APRESENTAÇÃO

Textos e silêncios pretende ser um espaço reflexivo ecumênico, fundamentalmente voltado para a vida concreta das pessoas a partir de textos e livros, mas também do caminhar contemplativo e meditativo, da vivência amorosa e solidária dos que, de alguma forma, partilharam comigo suas vidas, dores, sofrimentos e esperanças. A eles - e a vocês - devo a minha vida, o olhar que desenvolvi de existência e a experiência cristã do encontro com o Cristo servidor que nos salva. A eles sou devedor, minha eterna gratidão.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Chavismo


Haiti por si_
01.02.13 - Mundo
Entrevista – Chavismo, guerra midiática e a lição popular que a Venezuela segue dando (Parte 2)
 
Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital
Indubitavelmente, no atual marco político e independente latino-americano, a Venezuela – através de seu presidente Hugo Chávez Frías – reacendeu a chama bolivariana no continente, no caminho da unidade pela qual tanto lutou Simón Bolívar. Em meio a um cerco midiático de oposição e os claros interesses das classes dominantes, a nação venezuelana segue dando exemplo de como se manter erguida contra a hegemonia injusta e opressora.Confira a segunda parte desta entrevista feita com o educador e analista político nicaraguense, Ricardo Zúniga, integrante da Rede Universitária de Pesquisadores sobre a América Latina, com sede no Ceará (Brasil), sobre a conjuntura venezuelana e sua importante repercussão para o mundo.

Adital - Na conjuntura política latino-americana, o que significa mais uma vitória de Hugo Chávez em eleições presidenciais na Venezuela?
Ricardo Zúniga - Em meio de uma confrontação de projetos de nação e de modelos de integração latino-americana a vitória de Chávez significa a continuidade do projeto bolivariano, que tem como uma expressão característica a consolidação de uma comunidade de nações na Alba, baseada na solidariedade, complementaridade e intercâmbio justo. Também implica um forte respaldo a processos de integração mais abrangentes: Celac, Unasul, e Mercosul, como espaços de afirmação da unidade e protagonismos latino-americanos.
Uma das contribuições mais importantes da Alba é que representa uma alternativa viável de integração latino-americana pensada simultaneamente em função dos projetos nacionais com a priorização das necessidades básicas das maiorias, e da autodeterminação da América Latina numa perspectiva realmente popular, solidária, anti-neoliberal, anti-imperialista e pós-capitalista. Ainda vivendo no metabolismo do capital, porém a perspectiva é ir construindo caminhos pós-capitalistas, no fortalecimento das economias comunitárias, da autossuficiência alimentaria, cuidado com o equilíbrio ecológico, da garantia do abastecimento energético aos países da America Latina.
Um aspecto marcante da cooperação exercida na Alba é que permite que pequenos povos empobrecidos de America Central e Caribe tenham acesso a creditos para seu desenvolvimento nacional, sem passar pelas condicionantes do
FMI e do Banco Mundial. Isto introduz uma diferença fundamental no continente.
Um elemento importantíssimo da continuidade da vitória chavista é o firme apoio ao povo cubano com projetos estratégicos para garantir e fortalecer o funcionamento sustentável da economia cubana.
Na presente cojuntura da enfermidade de Chávez, a direção política está trabalhando pelo fortalecimento de uma equipe do governo unido e fiel à inspiração do líder, na construção e defesa coletiva da revolução bolivariana. Ante uma previsível presença diminuída do presidente no território e, inclusive, ante uma ausência definitiva, se está dando um salto de qualidade com um funcionamento mais coletivo da direção e ênfase na participação popular a todos os níveis.
Adital - Há muitas manifestações populares e de solidariedade pela saúde do presidente venezuelano, que desde dezembro está em Cuba. O fato de não estar presente em sua posse acirrou os ânimos da oposição. Como o senhor vê a força da oposição neste momento?
Ricardo Zúniga - Efetivamente as manifestações populares em solidariedade com o presidente Chávez e a revolução bolivariana têm sido impressionantes, em diversas partes do mundo, inclusive em alguns países muçulmanos. Na América Latina, do México ao Chile e Argentina, assembleias de pessoas de boa vontade sentem Chávez como alguém próprio, e reconhecem sua grande contribuição à transformação da Venezuela e à integração e unidade latino-americana.
Ante a impossibilidade do presidente reeleito, de tomar posse na data indicada pela constituição, grupos de oposição pretenderam interpretar a ausência do ritual da posse, como um rompimento da ordem constitucional, o que resulta falso, já que a própria Constituição Nacional prevê em situações de força maior, por eventos ‘sobrevindos’ que o presidente pode tomar posse posteriormente ante a Corte Suprema de Justiça.
A oposição também divulgou que havia enfrentamentos no interior da equipe superior de governo, especialmente entre o vice-presidente [Nicolás] Maduro, e o presidente da Assembleia Legislativa. Na realidade, a equipe do governo está trabalhando de maneira harmoniosa, cumprindo cada um suas próprias funções legalmente estabelecidas.
O problema é político, não jurídico. Chávez e seu partido triunfaram nas eleições por uma inquestionável maioria. O fato de não comparecer à cerimônia de posse, não invalida a vontade popular. A Corte Suprema da Justiça tem considerado que o presidente reeleito exerce seu mandato com a equipe de governo que ele confirmou, no marco legal, depois de ser releito. Também estabeleceu que o ritual da posse pudesse se efetuar posteriormente, quando tenha condições apropriadas de saúde.
A oposição na Venezuela mostrou uma força considerável nas recentes eleições de 7 outubro nas que seu candidato presidencial, Enrique Capriles, contou com mais do 44% dos votos. Mas na presente cojuntura tem certo enfraquecimento. Já nas eleições para governadores (16/12/12), o PSUV, o partido de Chávez, se impôs em 20 dos 23 estados que conformam a federação. Além disso, por defender um projeto neocolonial, que beneficia as grandes corporações transnacionais, na medida em que se aprofunde num debate político sério e criterioso, e aumente a consciência política dos empobrecidos, é previsível uma maior fortaleza do chavismo.
Por outra parte, neste momento, a oposição está dividida enquanto à estratégia a seguir. Uma parte pretende desconhecer a legitimidade do atual governo, já o grupo de Capriles, numa atitude mais lúcida, aceita o veredito da Corte de Justiça. Eles estão conscientes que, em caso de uma desaparição física do presidente, se houvesse que convocar novas eleições em curto prazo, seguramente o triunfo seria novamente do chavismo. Finalmente também estão ativos os setores extremistas e criminosos. Órgãos de inteligência venezuelana denunciaram ter descoberto planos para assassinar ao vice-presidente Maduro e ao presidente do poder legislativo Diosdado Cabello.
A debilidade estratégica da oposição é que dificilmente pode apresentar um projeto credível, que supere a proposta bolivariana que vem mostrando consistência, consequência e ganhando crescente credibilidade por mais de 12 anos, e por outra parte, sua dependência das orientações e ajuda da política externa dos Estados Unidos.
Adital - Populista para uns e popular para outros. Em que pontos o governo e presidente Hugo Chávez se diferencia de outros líderes da América Latina? Até que ponto pode-se dizer que ele redesenhou um novo olhar voltado para os países latino-americanos, sobretudo partindo dos países ditos desenvolvidos, considerados grandes potências econômicas e políticas?
Ricardo Zúniga - Penso que o conjunto das políticas sociais implementadas na Venezuela são autenticamente populares. Tem sido estratégicas e duradouras, em modo algum são ações oportunistas visando eleições. São ações tendentes a erradicar a miséria, a atingir um desenvolvimento econômico sustentável. Trata-se de pagar a histórica dívida social acumulada em décadas por uma estrutura econômico-social, que manteve na miséria a mais da metade da população, em meio de um mar de riquezas acumuladas por classes dominantes parasitárias e "vende-pátria”.
O projeto bolivariano trabalha coerentemente contra a desigualdade, a pobreza, a marginalidade social, não apenas na Venezuela. Essa luta é visível nos países da Alba e em outros países empobrecidos em nossa América, basta assinalar a exemplar ajuda que a Venezuela, em conjunto com Cuba, oferece ao povo haitiano. Muito maior em termos proporcionais à dos países do G-8, com métodos coerentes e visando à restituição a esse povo dos recursos naturais historicamente saqueados e empobrecidos por dívidas injustas. Mas principalmente visando a restituição de sua dignidade.
Com certeza o processo bolivariano tem contribuído substantivamente para criar nos povos latino-americanos um novo olhar, que supera as visões coloniais e neocoloniais, para instaurar uma atitude de povos que resgatam desde sua história, sua dignidade para construir um projeto próprio que atenda às necessidades e interesses de suas grandes maiorias. É muito difícil falar em diferença de Chávez com outros líderes latino-americanos. Mas posso apontar uma: Chávez e sua equipe próxima têm uma profunda vocação bolivariana o que significa, entre outras coisas, uma atitude de profunda disponibilidade a partilhar os grandes recursos naturais da Venezuela e de saber pensar em função da grande pátria latino-americana.
Confira a primeira parte desta entrevista em http://www.adital.com.br/?n=chwe

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