APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Homilia, com pequenas modificações, feita na celebração do batismo de nosso Senhor Jesus, no segundo domingo depois da epifania na Paroquia Santa Cruz, em São Paulo


Isaias 61, 1-5   1Corintios 12, 1-11  João 2, 1-11
Homilia, com pequenas modificações, feita na celebração do batismo de nosso Senhor Jesus, no segundo domingo depois da epifania na Paroquia Santa Cruz, em São Paulo
Celebramos hoje uma festa solene, a festa do batismo de Nosso Senhor, o Cristo Jesus.
Os textos bíblicos de hoje falam – ou deveriam falar – de uma forma especial a cada homem ou mulher na face da terra.
O primeiro texto fala de um servo de Deus – Servo! Que promoverá o direito, que será colocado como aliança de um povo com Deus e luz para as nações. E mais> “para abrir os olhos aos cegos, para tirar os presos da cadeia e do cárcere ao que vivem no escuro. Muitas vezes hoje vejo alocado nos carros e discursos a frase “Deus é fiel”!” Óbvio que é uma verdade, mas o centro de nossas vidas deve ser pautado por nós servirmos a Deus, a seu projeto, às suas ordens, à seu caminho, expressos na figura, presença, vida, palavras e atitudes de Jesus. Jesus é o grande e obediente Servo e assim nós, humildes e fracos, também devemos ser.
Nossa igreja, a anglicana, nesse aspecto, é muito sábia. É ponto e local de encontro, espaço não de julgamento, mas de inclusão e amor, não de divisão, mas de diálogo amoroso, não de discursos fáceis, mas de posturas inovadoras e corajosas, que testemunham Sua presença entre nós. Ainda que alguns insistam em estar em luta por seus interesses e espaços eclesiais, em detrimento da coletividade, a estrutura e as posturas coletivas estão a testemunhar o acolhimento dos gays, negros, mulheres, japoneses, imigrantes.
Em Atos Pedro reafirma: Deus não faz diferença entre as pessoas, mas aceita quem o teme e pratica a justiça. E revela que no batismo Deus ungiu a Jesus Cristo com o Espírito Santo e com poder. Com poder, mas preste atenção, pois não se trata de um poder qualquer ou para fazer qualquer coisa ou para ter conquistas, vitórias ou compras, mas para praticar o bem e curar os que estavam dominados pelo diabo.
No Evangelho o povo estava esperando o Messias, o Salvador. Ainda hoje quantos estão a perambular doloridos, esmagados, deprimidos, desolados ou escravos de um prazer doloroso ou fulgaz, preso no instantâneo a consumir e consumir-se, a transformar-se ele também em mercadoria a venda, preso à atenção estética e a superficialidades.
Jesus foi batizado. O batismo de João era um batismo de conversão e perdão dos pecados. O batismo de Cristo, entretanto, é um batismo no Espírito. Um batismo em que o Espírito desceu sobre Ele na forma corpórea – bem concreta e visível. Deus se fez corpo, Deus se fez história, temos como saber como Deus quer que o sigamos e vivamos: temos Jesus, o Cristo, o Ungido, o Verbo que se fez carne, o Emanuel – Deus conosco.
O batismo, entretanto, é mais, muito mais, do que um ritual, implica assumir uma nova visão do mundo, um novo olhar, uma nova forma de vida em que assumimos e experimentamos o mistério e o ministério de Jesus, que dialoga e se relaciona com o sofrimento humano. A preocupação central em Jesus era aliviar o sofrimento humano. E isto se deve fazer presente na vida da comunidade, com encontro concreto e real de pessoas amantes e amadas que vivem unidas, partilhando o que tinham “segundo a necessidade de cada um”, na escuta da Palavra, na oração e na eucaristia. Se aceitamos hoje o batismo de crianças é porque entendemos que seu acolhimento na e pela comunidade cristã é o mergulho no Espírito e na experiência, na educação, no modo de agir de Cristo, testemunhado pela comunidade, em seguimento aos apóstolos e aos mártires Dele.
O batismo é a acolhida de uma experiência DE Deus, experiência do Amor.
Deixamos um detalhe do texto – pequeno mas, a nosso ver, importante a ser agora explicitado. Jesus foi batizado e ficou a rezar. Só então o céu se abriu e o Espírito desceu. Oração. Ponto de encontro, ponto de entrega, ponto de escuta, ponto central da vida cristã! Central, decisivo. É aí em que tudo se decide, onde nos alimentamos de Sua Palavra, a ser lida e meditada, onde fugimos do corre corre e podemos desenvolver a contemplação que nos permite ver a Deus em nossas vidas, ver a Deus no Rosto dos sofridos, ver a Deus fora das obviedades que nos permite enxerga-lo nos pobres, desvalidos, doentes, coxos, presos, nos fracos, nos frágeis. Porque Deus não nos ama porque somos bons, fortes, belos, mas a fragilidade dos homens e dentre estes os mais frágeis – podemos nos sentir em casa com todos os nossos inúmeros pecados em Sua presença amorosa e assim nos curar e transformar.
Experiência de Deus, não de dogmas, doutrinas, leis e códigos de conduta religiosos que em nada nos libertam. Experiência de Deus. De liberdade, de amor que nos permite chorar juntos, nos alegrar juntos, cantar juntos – em espírito e verdade, com todo o nosso ser!
Uma Igreja e uma experiência – pessoal, comunitária e social – evangélica, carregada de Boas Novas, que seja celebração do batismo – experiência com o Espírito Santo de Deus e um viver e reviver de nosso grande amor o encontro com Jesus!
Temos sido em nossas vidas testemunho de alegria e da força do encontro com o Senhor?
Será que temos refletido e vivido a experiência com Deus que nos salva, dá sentido e direção, molda nosso coração com Sua face e gera a “seiva” que alimenta nosso viver?
Que Deus nos abençoe, nos guie e nos guarde para que possamos re-conhecer Sua presença em nossa vida e sermos fiéis, eternamente, aos desdobramentos deste encontro.
Minas queridas, meus queridos, a Eucaristia é sempre missão. Jesus que vive entre nós e em nós na Eucaristia nos dá força para sair para o mundo e levar boas novas aos pobres, visão aos cegos de todo tipo e naipe, liberdade aos presos e proclamar e testemunhar Que Deus mostrou sua generosidade a todas as pessoas. Não vamos sozinhos, vamos com nossos irmãos e irmãs que também sabem que Jesus vive neles.
Ide e testemunhai a experiência com Deus entre os homens, sede a presença do Santo Espírito a soprar e a agraciar a vida de todos.
Amém.

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