APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

NATAL
Caros irmãos, queridas irmãs,
Celebremos hoje o Natal. Jesus nasceu.
A festa do Natal não é a maior festa cristã, que é aquela que se dá no período da quinta feira santa à Páscoa, culminando com a Ressurreição. Segue-lhe em importância o Pentecostes, quando recebemos e acolhemos o Santo Espírito que nos envia ao mundo em missão salvadora.
O Natal, porém, é o maior mistério. Deus se faz homem!
Não é pouca coisa não...
Devemos, entretanto, tomar cuidado, muito cuidado. A celebração, a boa celebração, a verdadeira celebração não se dá na ceia natalina ou mesmo na Igreja.
Vejamos:
Jesus nasce como um ser aí, largado, alojado humildemente, sem luxos, como pobre. Num tempo em que se considerava que Deus residia no Templo, controlado pelos sacerdotes e cujo seguimento era pautado por regras de pureza e controle (sempre pagos), Ele, o Deus da vida, vem até nós numa manjedoura. Deus é deslocado do Templo para a intimidade comunitária, para o encontro vivificante dos seres humanos. Nosso corpo é chamado a ser morada do Senhor, inclusive na própria Eucaristia.
Ele nasce de uma mulher que certamente era considerada impura para os costumes religiosos da época.  Caso tenha curiosidade, leia o Livro de Levítico, em especial os capítulos 12 e 15, para entender como as mulheres eram tratadas e vistas. A mulher menstruada já era impura, imagina uma mulher grávida, sem ser de seu marido. Um escândalo!
Muito falamos de Maria, e é justo, mas veja José, o pai do Cristo. Ele ficou numa situação um tanto delicada. Caso denunciasse a Maria, ela seria apedrejada e apedrejada até a morte, dela e de Jesus. Preferiu, entretanto, acolher a Boa Nova misteriosa ao mergulhar na experiência que lhe falava ao coração, a experiência de Amor, a Maria e a Deus, e, silenciosamente e discretamente, se colocou a serviço do Deus amoroso. Graças a ele Jesus veio e fez seu caminho de graça salvação que o levou à cruz e a morte e à ressurreição, e somos testemunhas vivas disso.
A grande novidade do cristianismo não é a de nos levar aos céus, símbolo de totalidade, mas de encarnar a Deus aqui, por Cristo, em Cristo, com Cristo. É Deus que nasce, que vem, quem desce, quem nos acolhe como homens integralmente. Um filosofo ateu, seu nome não me vem à memória, que o único conceito cabível para Deus seria excesso, superabundância. É isso! Superabundância! Superabundância não de bens, de consumo, de presentes, de alegrias passageiras, de vitórias pessoais. Superabundância de Paz, que vem com serviço ao outro, bondade, amor, alegria de uma humanidade a nossa e de todos os outros homens e mulheres, acolhida e assumida plenamente.
Deus se faz homem, a mensagem do Natal é esta.
Tudo o que afeta, judia, atordoa, machuca, mata o homem, qualquer homem – não importa a cor, a raça, às opções de vida, afeta a Deus e exige nossa intervenção.
O nascimento de Jesus nos exige a adesão a toda causa humana, a defesa da vida, aos Direitos Humanos, aos excluídos, aos marginalizados. Jesus não nos pede discursos, mas atitudes: acolher o pobre, a viúva, o estrangeiro.
O texto de Tito nos lembra que a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens.
 No texto de Isaias está manifestada a esperança de um Messias que venha poderoso e construa um mundo justo.
Deus, entretanto, nos vem numa singela manjedoura, na Galiléia, vindo de Nazaré, cidade desprezível. Deus se fez homem, se fez fraco, se fez gente de carne e osso. Deus se manifesta como Todo amoroso, Todo compaixão. São em gestos simples, despojados e amorosos que ele se revela, gestos estes que somos chamados também a fazer e viver. Em nossa fragilidade e pequenez estamos plenamente aptos a Lhe servir servindo a humanidade, celebrando a vida por onde andamos.
Inspiremo-nos em José, em sua discrição, em sua humildade. Que Deus apareça e não nossa pessoa, nosso nome, nosso cargo, nossa Igreja.
E assim permitir que a Glória de Deus se revele agora e sempre.
Amém! Assim seja!
Deus nos permita e guarde.