APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

domingo, 30 de setembro de 2012

Neoliberalismo


NEOLIBERALISMO

O neoliberalismo deseja surrupiar a esperança do coração dos homens e mulheres, e, se possível for, mata-la de forma inexorável. Pretende, entretanto, ir além: entronizar o Deus mercado, o Todo Poderoso.
A esperança, amiga e parceira da utopia e das lutas para traduzir o sonho de um mundo justo, saudável e digno para todos. Um mundo humano, enfim. Um mundo onde a natureza tenha vez, sem ser transformada em comodities.
Os pensadores do neoliberalismo, Hayek e Popper entre eles, sustentam que qualquer tentativa de estabelecer um planejamento que regule ou intervenha no mercado, que proteja as relações entre desiguais implica numa centralização do poder. Toda e qualquer coisa que cheire a socialismo, cabal e definitivamente derrotado com o fim da URSS e do “socialismo real” do leste europeu e da África cheira a utopia de uma sociedade sem relações mercantis. E esta utopia é irreal, nefasta e impossível de ser realizada, pois não é possível ter um conhecimento perfeito das forças sociais envolvida no fluxo de mercadorias, produtos e serviços. Irrealista, portanto irracional e o resultado é o caos, a destruição e a tirania. E aí a liberdade e a democracia estariam em risco.
É preciso, especialmente após a derrocada da URSS, garantir e deixar claro que o Deus Mercado é o senhor da vida – e da morte – e das relações humanas. O “restolho” - Cuba, Venezuela, Irã, Bolívia e Equador – há de ser eliminado com tempo, isolamento, pressão financeira e política ou mesmo armas e golpes de Estado, explícitos ou não, como ocorreu no Paraguai.
A sociedade é e deve ser regulada pelo mercado e este está interligado e globalizado. É ele o único instrumento capaz de organizar a precariedade das relações sociais e mercantis. Ocorre, porém, que apesar de propugnar que o planejamento socialista ou estatal é impossível e autoritário ele considera que é possível (onde, como?) pelos mecanismos de mercado – oferta e procura, egoísmo e concorrência. Uma concorrência que seria perfeita mas que ocorre, necessariamente entre desiguais. O mercado funciona na medida em que esta em equilíbrio e o equilíbrio acontece quando e apenas se o deixarmos agir sem qualquer regulação ou limite.
 Mesmo que isto cause exclusões sociais e dramas humanos, ameace a vida ou a natureza, tudo em nome da racionalidade liberal burguesa que rege a única realidade possível – para eles, os donos dos meios de produção e do poder. Ocorre que de nenhuma forma estas questões são explicitadas, já que as forças sociais envolvidas estão alocadas de forma desigual, já que o desemprego estrutural garante um exercito de “marginais” a serem aproveitados – explorados e aviltados seria melhor dizer.
Em toda discussão neoliberal os conceito chave adotados são desenvolvimento, crescimento do PIB, dívida, déficit fiscal etc. Em nenhum momento são de fato discutidas as reais e objetivas condições de vida – e morte de grande parte da população, respeitadas apenas como consumidores.
Para Hayek o homem – visto de forma realista – é egoísta e apenas o mercado permite a regulação entre desejos, necessidades, oferta e procura. O mercado passa a ser um ser milagroso que possui em si a capacidade de regular a vida e aperfeiçoar a divisão de recursos , humanos e materiais, ainda que muitos venham a fenecer por conta disso.
Todo e qualquer desequilíbrio econômico ou social deve ser enfrentado de frente, rompendo com qualquer medida que vise regular o mercado. Assim é que o capitalismo se reinventa, adotando um rigoroso esforço: rigoroso equilíbrio fiscal, para pagamento das dívidas contraídas; programa de reforma administrativa , previdenciária e fiscal, para diminuir a prestação de serviços e gastos estatais e “desonerar” o Estado; flexibilizar as relações de trabalho; a privatização de estatais e do serviço público com o consequente aumento de preços assim como a abertura do mercado para as empresas transnacionais. Evidentemente o direito de propriedade é intocável, mesmo o latifúndio improdutivo e a desnacionalização do país.
Desnacionalização feita mesmo que ferindo a autonomia e a democracia liberal, como acabamos de ver na Grécia, onde os gestores de sua economia foram indicados pelos c redores, a despeito dos desafios e necessidades da população.
Os gestores desta economia antipopular, entretanto, devem contar com a resistência crescente dos movimentos populares, até por falta de alternativas e pela própria luta pela sobrevivência, que acaba de organizar novas alternativas e caminhos, num caudal que insiste em alimentar a esperança.

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