APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

como fermento

Como fermento - José Antonio Pagola

Sexta-feira, 15 de julho de 2011 - 11h19min
por Adital
Com uma audácia desconhecida, Jesus surpreendeu a todos proclamando que nenhum profeta de Israel tinha se atrevido a dizer: "Deus está aqui com a sua força criadora da justiça, abrindo caminho no mundo para tornar a vida de seus filhos mais humana e feliz”. É preciso mudar. Devemos aprender a viver, acreditando nessa Boa Notícia: o Reino de Deus está chegando!
Jesus falava com paixão. Muitos foram atraídos por suas palavras. Outros tinham muitas dúvidas. Tudo era uma loucura? Onde se podia ver o poder de Deus transformando o mundo? Que poderia mudar o poderoso império de Roma?
Um dia, Jesus contou uma parábola muito breve. Ela é tão pequena e humilde que, muitas vezes, pode passar despercebida para os cristãos. Ele diz: "Com o reino de Deus acontece como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três medidas de trigo, até ficar tudo levedado”.
Aquelas pessoas simples entendiam o que Jesus lhes falava. Todos já tinham visto suas mães fazerem pão em casa. Eles sabiam que a levedura fica "escondida”, mas não permanece inativa. Silenciosamente, vai fermentando devagar. Dessa mesma maneira Deus está agindo desde o interior da vida.
Deus não impõe de fora, mas transforma as pessoas de dentro para fora. Ele não domina com o seu poder, mas atrai para o bem com seu amor. Não força a liberdade de ninguém, mas se oferece para tornar nossas vidas mais felizes. Então, se quisermos entrar em seu reino, assim temos que atuar.
Está começando uma nova era para a Igreja. Os cristãos teremos que aprender a viver em minoria em uma sociedade secularizada e plural. Em muitos lugares, o futuro do cristianismo dependerá, em grande parte, do nascimento de pequenos grupos de crentes, atraídos pelo evangelho e reunidos em torno de Jesus.
Aos poucos, aprenderemos a viver a fé de maneira humilde, sem fazer muito barulho, nem dar grandes espetáculos. Já não cultivaremos tantos desejos de poder, nem de prestígio. Não gastaremos nossas forças em grandes operações midiáticas. Buscaremos o essencial. Caminharemos na verdade de Jesus.
Seguindo seus desejos, tentaremos viver como "fermento" de vida saudável na sociedade e como um "sal" que, humildemente, se dilui para dar sabor evangélico à vida moderna. Contagiaremos o nosso meio com o estilo de vida de Jesus e irradiaremos a força inspiradora e transformadora do seu Evangelho. Passaremos a vida fazendo o bem. Como Jesus.

AMIGO DOS EXCLUÍDOS

 Texto publicado no adital, do teólogo José Antonio Pagola, que escreveu o belíssimo livro - simples e profundo - adeuqado para pessoas iniciadas na fé e para o catecismo inicial - JESUS, UMA APROXIMAÇÃO HISTÓRICA. Aproveitem!

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1, 40-45, que corresponde ao 6º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
AMIGO DOS EXCLUÍDOS
Jesus era muito sensível ao sofrimento de quem encontrava no Seu caminho, marginalizados pela sociedade, desprezados pela religião ou rejeitados pelos setores que se consideravam superiores moral ou religiosamente.
É algo que Lhe sai de dentro. Sabe que Deus não discrimina ninguém. Não rejeita nem excomunga. Não é só dos bons. A todos acolhe e bendiz. Jesus tinha o hábito de levantar-se de madrugada para orar. Em certa ocasião revela como contempla o amanhecer: "Deus faz sair o Seu sol sobre bons e maus". Assim é Ele.
Por isso, por vezes, reclama com força que cessem todas as condenações: "Não julgueis e não sereis julgados". Outras, narra pequenas parábolas para pedir que ninguém se dedique a "separar o trigo e o joio" como se fosse o juiz supremo de todos.
Mas o mais admirável é a Sua atuação. O rasgo mais original e provocativo de Jesus foi o Seu hábito de comer com pecadores, prostitutas e gente indesejável. O fato é insólito. Nunca se tinha visto, em Israel, alguém com fama de "homem de Deus" comendo e bebendo animadamente com pecadores.
Os dirigentes religiosos mais respeitáveis não o puderam suportar. A sua reação foi agressiva: "Aí tendes a um comilão e bêbado, amigo de pecadores". Jesus não se defendeu. Era certo. No mais íntimo do Seu ser sentia um respeito grande e uma amizade comovedora para com os rejeitados da sociedade ou da religião.
Marcos recolhe no seu relato a cura de um leproso para destacar essa predileção de Jesus pelos excluídos. Jesus atravessa uma região solitária. De repente aproxima-se um leproso. Não vem acompanhado por ninguém. Vive na solidão. Leva na sua pele a marca da sua exclusão. As leis condenam-no a viver afastado de todos. É um ser impuro.
De joelhos, o leproso faz a Jesus uma súplica humilde. Sente-se sujo. Não lhe fala de doenças. Só quer ver-se limpo de todo estigma: «Se queres, podes limpar-me». Jesus comove-se ao ver a Seus pés aquele ser humano desfigurado pela doença e o abandono de todos. Aquele homem representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados. Jesus «estende a Sua mão» procurando o contato com a sua pele, «toca-lhe» e diz-lhe: «Quero. Ficar limpo».
Sempre que discriminamos a partir da nossa suposta superioridade moral a diferentes grupos humanos (vagabundos, prostitutas, toxicómanos, sidoticos, imigrantes, homossexuais...), ou os excluímos da convivência negando-lhes o nosso acolhimento, estamos a afastar-nos gravemente de Jesus.

MILAGRE

MILAGRE
Por ocasião do mês da bíblia de 2011 me senti obrigado a refletir sobre o ardiloso tema do milagre, já que o texto indicado para estudo – Êxodo de 15 a 18 – contêm inúmeros milagres.
Refleti longamente.
Eis o que arrisquei falar, lembrando que a vida é sempre um risco e devemos, sempre, ousar arriscar a serviço da vida:
1. O milagre é graça. Como graça é dada sem o nosso merecimento, de graça! Implica isso então que não pode ser comprado nem deve ser intermediado por falsos apóstolos e pastores que seriam portadores “misericordiosos” e pagos! A graça é por todos e todas derramado, restando o acolhimento e a abertura para ela Tal como uma frágil planta que deve ser posta ao Sol para viver, devemos estar abertos a ela, por uma vida que lhe acolha e alimente.
2. O milagre é fé. A fé que emerge de uma experiência objetiva e concreta com um Deus – Amor que se fez carne e serviço. Uma experiência contagiante, mas que não fica em palavras, considerações e rituais, mas numa entrega de todo o ser num processo de reviravolta e conversão (mudança drástica de caminhos, de atitudes e vivências). Jesus inúmeras vezes falou que “a sua fé te salvou!”, assim como disse que ali não pode fazer muitos milagres em função de falta de fé do povo. A fé, implicada em conversão, transforma vidas – a nossa e a de outros – gerando o inusitado, maravilhoso e milagroso, a experiência de partilhas, amor, vida.
3. O milagre é ver diferente! O agir de Deus se faz transformando os olhares e vivências, eventualmente cotidianas em manifestação da Sua presença. A chegada – sublime- de comida a um mendigo faminto, a acolhida a uma sofrida vitima de enchente ou o surgimento em terra de ninguém - a nossa periferia, largada e abandonada – de um hospital, resultado de luta, pressão e organização popular, é sim sinal da Presença atuante de Deus. Um deus que se fez carne – Jesus Cristo – e que se perpetua naqueles que O acolhem inspirados pelo Santo Espírito na Experiência de amor – serviço. Um Deus encarnado na luta pela vida, nas vivências amorosas e amplas de deus que está, sempre, a acolher, abraçar, amparar e proteger os excluídos – sofridos-esquecidos por nosso meio, no meio de nós. Vivenciamos isto nos olhares e experiências cotidianas e pessoais, mas também na luta contra todos os sistemas políticos, econômicos e religiosos que produzem esquecidos.