APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

militantes incinerados - para os saudosos do inferno!


Novo post em Hannah Arendt - Brasil

E ainda há quem tenha saudades da ditadura!!!!!!!!

Mais sobre: “Militantes incinerados em usina de açúcar”

by Grupo Hannah Arendt - Brasil
por Rodrigo Vianna | Blog Escrivinhador 
O Brasil inteiro ficou chocado quando a polícia revelou que os bandidos responsáveis pela morte do jornalista Tim Lopes usavam um “micro-ondas” feito de pneus, para queimar os restos mortais de suas vítimas.
Outro caso terrível: o corpo de Eliza Samudio, namorada do ex-goleiro Bruno, teria sido lançado aos cães e devorado.
Assim agem os bandidos. Sem o corpo, fica mais difícil gerar acusação e condenação por homicídio.
Mas e o que dirão os brasileiros ao saber que a prática era adotada por “agentes da lei”? Agora, não se trata de denúncia de famílias ou de órgaos de defesa dos Direitos Humanos. Não. Trata-se de uma confissão, de um agente qualificado, que tomou parte diretamente nos desaparecimentos.
Em “Memórias de uma Guerra Suja”, livro que acaba de ser editado, o ex-delegado Cláudio Guerra conta que, nos anos 70, os corpos de vários militantes de esquerda foram incinerados numa usina de açúcar no norte do Estado do Rio. As informações foram publicadas pelo jornalista Tales Faria, no IG. Ele teve acesso aos originais do livro, que será lançado na sexta-feira.
O curioso: o nome de Guerra nunca havia aparecido nas listas de torturadores mais conhecidos. Conversei há pouco com um pesquisador (e militante político) que conhece bem essas histórias. Ele disse que considera as informações de Guerra “muito consistentes, coerentes, não parece o depoimento de alguém que quer aparecer, mas de um homem que conhece profundamente a engrenagem da repressão”.
Em suma, o livro é “uma bomba”. Talvez, o mais importante documento sobre as execuções e os desaparecimentos ocorridos durante a ditadura. Tudo precisa ser apurado, checado. Mas Guerra fornece um roteiro completo sobre a barbárie praticada em nome do Estado e do regime militar.
Esses são os militantes de esquerda que, segundo o depoimento de Guerra reproduzido por Tales Faria no IG, tiveram os corpos incinerados na usina de Campos (RJ):
João Batista e Joaquim Pires Cerveira, presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury;
Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva, “a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”;
David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena MelloJosé Roman eLuiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes históricos do PCB;
Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).
Guerra assume que foi dele a idéia de usar o forno da usina – pertencente a um vice-governador do Rio, anticomunista ferrenho – para queimar os corpos. E fala de outras execuções, tiros de misericórdia, torturas chocantes…
Guerra também diz que o delegado Fleury – torturador conhecido, oficialmente morto num acidente de barco já na época da “Abertura”- foi executado por decisão da chamada “Comunidade de Informações”. Conta detalhes da reunião em que se decidiu a morte de Fleury (claramente, uma “queima de arquivo” – como sempre se suspeitou) e diz quem estava presente ao encontro.
O depoimento é terrível, mas fundamental para contar a História da ditadura e de seus crimes. O ex-delegado Guerra está sob proteção da Polícia Federal, mas poderia prestar esclarecimentos à Comissão da Verdade que Dilma promete instalar.
O Brasil está diante de crimes bárbaros, inomináveis, praticados por gente que agia sob o comando do Estado. Crimes narrados em detalhe.
Alguém ainda acha que instalar a Comissão é “revanchismo”? Ou um “exagero”?

domingo, 6 de maio de 2012

Espírito Santo

Pequena reflexão sobre o Sagrado Espírito e sua manifestação.
Precisamos ser e não ter. Não podemos nos definir pelas posses, pelo reino da utilidade (inútil para nossa felicidade!), mas pelo ser! Todos concordamos com esta frase, mais uma que foi alçada à unanimidade. Ouvida por mim inúmeras e inúmeras vezes. Mais um chavão, uma frase de efeito e bonita que parece dizer muito, mas normalmente nada ou muito pouco significa de concreto, de real, de compromisso com o outro, com nossa vida real.
Este homem em busca do ser ou de ser acabou por perder significado ou mesmo em apontar para uma espiritualidade abstrata que chega a desprezar a história, a matéria, a corporalidade, o encontro com o outro como o espaço privilegiado da Revelação.
Somos feito a imagem de deus, pois é nesta imagem que O revelamos. Somos seres de encontro, de relação. Toda nossa formação humana – ética, pessoal, afetiva, profissional – depende de nossas relações, como somos vistos, olhados, amados, tocados. Hoje, porém, nos encontramos principalmente movidos por interesses – econômicos, sexuais, de prazer banal e passageiro, do encontro no desencontro fragmentado de papéis sociais ou do imperativo estético. Este prazer é fugidio, instantâneo e deve ser seguido por outro e outro e mais outro, sugar seu tempo, seu bolso, tua mente, sua vida. De necessidade em necessidade, de desejo em desejo vamos nos esvaziando, tornando-se o nada, caminho seguro para a depressão, para a dor, para o sofrimento.
Ocorre, porém, meu irmão e minha irmã, que tua vida, teu corpo, teu olhar é e deve de fato manifestar-se como um culto, uma celebração festiva e alegre que se realiza na gratuidade do sacrifício, da entrega.
Michel Amaladoss, no livro Rumo à Plenitude, diz:
Mas uma vez que o individuo se decide a fazer o bem, sua ação é originada e enriquecida pelo poder divino, de forma que a plenitude de vida a lhe fluir não é sua, mas de Deus. Santo Inácio de Loyola tem uma máxima que bem ilustra o mistério. Ele diz “faça todas as coisas como se dependessem de Deus e ore como se isso dependesse de você”. Poder-se-ia esperar justamente o contrário dessa frase, ou seja, “faça todas as coisas como se dependessem de você e ore como se isso dependesse de Deus”. Mas Inácio tem uma concepção interessante. Devemos fazer tudo como se não estivéssemos nós mesmos agindo, mas Deus agindo em nós. Por isso, devemos estar abertos e disponíveis a Deus. Mas devemos orar como se tudo dependesse de nós. Conhecendo quanto somos fracos, procuraremos nos entregar a Ele. O resultado de ambas as ações é mostrar a prioridade da ação divina, mesmo quando colaboramos livremente.
Devemos deixar que Deus dirija nosso olhar, nossos passos, nossas vidas. Os méritos não são nossos, devemos reconhecer nossa pequenez, nossa fragilidade, a morte que pode nos alcançar a qualquer tempo. É Deus quem age. Apenas ele possibilita, pela graça, que permanecemos fiéis a Ele, a Seu serviço. Mas devemos orar para que ele nos de força de, a cada dia e pela eternidade, ter força de nos reformar para em tudo e em todos os encontros revelar o Senhor da Vida. Precisamos orar, precisamos do silencio para nos capacitar a sentir Seu Sopro, Seu Espírito, Sua Voz. Precisamos estar aberto ao silencio e ao outro para ouvirmos Suas instruções, seus caminhos. E, sempre e sempre, nos entregarmos – capitularmos mesmo – em seus amorosos braços.
Outro dia ouvi uma música, inclusive bonita e tocante, que dizia que o Espírito reside no ouvinte. Discordei e sigo discordando. Jesus fala que o Espírito acontece e vem quando temos duas ou mais pessoas em Seu nome - na Presença Dele, em sua experiência – reunidos. Podemos, sim, ouvir Sua voz, mas certificados, mergulhados, vivificados pela e na comunidade. É no espaço e no encontro de amor que Ele se expressa e manifesta, portanto o outro é o veículo privilegiado para Seu encontro. Não sou dono dele, longe de ser tão santo, de ser tão digno, tão prepotente, tão grande. Preciso da comunidade para me fazer entrega me fazer amor, para sentir e viver em Sua Presença – inclusive Eucarística e de partilha. Preciso também da comunidade para ser lapidado, cortado, corrigido, interrogado, aperfeiçoado. Sem comunidade não há cristão, e, mais do que isto, não existe espírito santo manifesto. A Bíblia, vejam bem, assim o diz.
Precisamos afetivamente, socialmente e profissionalmente do outro, inclusive para nos desenvolvermos em nossa humanidade amorosa que caminha inexoravelmente para a entrega absoluta – a morte.
Precisamos ainda mais do outro e da comunidade para que Deus se revele, para ouvirmos Sua voz e na resposta orante respondermos seu sopro suave e doce com a pequenez de nossa vida. Mesmo um monge eremita precisa do silencio acolhedor do olhar dos monges de sua comunidade orante, dos momentos de oração coletiva.
Creio que é por isso que Jesus fala de seu seguimento como entrega de tudo, de sua própria vida – e Ele mesmo o fez – para a salvação. Nesta entrega, nestes encontros verdadeiramente salvífico e definitivos, percebemos Sua presença, mergulhemos em seu Amor e, quem sabe, soltemos centelhas que possam contagiar, tocar, abraçar, cariciar um coração e também o enfeitiçar. Feitiço de amor.
Que me fez ser seu.
Amém.