APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 18 de agosto de 2012

Manifesto de Apoio ao povo Xavante de Marãiwatsédé


Manifesto de Apoio ao povo Xavante de Marãiwatsédé

Terça-feira, 14 de agosto de 2012 - 21h01min
"Aguardamos ávidos a comunicação de que Marãiwatsèdè regressou aos seus verdadeiros donos: o povo A'uwe Uptabi ou Povo Xavante como são mais conhecidos", afirma Manifesto da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA) sobre  a devolução da Terra Indígena Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso aos povos Xavantes.
Eis o manifesto.
O conflito vivido pelo povo Xavante da Terra Indígena de Marãiwatsèdè tornou-se um caso emblemático de violação aos direitos humanos e da truculência praticada pelo Estado e pelos invasores contra os povos indígenas em Mato Grosso e no Brasil.

Essa violação se delonga desde a década de 60 quando o território dos Xavante fora ocupado pela Agropecuária Suiá-Missú (o maior latifúndio do mundo na época). Nesse período os indígenas foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e por lá permaneceram cerca de 40 anos, posteriormente, a fazenda foi vendida para a petrolífera italiana Agip. Durante a Rio 92 a empresa italiana foi pressionada a devolver aos Xavante seu território de origem. 

De acordo com a Funai em 1992 (quando começaram os estudos para a demarcação da Terra Indígena Marãiwatsèdè a área passou a ser ocupada por invasores). Mesmo sem o amparo do Estado os guerreiros Xavante retornaram ao seu território e vivem atualmente espremidos em apenas 10% da área homologada em 1998 (com 165.241 hectares) de posse permanente e usufruto exclusivo desse povo. Os 90% restante do território, atualmente, está tomado ilegalmente por fazendeiros e invasores, majoritariamente, criadores de gado e produtores de soja que exaurem o ambiente, acuam e ameaçam os indígenas.

Vivendo as margens do seu território e das políticas públicas os indígenas aguardam fazer valer seus direitos. Sucessivos recursos jurídicos foram tomados para que Marãiwatsèdè volte a ser ocupada pelos primeiros habitantes: o povo Xavante. Recentemente, esse direito foi definitivamente reconhecido pela Justiça Federal de Mato Grosso que homologou o plano de desocupação de não índios da região.

Resumidamente, a referida decisão judicial do processo nº 2007.36.00.012519-0, determina que:

- A FUNAI em um prazo de 48 (quarenta e oito) horas (a partir do dia 31/07) forneça a lista dos ocupantes, não-índios, identificados em Marãiwatsèdè, bem como, informe a data de início do processo de desintrusão, cujo prazo não poderá ser inferior a quinze dias à comunicação a ser feita a este juízo;

- Conhecida a data de início da desocupação, oficie-se de imediato, com prazo não inferior a 10 (dez) dias, à Polícia Federal e à Força Nacional de Segurança, para que prestem auxílio total e irrestrito durante todo o processo de execução da desintrusão;

- Mandados de desocupação da área indígena, com prazo de trinta dias, mantendo-se na área de domínio da UNIÃO somente os índios, conforme já decidido por este juízo.

Na luta por justiça ambiental, a Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA) e o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT) vêm a público manifestar seu irrestrito apoio ao povo Xavante de Marãiwatsèdè, solicitar que os prazos sejam rigorosamente cumpridos, e, sobretudo, que a segurança e a dignidade dos indígenas sejam garantidas durante o processo de desintrusão. Aguardamos ávidos a comunicação de que Marãiwatsèdè, regressou aos seus verdadeiros donos: o povo A'uwe Uptabi ou Povo Xavante como são mais conhecidos.


Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA) Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT-MT)
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

Lugo foi destituído porque buscava a justiça social


CEBI

Lugo foi destituído porque buscava a justiça social

Terça-feira, 14 de agosto de 2012 - 21h05min
O bispo paraguaio Mario Melanio Medina, uma das figuras mais influentes da Igreja católica, disse ontem que a destituição do presidente constitucional, Fernando Lugo, aconteceu porque ele buscava a equidade social no país.
Medina, bispo dos departamentos de Misiones e Ñeembucú, durante sua homilia dominical, afirmou que o ocorrido foi um golpe parlamentar e que tiraram o mandatário de seu cargo por desejar lutar em favor dos pobres. 

Ele acrescentou que os autores do golpe puseram em seu lugar Federico Franco, que não fará nada "porque estará atado com o capitalismo, a estrutura parlamentar e com os que têm o poder econômico".

Destacou que o capitalismo coloca rótulo sobre aqueles que protestam e buscam a igualdade social e os acusam de comunistas, socialistas ou esquerdistas.

Durante a celebração, fez menção ao isolamento internacional do atual governo e expressou que, devido à conjuntura atual, dias difíceis virão, sendo necessário estar preparados. Este governo não é reconhecido pelos países do Mercosul e por muitos outros, em nível mundial, e como agora vivemos na globalização, é importante a cooperação das nações estrangeiras, disse Medina.

Em outra parte de sua manifestação, investiu contra o Congresso, autor do julgamento político de Lugo, e advertiu que o governo de Franco seguirá de tropeço em tropeço porque o Parlamento não responde ao Executivo e atua em favor de seus próprios interesses.

O Paraguai e a América Latina estão entre dois modelos: o que busca a igualdade social e o capitalismo, que somente quer aglutinar fortuna, sendo que a situação dos pobres não o interessa em absolutamente nada, expressou finalmente.
A reportagem é publicada pelo sítio Religión Digital. A tradução é do Cepat.

Politica de alianças


Política de alianças: entre a necessidade e os limites

Terça-feira, 14 de agosto de 2012 - 21h08min
A campanha eleitoral deste ano está nas ruas. Perplexa, a opinião pública assistiu às alianças partidárias feitas para as próximas eleições municipais. A revista IHU On-Line desta semana discute a necessidade e os limites, também necessários, das alianças políticas. Contribuem no debate Luiz Werneck Vianna, Roberto Romano, Renato Janine Ribeiro, Maria Victoria de Mesquita Benevides, Marco Aurélio Nogueira, José Antonio Spinelli e Jairo Nicolau.

Dá para pensar a política eticamente sim ou não?
Para Renato Janine Ribeiro, a questão de os partidos não terem exatamente uma identidade indica o fato de que uma boa parte do eleitorado também não tem
Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin
Antes de analisar a conjuntura política atual, é fundamental que se entenda um pouco das bases teóricas e fundantes de nosso sistema político, partidário e eleitoral. E esta é a contribuição que o filósofo Renato Janine Ribeiro oferece na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line. Em sua percepção, temos um sistema no Brasil "em que dois partidos estão firmes, correspondem a anseios, desejos, projetos. Esses dois partidos são os líderes da política brasileira, um de cada lado: o PT e o PSDB. Há 18 anos esses dois partidos se alternam no governo federal. São partidos que expressam algo". Ao argumentar sobre a complexidade do conceito de política, Janine Ribeiro aponta que "uma característica atual muito forte da maneira de pensar a política é vê-la de forma indecente. Há um descontentamento ético hoje com a política democrática e talvez esta seja a principal decepção popular com a política, o que nos impõe um grande desafio em nossos dias: dá para pensar a política eticamente sim ou não?". O professor também reflete sobre os rumos de PT e PSDB e sobre a subordinação da política à economia: "vejamos o governo Lula: foi um governo de distribuição de renda, mas não de redistribuição de renda. Não foi um governo que tirou dos ricos para dar aos mais pobres, o que seria inteiramente lícito. Foi um governo que conseguiu, com o aumento do PIB brasileiro, dar uma parte maior do que foi aumentado para os mais pobres. Mas não houve um enfrentamento do capital. Nesse sentido, podemos dizer que até 2002 havia mais partidos e políticos no Brasil enfrentando o capital do que temos hoje".
Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne, Renato Janine Ribeiro tem se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a ideia de revolução, a democracia, a república e a cultura política brasileira. Entre suas obras destacam-se A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2000) e A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes (Rio de Janeiro: Campus, 2003). Renato Janine Ribeiro é desde 2004 diretor de avaliação da Fundação Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior, órgão do Ministério da Educação).

As alianças políticas, absolutamente necessárias, e seus limites
Werneck Vianna defende que as alianças feitas no presidencialismo de coalizão não servem para que uma determinada orientação seja posta em prática, ou um determinado programa se viabilize, mas apenas para garantir maioria parlamentar para o governante
Por: Graziela Wolfart
Na visão do sociólogo Werneck Vianna, a ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. "Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade. Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe". Na entrevista que concedeu por telefone para a IHU On-Line Werneck afirma que o sistema partidário brasileiro "não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira". E constata: "estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados".
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012) (mais informações emhttp://bit.ly/IVmpmg).

"Somos absolutistas anacrônicos. Vivemos sempre sob o regime do favor, dos privilégios, da não república"
Para Roberto Romano, alianças importam, em qualquer hipótese, na luta pelo poder. Mas se elas impedem as mudanças propostas no programa partidário, "temos o realismo de fancaria que sequer merece o epíteto de maquiavelismo"
Por: Graziela Wolfart
Segundo a reflexão do professor da Unicamp, Roberto Romano, "nossos partidos políticos seguem o interesse maior dos líderes nacionais e regionais. Eles julgam não ter explicações a dar para a militância de base. Numa reforma política verdadeira, algumas determinações seriam estratégicas, como a proibição de líderes ficarem nas direções por mais de quatro anos, a exigência de consulta primária aos eleitores dos partidos quando das eleições (escolha dos candidatos, alianças, etc.). E nada falamos, por enquanto, das máquinas eleitoreiras, os partidos ditos ‘nanicos'. Eles são propriedade privada de um ou dois políticos e se vendem (na verdade, vendem seu minuto de propaganda gratuita) em troca de cargos, favores, etc.". Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Roberto Romano acrescenta que a "dita burguesia progressista sempre decepcionou as esperanças dos seus aliados: ela sempre optou pelo lucro, pelos golpes de Estado, pela ruptura com a tênue democracia. A lição de 1964 cabe no quadro. No interior do partido ‘revolucionário', pobre de quem se levantasse contra a política ‘realista' de alianças!". Para ele, as "alianças ‘pela governabilidade' assumidas pelo PT (Sarney, Lobão, ACM e agora Maluf) adiaram, sem prazo de recomeço, a luta do petismo pela justiça no Estado e na vida social". E sobre a foto de Lula com Maluf, um símbolo recente da política de alianças em nosso país, Roberto Romano dispara: "Temos nos dois elementos o retrato impiedoso da prática realista". E conclui: "o resultado está na foto: venceram os contrários ao ‘principismo', ou seja, os alérgicos aos valores éticos, programáticos, socialistas, etc.".
 
Roberto Romano cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS, na França, e é professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979),Conservadorismo romântico (2ª ed. São Paulo: Ed. Unesp, 1997) e Moral e ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: Senac Ed., 2002).
Eis a página em que está a entrevista..

E encheu de bens os famintos


CEBI

E encheu de bens os famintos... (Lucas 1, 39-56)

Segunda-feira, 13 de agosto de 2012 - 11h03min
por Ildo Bohn Gass - Formação CEBI
Para muitas igrejas, a Palavra evangélica proposta para a liturgia do próximo final de semana é a visita de Maria a Isabel (Lucas 1,39-56), que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas (Lucas 1-2). Essas narrativas, mais do que dizerem como os fatos aconteceram, indicam para realidades mais profundas que iluminem a caminhada das comunidades a quem se destinam. Em resumo, o primeiro capítulo do Evangelho da Infância mostra como é reconhecida a ação de Deus em meio ao povo excluído, mas cheio de esperança, representado por Zacarias, Isabel e Maria. Dois eram idosos, uma era estéril e a outra ainda não havia tido relações sexuais com homem. Portanto, eram pessoas de quem não se esperava que pudesse nascer vida nova, que pudessem dar à luz uma criança.
A narrativa proposta pode ser dividida em três momentos. O primeiro descreve a ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias, próxima de Jerusalém (Lucas 1,39-41), uma caminhada de mais de 100 km. De um lado, essa saída de casa faz-nos lembrar de tantas jovens que também precisam deixar seus povoados quando engravidam, a fim de encontrar apoio em familiares que moram distante. De outro lado, quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lucas 1,38). Agora, ela já está a caminho para servir, para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Mas não é somente o encontro de duas mulheres. É também o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. É o encontro do Precursor com o Salvador. João alegra-se com a visita de Jesus (Lucas 1,41). Ainda no ventre materno, já aponta para seu primo como aquele que vem socorrer o seu povo num momento de forte repressão do império romano.
A segunda parte desta narrativa é a saudação que Isabel faz a Maria (Lucas 1,42-45). Impulsionada pelo Espírito, a mãe de João Batista reconhece Maria como a mãe do Messias. Ao mesmo tempo em que elogia a sua fé (Lucas 1,45), a declara abençoada, bem-aventurada, assim como o fruto do seu ventre (Lucas 1,42). Essa saudação faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de benditas. São os casos de Jael (Juízes 5,24) e de Judite (Judite 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Em Lucas 1,56, podemos ler que Maria ficou três meses com Isabel. Mais uma vez, os autores do texto fazem memória das Escrituras de Israel e querem nos apresentar Maria como a nova Arca da Aliança, pois em seu útero carrega o Emanuel, o Deus que está em nosso meio. É que, da mesma forma como Maria ficou os três meses com Isabel, também a antiga Arca da Aliança havia ficado durante três meses na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,2-11; cf. v. 11). Em outras palavras: os representantes da antiga Aliança, Zacarias (Javé se lembrou) e Isabel (Deus é plenitude), reconhecem a ação de Deus em Maria (a amada) e Jesus (Javé salva), representantes da nova Aliança. João (Javé é misericórdia) anuncia que a misericórdia de Deus na antiga Aliança vem se realizar plenamente em Jesus de Nazaré. Por isso, seus pulos de alegria no ventre de Isabel (Lucas 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer.
A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel, é o cântico de Maria conhecido como Magnificat (Lucas 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1 Samuel 2,1-10). Entre outros textos, recorda também a profecia de Sofonias em favor dos pobres de Javé, o resto fiel a Deus (cf. Sofonias 2,3; 3,11-13).
Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança. Da mesma forma como o profeta Habacuc (Hab 3,18), ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza (Lucas 1,46-47). E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo (Êxodo 3,7-8), Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando a seu lado para libertá-los (Lucas 1,49-50; Salmo 103,17).
Qual é a força capaz de promover essa libertação? É a força do braço de Deus, isto é, a força de sua justiça, que consiste e um projeto revolucionário que subverte relações desiguais. Se antes os poderosos humilhavam os pobres a partir de seus tronos, agora os famintos são exaltados e comem pão com fartura (Lucas 1,51-53). Mais que ser uma mulher submissa e alienada dos conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher de luta pela igualdade e pela superação de todas as injustiças. Ela é subversiva porque subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a igualdade. Não é por acaso que seu filho seguiu os passos dela nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu (Lucas 1,54-55; Miqueias 7,20).
O Magnificat celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. E mais. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus a nos juntarmos a Maria para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra (cf. Lucas 1,38). A ação divina em Maria foi possível por que ela acreditou (Lucas 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Mais adiante, quando uma mulher também declarara Maria feliz, Jesus dirá a ela que "felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática"(cf. Lucas 11,27-28). E essa bem-aventurança soa forte para nós ainda hoje.

Sete anos sem Roger, da comunidade de Taizé


Sete anos sem o irmão Roger, da Comunidade de Taizé

Sexta-feira, 17 de agosto de 2012 - 11h18min
"O irmão Roger foi um visionário, um grandíssimo homem de Deus que não se importava com adjetivos, mas com a pessoa", destaca Jesús Bastante, que teve a oportunidade de conhecê-lo. 

Eis o artigo.
Hoje, completa sete anos que o irmão Roger Schultz (foto), fundador da Comunidade de Taizé, morria apunhalado por uma jovem romena na Igreja da Reconciliação, da pequena localidade francesa, berço do ecumenismo após a Segunda Guerra Mundial, e que hoje une milhares de jovens (e não jovens), de todo o mundo, em torno da mesma fé.
O irmão Roger foi um visionário, um grandíssimo homem de Deus que não se importava com adjetivos, mas com a pessoa. Tive a oportunidade de brevemente entrevistá-lo pouco antes da morte de João Paulo II, e ficou a impressão de que me encontrava diante de um desses profetas de nosso tempo, capaz de romper barreiras e ficar com o essencial. Um religioso protestante que foi capaz de comungar das mãos de Bento XVI ou confessar ao patriarca ortodoxo Atenágoras. Um cristão sem mais argumentos a não ser os do próprio Cristo. Um exemplo a ser seguido por todos, muito preocupados em ocasiões pela pureza no cumprimento das normas, e não tanto pela clareza do coração.

No dia 20 de agosto de 1940, depois da derrota do exército francês e da ocupação de parte da França, pelo exército alemão, Roger Schultz se estabeleceu em Taizé (Borgonha). Nesse local, viveu até sua morte, com uma interrupção de dois anos, em que durante a Segunda Guerra Mundial se refugiou na Suíça, já que tinha que temer a perseguição da Gestapo por ter escondido, em seu domicílio, judeus e opositores da ocupação alemã na França. Depois da libertação da Borgonha, em 1944, voltou para Taizé, junto com três companheiros, se ocupando com os órfãos de guerra, como também de prisioneiros de guerra, o que trouxe a apreensão dos vizinhos. 

Em 1949, sete homens deste círculo, entre eles Roger Schultz, como prior, comprometeram-se a viver o celibato e a pobreza. Hoje em dia, esta comunidade é integrada por mais de cem irmãos ortodoxos, protestantes e católicos, provenientes de vinte e cinco países, vivendo apenas de seu trabalho (olaria, edição de livros religiosos). Não aceitam doações. 

Sempre é um bom momento para retornar a Taizé e orar junto com a Igreja da Reconciliação, onde paradoxalmente o irmão Roger foi assassinado. Seu sangue, como sua vida, não foram em vão, e nos compromete, como se comprometeu o próprio Cristo, a deixarmos a vida pela unidade, pelos demais, por aqueles que têm o rosto de Deus por trás de si.
O artigo é publicado pelo sítio Religión Digital.

Cartas da vida


Cartas da vida, cartas que nos desafiam a viver junto, sem julgamentos e verdades dogmáticas, sem escutas e encontros que produzam vida e harmonia. Desafios para um cristão que queira seguir os passos do Mestre.

CEBI

Cartas da Vida - cavar túneis e construir sentido

Sexta-feira, 17 de agosto de 2012 - 14h25min
Aprender a ler e escrever as ruas de Salvador, Bahia: este é o desafio de Fernanda Priscila Alves da Silva. Uma escrita real com as cores do dia a dia de mulheres em situação de prostituição. A realidade destas mulheres tal como de muitas empobrecidas é desafiante e difícil, mas também marcada pela ousadia e garra, tão presentes na vida das pessoas empobrecidas do mundo.
Vamos dar uma volta pelo Pelourinho. Vamos observar os corpos que passam por nós: mulheres, crianças e homens à margem. Andando pela Ladeira da Montanha, Conceição, Calçada, Comércio, encontramo-nos com mulheres inseridas em contexto de prostituição. E é neste lugar que nossa missão acontece.
A metodologia da escuta e da escrita do lugar e suas gentes vai traçando a geografia no Centro Histórico Pelourinho e adjacências, área comercial e ao mesmo tempo turística e residencial e vai apresentando personagens da população de baixa renda, assim como muitas mulheres exercendo a prostituição em casarões e hotéis insalubres, sem nenhuma infraestrutura. Ao mesmo tempo que conhece, identifica e analisa Fernanda nos desafia com o silêncio: silenciar para escutar verdadeiramente o que a outra/o outra quer dizer, mesmo que não diga. O silêncio se compromete com a atenção: olhar com carinho! nunca com julgamentos!
Sábado à tarde: Fernanda anota porque vive.  Encontro de mulheres e homens... Gente buscando vida... Gente gestando sonhos. Gente de movimento e em movimento. Era sábado e naquele salão de reunia o movimento de população de rua... Mas o movimento não estava só, havia outros grupos, outros corpos em movimento dançando a dança da luta, dança do compromisso, dança da utopia, os catadores e catadoras de papel também se faziam presentes e a força feminina trazia seu encanto e gingado. Sábado de conflitos: anota aí os relatos de violência policial, de disputa entre os homens e mulheres pobres, entre fracos e fortes!
Fernanda anota o difícil processo de construção de objetivos comuns de defesa da população de ruas, em especial mulheres em situação de prostituição. O direito e a justiça tecidos de ambivalência e ambiguidade:
O mundo da prostituição traz ambiguidades que nos fazem repensar a vida, repensar paradigmas, modelos, formas, jeitos de fazer e construir o cotidiano. Nestas ambiguidades, encontramos mulheres luas, mulheres gente em gestação, mulheres como outras mulheres ou ainda outras mulheres como estas mulheres. Homens mulheres e mulheres homens, tudo misturado, ambíguo, mas ao mesmo tempo tudo inteiro, com sua própria forma, seu próprio jeito.
A partir da metodologia do trabalho de campo, na escrita das cartas, a autora estabelece um diálogo com as mulheres e com os modos de vida na rua. O texto exercita ao extremo a escuta das margens - bares, boates, praças e hotéis - sendo ao mesmo tempo uma afirmação do trabalho pastoral e seus desafios e um exemplo concreto do método da teologia que nasce do meio do povo.
Fernanda supera toda e qualquer idealização do sujeito popular e nos coloca diante da inquieta cara do povo da rua, da mulher de rua. A rua tem sexo e a teologia aprende através da carta de Fernanda a pronunciar "sexo" entre as palavras benditas e malditas de seu vocabulário.
É no café da manhã, no lugar da degustação, que mulheres tomam a palavra. Nesse sentido, vale dizer que é no cotidiano que a transformação acontece. É neste lugar, pois ele está marcado por alegria, cansaços, tristezas, conquistas, prazer, fé. Dentro de uma perspectiva feminista e libertadora, este lugar tem seu matiz, pois é aí mesmo que se pode resgatar a importância concreta dos corpos e de suas relações.
Este resgate da vida, do corpo, da rua, da materialidade das relações... é como cavar túneis, ensina uma mulher: ? "Vocês estão me ajudando a cavar o túnel, é difícil, mas eu vou cavar até chegar à mina, hoje eu me considero cidadã e eu vou chegar lá".
Para Fernanda, "cavar túneis" é experimentar a Páscoa da Libertação, é afirmar "creio na ressurreição do corpo" sem esquecer da noite longa da Paixão.
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Cartas da Vida
Fernanda Priscila Alves da Silva
A partir da convivência nas ruas de Salvador o livro compartilha - no formato de cartas - a vida e o cotidiano de mulheres em situação de prostituição. A partir da metodologia do trabalho de campo, na escrita das cartas, a autora estabelece um diálogo com as mulheres e com os modos de vida na rua. O texto exercita ao extremo a escuta das margens - bares, boates, praças e hotéis - sendo ao mesmo tempo uma afirmação do trabalho pastoral e seus desafios e um exemplo concreto do método da teologia que nasce do meio do povo.
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Conic fortalece a bandeira das mulheres


CEBI

Secretária Geral do CONIC fortalece a bandeira das mulheres

Sexta-feira, 17 de agosto de 2012 - 11h09min
Ao completar 30 anos de fundação, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) passou a ter a primeira mulher à frente da secretaria geral. A pastora luterana Romi Márcia Bencke assumiu suas funções no início de agosto, em Brasília.

Ela assume o organismo ecumênico nacional quando busca reformular sua identidade num contexto religioso e ecumênico muito diferente daquele quando foi criado, em 1982. Mas procura, ao mesmo tempo, manter-se fiel ao chamado ecumênico original. Além disso, o crescimento das igrejas neopentecostais, o aumento dos que se declaram sem religião e a atual limitação de recursos financeiros do CONIC, forma um cenário desafiador para a nova secretária geral.

Natural de Horizontina, Rio Grande do Sul, Bencke cursou teologia na Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, de 1992 a 1997. Durante esse período, realizou um ano de intercâmbio no Seminário Ecumênico de Matanzas, Cuba, onde escreveu dissertação sobre o diálogo inter-religioso com a Santería, uma expressão religiosa afrocubana.

Depois de atuar por um ano numa comunidade de migrantes, em Alta Floresta do Oeste, Rondônia, foi ordenada ministra da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e, entre 1999 a 2006, atuou como pastora em São Sepé, no Rio Grande do Sul, onde, paralelamente colaborou com Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria (CECA), ao assumir o Programa Fé e Cidadania.

Além de Teologia, Bencke tem especialização em Projetos Sociais e Culturais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, atualmente, cursa o mestrado em Ciência da Religião na Universidade Federal de Juiz de Fora, sobre o tema "Ecumenismo, valores sociais e modernidade: a percepção dos agentes eclesiais". Temas como relações de gênero, religião e modernidade estão presentes na teologia e no trabalho de Bencke, cujo mandato à frente da secretaria geral vai até 2015.

A entrevista é de Marcelo Schneider, doutor em Teologia e correspondente de comunicação do Conselho Mundial de Igrejas, publicada na Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC, 15-08-2012.

Eis a entrevista.
Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa sobre o cenário religioso no Brasil. Um dos dados mais expressivos foi o aumento do número de pessoas que se declaram "sem religião". Como é assumir um conselho de igrejas considerando esta realidade?
O aumento do número dos que se declaram "sem religião" é um dado importante para analisar a realidade brasileira. Nosso contexto social ainda é pouco secularizado, pois, mesmo com o aumento desse grupo, ainda somos um país majoritariamente religioso. O censo do IBGE chama a atenção para dois fatores. O primeiro indicador interessante é este, o do aumento dos "sem religião". Esse dado poderia indicar que o Brasil pode estar passando por um processo de secularização. Nesse processo, as pessoas podem assumir, expressar e pautar suas vidas a partir de valores sociais, que não necessariamente possuem uma fundamentação ou inspiração religiosa.

Esse é o primeiro indicador. O outro aspecto que o censo do IBGE aponta é que um número significativo de pessoas se declaram religiosas, mas não assumem uma pertença religiosa institucional, indicando que pode estar em curso no Brasil um processo de desinstitucionalização religiosa. Essas pessoas procuram uma religião, por alguma razão muito específica, e tendem a migrar de uma expressão religiosa a outra conforme as suas necessidades e ofertas do mercado religioso. Essa é uma característica da realidade brasileira. Assumir o CONIC nessa conjuntura é um grande desafio, pois o dado do IBGE nos desafia, nos faz perguntar acerca de como queremos ser igrejas cristãs no contexto brasileiro.
Qual a sua análise da natureza e papel do movimento ecumênico num país que respira tantas expressões religiosas diferentes? Qual o papel do diálogo e inter-religioso?
Sou uma entusiasta do diálogo inter-religioso. Acho que o Brasil vive uma conjuntura grande de desigualdade social e violência, e a religião pode desempenhar um papel positivo nos esforços de superação dessas realidades injustas. Neste sentido, o movimento ecumênico, do qual o CONIC é um dos porta-vozes, é um espaço de articulação importante de temas e ações em torno de questões que são comuns a todas as religiões, como a defesa dos direitos humanos e o cuidado com a natureza. Se ainda encontramos, em algumas igrejas, muita resistência em relação a celebrações inter-religiosas, creio que não há motivos para deixarmos de nos empenhar em torno de causas humanitárias e ecológicas, por exemplo.

Outro aspecto importante é que um conselho de igrejas como o CONIC serve de contraponto diante de expressões religiosas mais exclusivistas ou fundamentalistas. Acho que temos um papel importante a desempenhar nesse debate.

As redes sociais têm transformado não só a forma como as pessoas partilham informações, mas também a comunicação institucional. Você espera o CONIC presente nesses espaços?
Acabamos de lançar uma nova página e criamos perfis em redes sociais, como Twitter e Facebook, com o intuito de dar maior visibilidade para o trabalho do CONIC e mobilizar mais pessoas para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Esperamos que essas mídias possam fortalecer nossas redes e mobilizar mais grupos em torno da Semana de Oração.

Atualmente, cinco igrejas compõem o CONIC: A Igreja Presbiteriana Unida, A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, A Igreja Siriana Ortodoxa de Antioquia e a Igreja Católica Apostólica Romana, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Você planeja trazer mais igrejas para o CONIC?
Talvez sim, mas isso depende de um processo interno de discussão com as igrejas que compõem o CONIC. Elas devem decidir. A diretoria e o conselho curador (presidentes das igrejas) deveriam estabelecer critérios. Vamos tornar o CONIC mais aberto? Vamos visitar as lideranças de novas igrejas? As respostas a essas perguntas, num contexto como o brasileiro, onde a cada dia surge uma nova igreja, é extremamente importante e tem que vir das lideranças das igrejas que compõem o Conselho. Creio que se a questão for colocada diretamente, sem um debate anterior, haveria certa resistência quase natural a expressões (neo)pentecostais. Por isso, talvez tenhamos que discutir primeiro o cenário religioso brasileiro e, a partir dessa análise, definir critérios e processos para o convite e acolhimento de outras igrejas. Quando olhamos para a história do CONIC, vemos que já tivemos mais igrejas-membro.

Existe outro espaço ecumênico de articulação, diálogo e ação no Brasil chamado Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), no qual o CONIC participou com maior ou menos intensidade nos últimos anos. Como você pretende se relacionar com o FE ACT Brasil?
Pessoalmente, acho que o CONIC tem que somar forças neste espaço. A nossa diretoria quer ver o CONIC mais ativo nesta articulação, porque historicamente sempre contribuímos no FE ACT Brasil. Nada mais justo que retomarmos a participação ativa nesse espaço. Agenda do ecumenismo brasileiro está passando muito pelo FE ACT Brasil, com esta união em torno da defesa dos direitos fundamentais das pessoas e da natureza.

Qual o papel da juventude?
Acompanho um pouco o trabalho da Rede Ecumênica da Juventude (REJU) pelo Facebook. Acho ótima a articulação que esta rede promove, articulando os jovens do Brasil inteiro. Percebo que há uma abertura inter-religiosa importante e entendo que é uma iniciativa que deve ser apoiada e motivada.

A maioria dos jovens que participam da REJU não vêm dos grupos de juventude das igrejas-membro do CONIC, mas de projetos apoiados por agências e organismos ecumênicos ou ligados a igrejas, como a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), KOINONIA e a Fundação Luterana de Diaconia, por exemplo. Qual a sua análise dessa realidade?
Vivemos um momento de desinstitucionalização das religiões. As pessoas se assumem como religiosos, mas isto não significa que elas têm um vínculo institucional. Essa é uma mudança interessante no cenário religioso brasileiro. Esse é mais um indicador da importância do movimento ecumênico, que, pode ser tanto um espaço de diálogo entre as igrejas, como um ambiente que congrega pessoas que querem praticar sua fé e estar inseridos em algo, mas que não querem o vínculo institucional. O movimento ecumênico acaba sendo o vínculo indireto que as pessoas têm com as igrejas. Nesse sentido, a REJU é um desafio positivo às juventudes das igrejas.

Você é a primeira mulher a ser secretária geral do CONIC. Qual a sua leitura desse marco?
Uma das principais reivindicações de nós, mulheres ativas no movimento ecumênico, tem sido que as mulheres também passem a ocupar espaços de direção em organismos e espaços ecumênicos e espaços ligados a igrejas. Por isso, o fato de eu assumir este cargo pode sinalizar uma pequena, mas significativa mudança nos espaços de direção das igrejas e dos organismos ecumênicos. Ter sido acolhida no momento em que a presidência do CONIC é exercida por um bispo católico também demonstra uma abertura interessante. Tenho recebido muito apoio de diversas pessoas da Igreja Católica, que demonstram felicidade com o fato de eu assumir esta tarefa.

Outra questão significativa de assumir este cargo neste momento é que a pesquisa do IBGE, da qual falamos acima, também mostrou que a maioria das mulheres no Brasil se assume como religiosas.

O fato de uma mulher ser a secretária geral do CONIC reflete a necessidade de ampliar, cada vez mais, o compromisso do movimento ecumênico com as lutas das mulheres. Também acredito que temos uma grande responsabilidade de refletir sobre a realidade das mulheres no contexto brasileiro, em que a maioria de nós se declara religiosa e que, ao mesmo tempo, vive situações de violência e agressão bastante significativas. Por isso, poder refletir sobre qual o papel das mulheres cristãs e de outras religiões na defesa de todas as mulheres é um desafio grande. Eu me sinto responsabilizada em fortalecer as bandeiras das mulheres.

O Conselho Mundial de Igrejas vai celebrar em 2013 sua 10ª Assembleia, em Busan, República da Coreia, sob o tema "Deus da vida, guia-nos à justiça e à paz". Como essas três categorias (vida, justiça e paz) se refletem na sua teologia?
Ao ler o tema da próxima Assembléia do CMI, imediatamente vem à cabeça temas relacionados à transformação das relações econômicas, sociais, ambientais e de gênero. Não há o que justifique que em um país como o Brasil, que tem indústrias significativamente fortes e riquezas naturais, ainda exista um contingente grande de pessoas que vivem em absoluta pobreza. A concentração da riqueza é uma das causas da injustiça em nosso país: 10% da população mais rica detêm 75,4% de toda riqueza do país. Isso é absurdo.

O segundo tema que vem à cabeça são as restrições culturais, políticas, econômicas que impedem que as mulheres tenham acesso à justiça de maneira ampla. Ainda temos muito que avançar para que as plataformas internacionais relacionadas aos direitos das mulheres sejam concretizadas no Brasil. Ao considerar que 93% das mulheres brasileiras se assumem como religiosas, o compromisso das igrejas se torna essencial para que as reivindicações das mulheres sejam visibilizadas e concretizadas.
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - A

domingo, 12 de agosto de 2012

Escolhido tema para a Semana da Oração em 2013


CEBI

Escolhido tema para a Semana de Oração em 2013

Terça-feira, 7 de agosto de 2012 - 10h45min
"O que Deus exige de nós?". Este será o tema da SOUC - Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos, edição 2013. Inspirado em Mq 6:6-8, o material foi preparado pelo Movimento de Estudantes Cristãos da Índia, com a consultoria da Federação de Universidade Católica de toda a Índia e do Conselho Nacional de Igrejas na Índia. O CONIC, por sua vez, já se encarregou de produzir todo o material que será utilizado por igrejas e movimentos ecumênicos pelo Brasil.
SOUC 2012
Na celebração deste ano, foram adquiridos, pelos grupos ecumênicos do Brasil e igrejas cristãs, cerca de 13 mil livretos da Semana de Oração. Para 2013, o objetivo é que mais pessoas possam celebrar esta data.
Leia a referência bíblica na íntegra:
"Como hei de aparecer diante do Senhor, inclinar-me diante do Deus Altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos? Com bezerros de um ano? Desejará o Senhor milhares de carneiros, quantidades de torrentes de óleo? Sacrificarei meu primogênito pela rebeldia, o filho de minha carne pelo pecado que cometi? Foi-te dado a conhecer, ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti: nada mais que respeitar o direito, amar a fidelidade e aplicar-te a caminhar com teu Deus."
CONIC - www.conic.org.br
CEBI - Centro de Estudos Bíblicos
www.cebi.org.br