APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Epifania

Epifania, dor e amor
Não é hoje que tecerei algumas ideias que tenho ruminado pelos dias sobre saúde e doença. A sedimentação se faz necessária com o tempo para que o texto se faça tecido protetor... Por ora, tangenciaremos o tema.
Nossa vida é uma verdadeira peregrinação em uma sucessão de caminhos, desafios e esperanças. Nem sempre, porém, seguimos na direção ao Centro, ao sentido e ao coração da existência.
Vivemos num mundo em que é valorizada apenas a racionalidade instrumental onde o que importa á a utilidade das coisas que fazemos e construímos. A dimensão humana é, porém, mais ampla, dinâmica, viva, lúdica. Amor não rima com utilitarismo – nem consumismo – mas com encontro de humanidades, olhares, fragilidades, entregas, quem sabe também com dor – que nos aponta nossa pequenez, efemeridade, fragilidade, abertura. O movimento, se é que dá para se chamar assim, New Age baseia-se numa piedade individualista e consumista (de objetos, magias e moda) e na satisfação imediata, em discursos sofisticados e vazios.
O cristianismo, segundo Frei Timothy Radcliffe OP no livro Por que ser cristão, convida-nos a uma liberdade e a uma felicidade especifica, que é a partilha da vitalidade própria de Deus.
Felicidade que brota da espontaneidade de agir e mover-se a partir de um coração simples e compassivo. Frei Timothy assim fala no referido livro:
“A verdade é simples, mas se essa simplicidade não passou pela complexidade da experiência humana, é uma simplicidade infantil, uma simplicidade estridente e desumana, não a simplicidade que vislumbramos indistintamente em Deus.”
O problema é que a Igreja, enquanto instituição, inclusive seus ministros e mesmo como Povo de Deus, normalmente confundimos (somos Igreja, não se esqueça) a verdade com dogmas e sistematizações sólidas, estanques, moralistas e imóveis, movidas por julgamentos e culpas.
O amor de Deus, a oferta Dele passa por uma pedagogia da liberdade que se dá em encontros de irmãos que, comunitariamente, constroem relações de amizade e intimidade.
Esta liberdade, que não se confunde com a liberdade (ou seria liberalidade) de se fazer ou consumir algo, mas de assumir a simplicidade de um coração amoroso e fiel à alegria de vivê-lo na complexidade do real, nos intercâmbios vitais com o Outro, que se faz presente no outro e nos poéticos e epifânicos encontros da vida. Uma liberdade assim dá espaço e se enriquece no encontro
com a diversidade e a alteridade, com o diferente e com as objeções e dificuldades que emanam do concreto.
A Igreja do Amor, do Cristo, independente da denominação a que pertença, é forjada aí numa dialética que assume e incorpora a realidade com seus dramas, incoerências e fragilidades, encontros de intimidade, afeto, solidariedade. É evidente que este encontro pessoal e institucional significa assumir a defesa da vida, em qualquer lugar onde esteja ameaçada, ofendida. Implica, portanto, uma atuação em prol da justiça social, deixando claro o tomar partido dos mais fracos, desprotegidos, oprimidos, impuros. . .
Movimentamo-nos normalmente por perguntas – anseios e desejos – haveremos de tecer este caminhar com doçura e paciência, prestando atenção às perguntas que fazemos, tema – quem sabe - de novos textos.

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