessidades, anseios. Se olharmos a vida e o outro a partir do Eu, do nosso ego, do ponto de vista de prazer pessoal, individual, não há como negar que o outro nos atrapalha ou se torna apenas objeto de nosso prazer. São acolhidos, pois, se, e apenas se, servem ao nosso prazer.
Lia Luft, em entrevista ao Globo News, disse que o outro é uma floresta escura. Uma floresta escura! Inacessível, sombria, temerária, desafio permanente a nosso ser. Um mistério a ser desvelado, descoberto, que se atualiza a cada dia e instante a partir de suas relações e olhares, que pode nos revelar um pouco da presença de Deus nesta dinâmica existencial. E, não nos esqueçamos, não podemos viver sem este outro, pois individualmente não nos bastamos – inclusive materialmente.
Somos seres relacionais por excelência, abertos ao outro, assim como ao infinito e ao Eterno, dependentes do outro, pois criados a partir e fundados no Amor. Eis a nossa verdade mais íntima e profunda – nosso fundamento – que é o Amor – Deus por excelência, que se expressa, se comunica, se historiciza.
Deus, o Criador, amor Pleno é também como uma floresta escura e misteriosa que pede para ser desvelada, desvendada, revelada. Isto se dá num espaço vital e experiência humana que se revela no agir comunitário dos cristãos inspirados pelo Santo Espírito e pela Palavra Viva de Deus – a Bíblia.
Nossa vida, toda ela, é ritmada pela natureza e por nossos hábitos, construídos em nossa trajetória pelo processo formativo, cultural e familiar.
É neste nosso – às vezes enfadonho – dia a dia que nós temos a possibilidade de reconhecer a centralidade da palavra para nos guiar em nosso caminhar. A cada dia a Igreja oferece a seu povo porções de sua Sabedoria (pequenas e amadas cápsulas) para a nossa reflexão. Esta porção diária nos impele a sair de si, pois não está estabelecida por nós, mas pela comunidade cristã.
Este ritmo, livremente assumido pelo Amor, estabelece uma cadência regular e constante que permite organizar o tempo próprio e abrir espaço para o que nos é essencial e central na própria vida. – pois lhe dá sentido, significado e direção. E torna-se, paulatinamente, um enamorar-se irresistível pela Palavra que nos encanta, toca, transforma, consome.
É ali, no cotidiano, que se dá o ritmo estratégico e decisivo na vida de uma pessoa. A Palavra de Deus, reconhecida como centro da vida e do dia a dia, implica, pois uma postura de total colocar-se nas mãos do Outro, de total disponibilidade, humildade e radicalidade, pois acabamos por assumir que o ritmo de nosso existir é fixado pelo Criador e acolhido livremente no Amor.
Eis porque é a meditação diária da Palavra que inaugura o dia do cristão e lhe proporciona a chave de leitura de sua vida e pessoa, e que possibilita que ao final do dia possa voltar a se examinar e a reler seu viver. Este olhar e Palavra é o próprio Deus que nos invade e orienta. Sendo ele Amor nos penetra, modifica, transforma e guia em direção a nossa humanidade. Pois quando nos apequenamos nas ondas do egoísmo, do consumismo e das aparências ficamos menores em estatura, em sensibilidade e em fraternidade. Temos, pois, a possibilidade de sermos mais e assim estarmos a caminho da felicidade e Paz que Ele amorosamente nos oferece.
É assim que a minha identidade está dentro da identidade de Deus, por assim dizer, porque nessa mesma palavra que fala de Deus sou convidado a colher também a minha vocação, o meu modo de assemelhar-me a ele, o meu projeto existencial, o meu nome escondido no dele. (Cencini, 2010).
Este refletir e meditar sobre a Palavra fecundada que é fecundada pela vida, pelos acontecimentos transformando-se em ação e oração, em contemplação, em raiz de todo gesto e pensamento, afeto e desejo.
Ocorre, entretanto, que a vida cristã tem também um ritmo semanal que se dá, necessariamente, comunitariamente na liturgia Eucarística. É este o centro fraterno que nos anima a perseverar no Caminho, a construir solidariamente estruturas de serviço e de testemunho do amor, que nos constitui.
É esta experiência, concreta e palpável, diária e cotidiana, do Encontro com a palavra, animados pelo Espírito e pelo alimento Eucarístico que nos transforma em servidores da Justiça e do Direito e testemunhas do Seu Amor em nós e no meio de nós.

Paulo Cesar Portellada
Acupunturista, Filósofo
Pós graduado em Direitos Humanos pela PUC – GO

Bibliografia
CENCINI, Amadeo. A vida ao ritmo da Palavra: como deixar-se plasmar pela Palavra. São Paulo: Paulinas, 2010.

RESSURREIÇÃO


RESSURREIÇÃO
    Toninha e Rubem Alves, no caldeirão da vida, se casam bem!

 Há quem diga
O mundo é objetivo, concreto
Tolice!
O mundo é do tamanho que O vemos
Cabe nos olhos, no coração
Na alma que sopra o Espírito
E vê, vive e contempla
A Ressurreição.
Mistério – simplesmente mistério
Túmulo vazio
A Revelar
Perfeito Nada
Za Zen
Koan vital / vitalizante
Presença Completa
Mesmo na escuridão
Sem palavras
No encanto de olhares
Na Poesia da luta
Sentida
Com sentido
Tecida
Miraculosa, misteriosa
A ressuscitar
Em cada ato : entrega
Não uma fuga
Não a morte ponto final
A Vida a transbordar
Germinar
Marcar (o sinal da cruz)
Insistir, teimar
Viver
Amar
         Tão completamente que não cabe em si
          Nas palavras, na matéria
Mistério
Que os olhos captam
Em Za Zen coletivo
Com os olhos dos outros
A Revelar
O Outro
Definitivo.


21.11.2010 

HAICAI


 HAICAI
Um haicai é um minúsculo poema que pinta a epifania de um instante. (Rubens Alves)
E cita um:
“Essas pimentas
Acrescentai-lhes asas
E serão libélulas".

A Bíblia nos dá asas
Põe asas nos olhos
Magia, coração, amor
Para viajar ao outro / Outro.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Poesia Vagueio


VAGUEIO

Vagueio pela noite
A procura
A sua procura
Busco nas estrelas
No cintilar das luzes
Dos piscas piscas natalinos
A boa nova
Navego na noite
No ar, no vento
Na net
Buscando o norte
O sentido,
A bússula.
Biscando você
Sigo buscando quem sabe
No bico do beija flor
Uma notícia
Uma pista
Um perfume
Um rastro seu
Pra te achar, tocar
Sentir, beijar, amar
E então, encontrar o dia.

Poesia Hoje


HOJE

Ando
Vou andando
Por aí
Atento
Olhando
Aqui e ali
Buscando
Respirando
Vivo
Meio vivo
Sem o toque
A pele
O cheiro
O aroma dos sentidos
Sem você.

poesia Amanheceu


AMANHECEU

Amanheceu
Uma noite lúgrube
Cinza
Triste.
A vida segue
A ir e vir
Paixões crescem
E morrem
Mergulhados no improvável
Imersos na ilusão
Consciências obscurecidas
Vivencio a pequenez
O vazio,
O nada,
A destruição,
A transformação
Que se faz, se refaz,
Ao se mergulhar
No inefável
No inexprimível,
Na entrega
Ao mistério
Que a lógica não alcança que a mente não capta
Aos loucos pertence
Aos poetas
Aos místicos
Aos que ousaram
Se entregar
E se perder.

Paulo

domingo, 11 de setembro de 2011

Textos e Silêncios

A Palavra de Deus é normalmente identificada com a Bíblia. Ledo engano! Deus escreveu dois livros: a vida nossa de cada dia e a Biblia. a biblia é história escrita, pensada, sofrida, no caminho da libertação da escravidão - de toda e qualquer escravidão e opressão - por um povo, uma coletividade até a revelação plena em Deus - homem Jesus. aponta o caminho, a luz e o projeto de plena humanização da vida, o projeto de Deus para nós e para a vida. Segue ainda no livro da natureza, dos profetas antigos e modernos (Ave D. Paulo Evaristo, D. Helder, D. Romero, D. Pedro Casaldaliga, D. Tomas Balduino, D. Luciano Mendes, D. Celso Queiroz, Santo Dias, Irmã Dorothi e tantos outros), na vida de tantos e tantas, dos pobres fiéis a sua justiça a revelar - graças a Deus - a Glória do Deus Todo Serviço e Todo Amor.
Ocorre, porém, que ele está também no encontro silencioso dos amantes, dos amores, das entregas, dos vazios, desapegos. também nos olhares dos esquecidos, exilados, explorados, sem fala, sem face. também na morte, encontro supremo e definitivo do amor - o inferno é nossa mesquinha pequenez!
Fugimos do silêncio, do seus que habitas em nós, preferimos a pequenez do barulho das exterioridades midiáticas e culturais condicionantes, da mente inquieta e nos desejos incessantes. o silêncio é o portal que nos dá a amplitude contemplativa para ir e olhar o além, o absoluto que se revela incessantemente, inapelavelmente, inefavelmente em todo canto, encontro e encanto.