APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 18 de agosto de 2012

Politica de alianças


Política de alianças: entre a necessidade e os limites

Terça-feira, 14 de agosto de 2012 - 21h08min
A campanha eleitoral deste ano está nas ruas. Perplexa, a opinião pública assistiu às alianças partidárias feitas para as próximas eleições municipais. A revista IHU On-Line desta semana discute a necessidade e os limites, também necessários, das alianças políticas. Contribuem no debate Luiz Werneck Vianna, Roberto Romano, Renato Janine Ribeiro, Maria Victoria de Mesquita Benevides, Marco Aurélio Nogueira, José Antonio Spinelli e Jairo Nicolau.

Dá para pensar a política eticamente sim ou não?
Para Renato Janine Ribeiro, a questão de os partidos não terem exatamente uma identidade indica o fato de que uma boa parte do eleitorado também não tem
Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin
Antes de analisar a conjuntura política atual, é fundamental que se entenda um pouco das bases teóricas e fundantes de nosso sistema político, partidário e eleitoral. E esta é a contribuição que o filósofo Renato Janine Ribeiro oferece na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line. Em sua percepção, temos um sistema no Brasil "em que dois partidos estão firmes, correspondem a anseios, desejos, projetos. Esses dois partidos são os líderes da política brasileira, um de cada lado: o PT e o PSDB. Há 18 anos esses dois partidos se alternam no governo federal. São partidos que expressam algo". Ao argumentar sobre a complexidade do conceito de política, Janine Ribeiro aponta que "uma característica atual muito forte da maneira de pensar a política é vê-la de forma indecente. Há um descontentamento ético hoje com a política democrática e talvez esta seja a principal decepção popular com a política, o que nos impõe um grande desafio em nossos dias: dá para pensar a política eticamente sim ou não?". O professor também reflete sobre os rumos de PT e PSDB e sobre a subordinação da política à economia: "vejamos o governo Lula: foi um governo de distribuição de renda, mas não de redistribuição de renda. Não foi um governo que tirou dos ricos para dar aos mais pobres, o que seria inteiramente lícito. Foi um governo que conseguiu, com o aumento do PIB brasileiro, dar uma parte maior do que foi aumentado para os mais pobres. Mas não houve um enfrentamento do capital. Nesse sentido, podemos dizer que até 2002 havia mais partidos e políticos no Brasil enfrentando o capital do que temos hoje".
Professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne, Renato Janine Ribeiro tem se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a ideia de revolução, a democracia, a república e a cultura política brasileira. Entre suas obras destacam-se A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2000) e A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes (Rio de Janeiro: Campus, 2003). Renato Janine Ribeiro é desde 2004 diretor de avaliação da Fundação Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior, órgão do Ministério da Educação).

As alianças políticas, absolutamente necessárias, e seus limites
Werneck Vianna defende que as alianças feitas no presidencialismo de coalizão não servem para que uma determinada orientação seja posta em prática, ou um determinado programa se viabilize, mas apenas para garantir maioria parlamentar para o governante
Por: Graziela Wolfart
Na visão do sociólogo Werneck Vianna, a ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. "Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade. Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe". Na entrevista que concedeu por telefone para a IHU On-Line Werneck afirma que o sistema partidário brasileiro "não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira". E constata: "estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados".
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012) (mais informações emhttp://bit.ly/IVmpmg).

"Somos absolutistas anacrônicos. Vivemos sempre sob o regime do favor, dos privilégios, da não república"
Para Roberto Romano, alianças importam, em qualquer hipótese, na luta pelo poder. Mas se elas impedem as mudanças propostas no programa partidário, "temos o realismo de fancaria que sequer merece o epíteto de maquiavelismo"
Por: Graziela Wolfart
Segundo a reflexão do professor da Unicamp, Roberto Romano, "nossos partidos políticos seguem o interesse maior dos líderes nacionais e regionais. Eles julgam não ter explicações a dar para a militância de base. Numa reforma política verdadeira, algumas determinações seriam estratégicas, como a proibição de líderes ficarem nas direções por mais de quatro anos, a exigência de consulta primária aos eleitores dos partidos quando das eleições (escolha dos candidatos, alianças, etc.). E nada falamos, por enquanto, das máquinas eleitoreiras, os partidos ditos ‘nanicos'. Eles são propriedade privada de um ou dois políticos e se vendem (na verdade, vendem seu minuto de propaganda gratuita) em troca de cargos, favores, etc.". Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Roberto Romano acrescenta que a "dita burguesia progressista sempre decepcionou as esperanças dos seus aliados: ela sempre optou pelo lucro, pelos golpes de Estado, pela ruptura com a tênue democracia. A lição de 1964 cabe no quadro. No interior do partido ‘revolucionário', pobre de quem se levantasse contra a política ‘realista' de alianças!". Para ele, as "alianças ‘pela governabilidade' assumidas pelo PT (Sarney, Lobão, ACM e agora Maluf) adiaram, sem prazo de recomeço, a luta do petismo pela justiça no Estado e na vida social". E sobre a foto de Lula com Maluf, um símbolo recente da política de alianças em nosso país, Roberto Romano dispara: "Temos nos dois elementos o retrato impiedoso da prática realista". E conclui: "o resultado está na foto: venceram os contrários ao ‘principismo', ou seja, os alérgicos aos valores éticos, programáticos, socialistas, etc.".
 
Roberto Romano cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS, na França, e é professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979),Conservadorismo romântico (2ª ed. São Paulo: Ed. Unesp, 1997) e Moral e ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: Senac Ed., 2002).
Eis a página em que está a entrevista..

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